tag:blogger.com,1999:blog-78801342907400832002024-03-12T18:53:20.710-07:00sob zero grau do signo de libra..."a lua completa mais de uma volta pelo zodíaco. E o anjo pálido troca o mel pelo sal"... (Caio F. Abreu)Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.comBlogger373125tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-39547339233257326742020-01-02T05:16:00.001-08:002020-01-02T05:16:11.659-08:00Fumamos cigarros imaginários
Regamos plantas artificiais
Somos um casal que não existe
Como numa peça de Henrik Ibsen?
Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-57611468167731918552019-10-03T05:27:00.000-07:002019-10-03T05:27:28.525-07:00Agora
Agora penso em aposentadoria.
Agora tenho menos amigos.
Agora moro sozinho.
Agora eu tento parar com a coisa que eu mais gosto de fazer: comer doces.
Agora tenho outros anseios e traumas e desejos e planos.
Agora já conheci desertos imensos e a solidão não é mais uma inimiga e sim uma amiga que me visita no escuro do quarto, num
poema,numa música, num filme. Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-40583286532061290922018-08-18T05:38:00.004-07:002018-08-18T05:38:58.411-07:00Sobre bichos e coração
Estive ocupado rastreando pistas/
Nos cabelos do filósofo de olhos tristes /
No verde-claro do dorso de um louva-deus /
No canto onipresente de grilos e cigarras/
Em envelopes fechados que não chegaram aos seus destinos/
Nos fios dos postes recobertos de sal e pássaros./
Rastreei pistas/
Escrevendo sobre um viajante que não viajava/
Esperando saber de onde viriam seus vagalumes /
Cultivando cogumelos vermelhos que vieram em caixas hermeticamente lacradas./
Descobri/
Que podemos gostar de objetos inanimados /
Como é fácil se apaixonar por algum animal /
Que mil garças de papel conectados por fios se chama senbazuru /
Que jóias, frases e amores não podem ser replicados./
Rastreando pistas e meus movimentos /o próprio coração.Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-28623249581230163282018-08-18T05:36:00.002-07:002018-08-18T05:36:41.117-07:00
No dorso do esqueleto de uma baleia
A roupa do ambientalista gruda de sal e algas
seu relicário virou pátina
enquanto faz o inventário de peixes e da fauna marinha e objetos flutuantes nos oceanos
e descobre que no dorso do esqueleto de uma baleia
há o declínio das calotas polares
uma caixa de metáforas
e um maremoto se aproxima.
Acendo uma duzia de velas vermelhas para os orixás
acalmar os mares
e os homens.Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-12303517180872876272018-06-02T11:11:00.001-07:002018-06-02T11:11:43.269-07:00A delicadeza da morte
A delicadeza da morte
ronda os gatos que choram o mundo
nos olhos da mãe.
Etéreos, flutuam,
e a luz do Sol fura as cortinas
cospe fogo nas paredes
nos cantos da casa.
A noite explode na delicadeza da vida
um instante, abre a boca
na geografia dos felinos
e suas ausências.
Tulipas
Iansã
Nagô
Pássaros
dão as boas vindas
enquanto eles viram chorume
húmus
pó.Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-19350782544047471432017-02-16T06:21:00.000-08:002017-02-16T06:24:05.656-08:00InexistirAs pessoas morrem. Os gatos morrem. Os peixes morrem. Os mendigos morrem. Eu morro. Minhas tias morrem. As plantas morrem.
Antes começaremos a temer o escuro do quarto. As praças. As praias. A cidade. Os livros. As outras pessoas.
Restará a nostalgia de um tempo simples, como uma tarde numa cidade do interior, dois ovos dentro de uma chaleira cozinhando. De filmes norte-americano numa sessão da tarde e suas crianças esquecidas. Uma noite com cordel sendo lido.
Inexistir é a diferença entre fugir ou se afastar enquanto aos poucos vamos nos reduzindo a signo, holograma, diagrama?
A certeza que nos encontraremos em outra galáxia?
Existirá um dia que inexistiremos.
