sábado, 21 de fevereiro de 2015

Vórtice

Quis umas tardes com você para caber no mar, quando os portos não tivessem navios, mas pontos de silêncio e solidão.
Umas tardes que nos levasse para onde o vento soprasse, como um vórtice. Um móbile. Pipas.
Nas tardes que quis com você poderíamos vestir nossas roupas brancas. Implodir rochas de corais. Irromper nas superfícies. Deixarmos os vazios que carregamos no abissal.
Quis umas tardes com você para caber no mar. Em alto mar, restaram minhas cinzas como uma anêmona e seus tentáculos.
Você ainda prefere nas tardes o fogo e aquele piano tocando na casa ao lado da sua umas canções que não terminam nunca.
(by, franck)
(imagem: net)

Quando as petúnias florescem

Parece que foi ontem que cada passo era um risco, mas caminhar de mãos dadas era bom. As petúnias secavam no varal de um quintal, tinha vento, era uma terra estrangeira e sementes voavam pelos ares.
Era verão, o sol sumia após às vinte horas e as petúnias viravam estrelas e nossos corações pareciam metal e argila. Entre um passo e outro, entre um descompasso e outro dos corações, as sementes floresceram num dia no qual gritei alegrias anunciadas, como um afogado regressando à tona da água.
Parece que foi ontem, mas faz tanto tempo que não mais encontro suas mãos e o meu coração é compasso, as petúnias viraram jardins e agora sei diferenciar o gosto da chuva e do choro.
(by, franck)
(imagem: net)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Clarice e os cães

Na manhã que Clarice perdeu seus cães, ninguém sabe o que aconteceu com ela naquela manhã. Uns dizem que ela esperou no quintal que o dia amanhecesse, com os cães ao seu lado. Depois, como um soldado, fez sentinela no portão de casa esperando trazerem uma encomenda; contam que nessa encomenda tinha botões, rendas, flores, seda, veludo e cetim; que sentada ao lado de uma grande janela, vento no rosto, costurou e alinhavou fios, linhas e tecidos, que colorida e esvoaçante foi à feira do bairro e cheirou ervas e grãos, comprou pães, peixes, rações e adubos.
Na manhã que Clarice perdeu seus cães, ninguém sabe o que aconteceu com ela naquela manhã. Uns dizem ser testemunha ocular que por onde ela passou sentiram um cheiro de rosas, que seus cães fizeram um escarcéu quando a seguiram na feira, e, ela ria num cruel divertimento. Dizem ainda que nessa mesma manhã ela foi na estação ao encontro de um homem de terno azul e óculos escuros, que o viu partir sentado numa janela do lado esquerdo do trem dando adeus com um lenço branco enquanto seus cães latiam como incentivando a despedida.
Na manhã que Clarice perdeu seus cães, ninguém sabe o que aconteceu com ela naquela manhã. Uns dizem que após ela sair da estação de trem foi vista bêbada caminhando pela cidade e falando com os seus cães e outros bichos, com pássaros, árvores e jardins. Que se encaminhou ao mar e nele entrou e os cães farejavam o ar, rosnavam, latiam e sentaram a esperá-la. Alguns surfistas comentaram que Clarice ao adentrar no mar deixou de ser humana e tornou-se uma gaivota, outros que foi uma tartaruga marinha e uns pescadores contam que viram ela se transformar em sereia, talvez Iemanjá.
Na manhã que Clarice perdeu seus cães, ninguém sabe o que aconteceu com ela naquela manhã, mas com os cães uns dizem que nunca mais voltaram para casa, continuaram sentados à beira mar, esperando Clarice. Numa dessas manhãs que já duram dias, meses e talvez anos, um banhista madrugador contou que viu uma moça sair do mar e afagar os cães, enquanto eles abanavam as caudas, latiam e rosnavam, como naquela manhã que Clarice perdeu seus cães.
(by, franck)
(imagem: net)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Se...

Se alguém perguntar por mim, diz que voltei a trabalhar oito horas por dia e que tenho dormido e acordado cedo. Que tenho andado a pé, de táxi e de ônibus, que um dos problemas da cidade é a mobilidade urbana e os engarrafamentos daqui são quilométricos.
Se alguém perguntar por mim, diz que tenho ido à médicos como um cardiologista,infectologista e uma nutricionista. Que tenho suspirado muito nas esperas dos consultórios, dos laboratórios e dos exercícios físicos. Que não ando comendo pão, macarrão e massas em geral, mas tenho tomado um pouco de vinho, suco detok, lendo muito e escrevendo pouco.
Se alguém perguntar por mim, diz que agora tenho mania de tirar fotografias das pessoas nas ruas, nos cafés e livrarias. Que tenho cada dia mais vontade de escrever um romance, mais poemas, um diário, mandar postais, escrever qualquer coisa e pode ser no quarto mesmo, num banco de praça, na varanda de casa numa manhã luminosa como a de hoje, apenas para não perder o hábito da escrita.
Se alguém perguntar por mim, diz que continuo apaixonado. Casado. Diz que tenho planos de viajar no carnaval, páscoa e todos os feriados prolongados. Que tenho encontrado amigos em almoços de domingo. Que me desapeguei de alguns livros e revistas, mas tenho ido ao cinema nos fins de tarde.
Se alguém perguntar por mim, diz que tenho comprado muitos livros, cds, bananas e camarões. Diz que estou tentado a cometer todos os pecados possíveis como esquecer a dieta, algum dia de folia no carnaval, esquecer os mapas, cronogramas, o perfume, os documentos, comer pizza numa noite de sábado, tomar sorvete, passar um dia ao sol à beira mar.
Se alguém perguntar por mim, diz que vou voltar!
(by, franck)
(imagem: net)

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

EU...

Minha foto
São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...