sábado, 21 de julho de 2012

Uma carta para T...

Você disse que viria num sábado. Não sei quantos sábados se passaram e quantos ainda virão até sua chegada. Você, pássaro-hippie, pouse na minha ilha, numa manhã na qual os acrobatas estarão pelas ruas imitando balões de alto voo. Se vieres à tarde, chegue quando o tráfego diminui e o levarei ao bairro marinheiro para vermos os navios iluminados, quando o ar fosco espera a noite chegar com aquele cheiro cansado de fim de dia, poeira, fumaça, do sol fugindo de calçadas e muros. Ou venha na noite, desde que seja sábado, desde que na praça fiquemos soltando nossas almas, olhares, fogos de artifício para os ares cruzando com os acrobatas-balões da manhã que ainda estarão lá, e, seríamos eles, seríamos pássaros, estrelas, objetos não identificados no céu da cidade.
Você disse que viria num sábado. Desde então os outros dias da semana perderam importância, aos sábados tenho sobressaltos desde o amanhecer, porque busco-o no toque do telefone, num avião cruzando os céus, na campainha da porta quando chama inabalável e forte, numa buzina de um carro na rua... Na madrugada quem sabe você ainda chegará, justamente naqueles momentos que a solidão se insinua de mansinho num poema, numa música, num filme, num canal de tevê, no escuro do quarto? No escuro do quarto quero brilhar com você, virar Cheshire ao contrário, o gato de Alice, ser só sorrisos sem me desintegrar. Brilhando e rindo, não serás mais pássaro-hippie, seremos felinos-felizes nas noites quentes de algum bar; em manhãs ensolaradas à beira-mar de algum litoral; nas tardes preguiçosas que abraçados dormiremos em redes e camas e sofás...
Você disse que viria num sábado. Mas não quero ser feliz apenas aos sábados, com você quero dias úteis, feriados e fins de semana. Desde o sábado no qual disse que viria, tenho taquicardias, ou são suas asas, pássaro-hippie, anunciando sua chegada, pousando concomitantemente com a esperança no meu coração?
(by, franck)
(imagem: internet)

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Quem é você quando ninguém está olhando?

Ele me disse que tinha quarenta anos. Que nos fins de semana, quando ninguém o via e ele se isolava no seu mundinho, ficava sem tirar a barba, por isso aquela barba de dois dias. Que andava sem roupas pela casa. Gostava de zapear canais de tevê, devorar livros de suspense, ouvir Tiê, Marcelo Camelo, Pato Fu. Que comia doces em excesso e pedia comida delivery. Que escrevia poemas, contos e cartas de amor, talvez para amores inexistentes. Dormia tarde. Acordava cedo. Que às vezes ficava bêbado de vodca. Fumava maconha. Tinha muitos pesadelos e poucos sonhos. 
Ele me disse que tinha quarenta anos, mas se passava por um cara de vinte. Me chamou para nos masturbarmos  pela webcam, numa sala de bate-papo, que ninguém nos veria e nem saberia quem éramos. 
(by, franck)     

terça-feira, 3 de julho de 2012

(Para ler ouvindo 'Cajuina', com Caetano Veloso)


P/Lêda, Chicão & Silvana

O dia chegou mansinho naquela sexta-feira de junho. A nossa euforia era visível quando nos encontramos no início da manhã, nas nossos rostos insônes e na perspectiva de nossa viagem ao litoral do Piauí. Dias antes tinha escrito sobre como a felicidade me visitou em três momentos diferentes, e, mais uma vez concluir que a felicidade podia ser um convite para viajar na companhia de amigos, na cumplicidade estabelecida, na simplicidade das pequenas coisas.
Simplicidade foi a pauta nos três dias que permanecemos juntos, porque fomos em busca dela voluntariamente, porque a sensação de liberdade fazia jus com aqueles momentos e o lugar. Como descrever o lugar? Ou melhor, os lugares que passamos, vimos, paramos, ficamos? Indescritível, seria o termo. Mas como não mencionar o verde do mar? A rusticidade da pousada que ficamos? As cidades bucólicas? As praias? O céu azul? A cidade histórica com suas ruas pacatas, praças arborizadas, barzinhos e lojas? As paisagens lunar nas noites de idas e voltas à pousada? Os risos frouxos? As conversas? As músicas de Ednardo como trilha sonora? As tardes preguiçosas?... Poderia enumerar tantos momentos, fatos, situações acontecidas em detalhes, mas tudo e todos são preciosos, por isso, me retenho ao aconchego de estar com amigos, a felicidade da simplicidade, os momentos únicos; que fantasiamos querermos sempre uma vista daquele mar, uma pousada para chamar de nossa, como sempre dissemos querer uma casa no campo e com ela os amigos, discos, filhos e muito mais...
Nem tínhamos voltado e já decidíamos viajarmos outra vez, em janeiro, de carro, até o Ceará, para novamente buscarmos os sabores, cores e cheiros de outros dias, outro mês. Buscarmos a felicidade, porque ela existe, como agora, neste fim de tarde de sábado, uma semana após aquele encontro, ou reencontro, não sei. Só sei que a felicidade me visitou mais uma vez, ela chegou nostálgica dessa vez, é verdade, numa canção de Ednardo, na cajuína que foi presente nesta viagem e a qual bebo aos pequenos goles.
Quando Ednardo silenciou, quando tomei toda a cajuína, coloquei Caetano Veloso no aparelho de som a me perguntar: 'existirmos, a que será que se destina'? Penso que talvez para saber que a cajuína seja cristalina, para que a matéria viva, tão fina, não turve nossas felicidades nordestinas.

(by, franck)
(imagem: franck)

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

EU...

Minha foto
São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...