Todas as certezas se apagarão.
(by, franck)
(imagem: internet)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://1.bp.blogspot.com/-Acg5D9tAa0I/WKW1Ko5QoeI/AAAAAAAABPY/TcwS7TSl2s49XPs04Zth5h-YwGQTr9G4QCLcB/s1600/balan%25C3%25A7o.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-Acg5D9tAa0I/WKW1Ko5QoeI/AAAAAAAABPY/TcwS7TSl2s49XPs04Zth5h-YwGQTr9G4QCLcB/s320/balan%25C3%25A7o.jpg" width="320" height="214" /></a></div>Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-57541202045839311242016-12-02T06:38:00.001-08:002016-12-02T06:38:29.048-08:00Último verão<a href="https://4.bp.blogspot.com/-odGyLLSWCKk/WEGHVKWbV5I/AAAAAAAABO4/77wRZ3XDe7wkvg4HuAAKS_vecq3MvIn0ACLcB/s1600/sao%2Bluis.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-odGyLLSWCKk/WEGHVKWbV5I/AAAAAAAABO4/77wRZ3XDe7wkvg4HuAAKS_vecq3MvIn0ACLcB/s320/sao%2Bluis.jpg" width="320" height="213" /></a>
A última vez que estiveste aqui foi num verão
quando redescobrimos a cidade nos dias mais longos
e abacaxis apodreciam no calor do Hemisfério Sul
por toda a Ilha
enquanto lia poemas para você que sempre gostou mais de números e jogos.
O verão tatuou-se nas nossas peles naqueles dias e
um silêncio se instalou e deixava à vista a palavra amor
nos nossos olhos
dentro da varanda, na janela, nos lençóis
nas nossas roupas brancas
no pandemônio que a casa se tornou.
A última vez que estiveste aqui
o som parece ter ficado dentro das fotografias
nos cigarros que fumamos em cafés
nos poemas que não foram lidos
no telefonema que você não deu.
(by, franck)
(imagem:Ruy Barros)Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-57587457494629671482016-09-26T05:54:00.000-07:002016-09-26T05:54:11.641-07:00Estou vivendo no lado escuro da Lua<a href="https://2.bp.blogspot.com/-LK_cXfvbAJ4/V-kaZCFhQnI/AAAAAAAABOY/SbBrmOZaPfIcE-tIlEmAur6Fy30zIWWfwCLcB/s1600/lua.jpg" imageanchor="1" ><img border="0" src="https://2.bp.blogspot.com/-LK_cXfvbAJ4/V-kaZCFhQnI/AAAAAAAABOY/SbBrmOZaPfIcE-tIlEmAur6Fy30zIWWfwCLcB/s320/lua.jpg" width="320" height="219" /></a>
Tiraram o Sol do céu e estou vivendo no lado escuro da Lua. Tomo um drinque até ver o sol desaparecer além mar.
Mas as estrelas podem ser brilhantes nessa cidade também, mesmo que não seja tempos felizes para ninguém. Talvez para o dono daquele cachorro indo acrobaticamente atrás de um disco de plástico, para as crianças que se satisfazem com piruetas em suas bicicletas, patins e skates.
Drinques me deixam silencioso. Não confundam silêncio com força. Mas gosto do último gole, aquele que marca a fronteira entre a coerência e a confusão. Aquele que me deixa encapsulado da dor e da desordem da cidade cujo coração é um coagulo de vias expressas, avenidas mal iluminadas, subúrbios cheios de janelas exibindo flores de plásticos.
Explodiram um brechó aqui onde estou. Tocava Chopin, a garçonete me disse, como disse que não gosta desse tipo de música, que estraga seus ouvidos nordestinos. Pelos escombros e calçadas se encontra ainda tecidos feito à mão, gravuras rasgadas, jarros de vidros cheios de massas orgânicas...
Estou vivendo no lado escuro da Lua. Se a noite se estender muito ou a manhã começar antes da hora, poderei ver além dos escombros que tudo parou no horizonte. Que o dia desaparece atrás do viaduto. Que a primavera que não veio ainda espera na esquina para avançar entre ipês amarelos, rapazes usando sungas de praia, batons vermelho, camisetas manchadas e sandálias de dedo... Mas nada disso poderá salopar nossa masculinidade.
(by, franck)
(imagem, net)Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-80881107834449967602015-12-18T06:42:00.003-08:002015-12-18T06:42:59.523-08:00Anúncio Andei tricotando uns casacos, pregando uns botões, cerzindo umas meias.
Disseram que deveria colocar um anúncio 'costura-se para fora'. Mas acho que vou anunciar é que já posso casar.
(by, franck)Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-45242805092598315252015-12-18T06:39:00.003-08:002015-12-18T06:39:54.238-08:00Por quê?
Por quê eletrodomésticos queimam?
Por quê eletroeletrônicos dão pane?
Por quê lojas não entregam as compras no prazo previsto?
Por quê editoras não enviam os livros comprados?
Por quê amigos morrem?
Por quê amigos virtuais âs vezes também são chatos?
Por quê amigos convidam para uma reunião meia hora antes e acham que você está disponível?
Por quê peixes beta morrem?
Por quê jardins são dificíeis de serem cuidados?
Por quê alguns escritores se acham a oitava maravilha?
Por quê nem um pequeno prazer para salvar meu dia?
( by,franck)Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-58295626452653423112015-12-08T15:32:00.001-08:002015-12-08T15:32:22.586-08:00Os silêncios que viraram coisas<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Bebi seus silêncios. Os que você nunca foi capaz de romper. Por causa deles, uivava com os cães, caminhava os dias como explosivos.</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Bebia silêncios e seguia navios, aviões, bicicletas e transeuntes. Era eu aquele blues, aquele fado dolorido. Dentro dos seus silêncios fui descobrindo canaviais. Abelhas. O que era doce.</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Por isso, às vezes grito. Às vezes uivo. Às vezes feriado. Por isso, não há correios para enviar as cartas que escrevi dos</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"> seus silêncios.<br />(by, franck)</span>Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-43018771967127454472015-11-27T12:41:00.001-08:002015-11-27T12:41:53.638-08:00'Escolha o seu sonho'<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Outro dia encontrei num sebo um livro de Cecília Meireles que me trouxe recordações de um tempo que meu pai ao acordar de manhã contava seus sonhos da noite anterior. Eu tinha uns quinze anos, já lia muito e me aventurava em alguns rabiscos. Os seus sonhos me fascinavam e eram temas algumas vezes para meus escritos.</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Nessa época também descobria Cecília Meireles e sua poética. Um dia vi num catálogo de uma editora o seu livro 'Escolha o seu sonho'; disse </span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">ao meu pai que ele deveria comprá-lo, assim teria como decifrar os seus sonhos. Ele autorizou a compra, sem saber que o livro era de crônicas, no qual a autora nos envolve com textos sobre liberdade, incertezas, solidão, felicidade, e, de quebra, sonhos; não os sonhos de quando dormimos, aquele da fase do sono REM, mas os sonhos cotidianos.<br />Meu pai perguntou sobre o livro vários dias, mais ansioso do que eu. Quando o livro chegou, danifiquei a embalagem antes de mostrá-lo - para que não me fizesse devolvê-lo - e ver sua surpresa que os seus sonhos iriam continuar indecifráveis. Mas os meus foram embalados pela compra do meu primeiro livro.<br />(by, franck)</span>Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-5980461776612531062015-11-27T12:38:00.000-08:002015-11-27T12:38:02.352-08:00Resenha de 'Poemas para dias de chuva'<div class="_d97" style="background-color: #fefefe; color: #373e4d; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 15.36px; padding: 5px 8px 4px; white-space: pre-wrap;">
<br /></div>
<div class=" _16ys _n4o" style="background-color: #fefefe; color: #373e4d; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 12px; line-height: 15.36px; white-space: pre-wrap;">
<div class="_r38" style="border-top-color: rgb(213, 213, 213); border-top-style: solid; border-top-width: 1px;">
<a class="_5rw4" href="http://l.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fwww.culturaalternativa.com.br%2Fliteratura%2Foutros%2Fitem%2F5869-poemas-para-dias-de-chuva-por-ediney-santana&h=0AQGAkXGh&s=1" style="color: #3b5998; cursor: pointer; text-decoration: none;" target="_blank"><div class="_49or clearfix" style="min-width: 170px; zoom: 1;">
<div class="_ohe lfloat" style="float: left;">
<div class="_4hsl">
<div class="_4yp6" style="position: static;">
<div class="_52kr" style="height: 72px; width: 72px;">
<div class="_4yp9" style="background-image: url(https://fbexternal-a.akamaihd.net/safe_image.php?d=AQC-NT2dLkV-DF-A&w=960&h=960&url=http%3A%2F%2Fwww.culturaalternativa.com.br%2Fmedia%2Fk2%2Fitems%2Fcache%2F97941f8009bab516492647e74e62ef54_M.jpg&cfs=1&upscale=1&sx=0&sy=85&sw=270&sh=270); background-position: 50% 50%; background-repeat: no-repeat; background-size: cover; float: right; height: 72px; width: 72px;">
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<div class="">
<div class="_42ef" style="overflow: hidden;">
<div style="display: flex; flex-direction: column; height: 72px; justify-content: center;">
<div class="__6j" style="margin: 4px 6px 4px 4px;">
<div class="__6k" style="color: #141823; font-weight: bold; line-height: 16px; max-height: 32px; overflow: hidden;">
“Poemas para dias de chuva” Por Ediney Santana* - Portal Cultura Alternativa</div>
<div class="__6l" style="color: #141823; line-height: 16px; overflow: hidden; text-overflow: ellipsis; white-space: nowrap;">
Publicado pela Editora Patuá (2015) “Poemas para dias de chuva” de Franck Santos segue um plano poético único, como se fosse um único e longo poema no...</div>
<div class="__6m" style="color: #9197a3; font-size: 10px; line-height: 16px; overflow: hidden; text-overflow: ellipsis; white-space: nowrap;">
culturaalternativa.com</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</a></div>
</div>
Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-71247031353005170122015-11-15T11:03:00.000-08:002015-11-15T11:03:33.863-08:00Eu estava no seu sonho?Sonhei com você também. Ao contrário do seu sonho, que eu aparecia imóvel, uma imagem em branco e preto no convés de um navio, sonhei que perco você no meio da cidade, você se embaralhando aos passantes, desaparecendo entre tantos rostos. O vento atravessando sua echarpe vermelha no pescoço.<br />
No seu sonho você voava, vindo do alto para pousar ao meu lado, num navio. Sonhei que tens uma flor na mão, talvez na mão direita, porque carrega uma bebida também. Amarelo e vermelho. Procuro essas cores em outras mãos, outros pescoços, que desaparecem logo depois. Na direção contrária, talvez eu buscasse você.<br />
No meu sonho você sumiu. Você se misturou à cidade e talvez seja aquela asa noturna que pousou ao meu lado no seu sonho.<br />
(by, franck)Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-84647366259460503932015-11-11T07:44:00.002-08:002015-11-11T07:44:47.072-08:00Ancoradouro<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
A cidade que nos vestia poderia ter sido Veneza<br />Colônia Del Sacramento<br />Buenos Aires ou Roterdã.<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"><br />Lembro que chegavas com as mãos sujas de dia<br />habitávamos as noites como num comercial publicitário<br />numa casa na qual as janelas já tinham sido menores.<br />Na cidade que nos vestia<br />tua solidão não tinha barcos que faziam doer-me os olhos<br />mas ias ao cinema e choravas com cenas logo esquecidas<br />ao adentrar a casa que nos aquecia como um útero<br />e me encontravas olhando pelas janelas o mar à porta e eu<br />{pensando<br />que quando quisesse fugir não precisaria ir muito longe.<br />Da cidade que nos vestia<br />esperamos os meses mais frios e partimos<br />deixamos de ser dois rostos na sua paisagem e nos tornamos<br />dois acidentes, dois trajetos, dois roteiros diferentes.<br />Naquela cidade ficou a longura das nossas palavras soltas<br />{num país que não era nosso<br />beijos no escuro daquelas noites<br />e o eterno doer das pupilas fitando barcos nas janelas de vista<br />{para o mar.</span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
(by, franck)</div>
</div>
Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-8144585276403558462015-10-31T04:42:00.001-07:002015-10-31T04:42:05.297-07:00Helena<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Ontem soube que Helena morreu. Minha primeira amiga de infância, adolescência e por toda sua vida. Com Helena brinquei de amarelinha. Fumei meu primeiro cigarro. Tomei meu primeiro porre. Troquei livros e discos. Escrevemos e encenamos peças de teatro no colégio. Eu queria ser</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">escritor, ela atriz. Uma noite ela me disse que iria para a capital, atrás do seu sonho e veio. Uma época que trocamos cartas, saudades e poemas. Esperava ansioso o carteiro.</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Depois Helena foi p</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">ara o Rio de Janeiro, Paris e Londres estudar teatro, arte dramática. Mandava cartões postais das suas viagens, revistas e fotos nas quais mostrava suas primeiras aparições como modelo, tinha sido descoberta num metrô, na sua beleza negra e tão brasileira!<br />No último janeiro hospedei Helena. Fomos aos Lençóis Maranhenses. Dançamos reggae. Tomamos vinho. Rimos e choramos. Falamos do passado e do futuro. Helena estava morando em Roma e combinamos que passaríamos o próximo fim do ano juntos. Mas ontem ela morreu. Dormindo. Do coração. Como só as pessoas sensíveis morrem.<br />(by, franck)</span>Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-83633126492982505632015-09-26T14:50:00.001-07:002015-09-26T14:50:09.241-07:00Personagens<span style="font-size: large;">Numa madrugada à beira mar um príncipe negro de camisa polo, jaqueta de couro e jeans rasgado, com um copo de vodca nas mãos, perguntou no ouvido dele, o plebeu, cansado da noite e com frio -não sabia que na orla marítima fazia tanto frio - mesmo morando desde sempre na ilha.</span><br />
<span style="font-size: large;">-Quer casar comigo?</span><br />
<span style="font-size: large;">O plebeu disse sim e entrou no bar do Nelson para dançar um último reggae, enquanto o príncipe fumava um último baseado no Jardim do Èden, do outro lado do bar.</span><br />
<span style="font-size: large;">Desde então, conta-se, que se Clarice Lispector estivesse viva e tivesse visto a cena de sua janela, enquanto fumava e tomava café nas suas noites insones, </span><span style="font-size: large;">os dois seriam personagens do seu 'A hora da estrela'.</span><br />
<span style="font-size: large;">(by, fanck)</span><br />
<span style="font-size: large;">(imagem: net)</span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: large;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-yBX4qbAYu7c/VgcS1AJy3rI/AAAAAAAABN8/7CMpmDpWcjw/s1600/clarice.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-yBX4qbAYu7c/VgcS1AJy3rI/AAAAAAAABN8/7CMpmDpWcjw/s320/clarice.jpg" width="238" /></a></span></div>
<span style="font-size: large;"><br /></span>Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-42560617863825344102015-09-19T05:39:00.004-07:002015-09-19T05:39:33.983-07:00Os bichos<span style="font-size: large;">Libélulas pousam no quarto, cansadas de seus voos. No corredor, elefantes as contemplam cúmplices, com seus olhos tristes.</span><br />
<span style="font-size: large;">Na sala, Frida Khalo com suas cores entre chaves, livros e cartas. Drummond na cozinha me olha enquanto recito de cor um poema dele e descubro que também tenho todo o sentimento do mundo.</span><br />
<span style="font-size: large;">Na mesa da copa, uma colher bailarina descansa de suas piruetas na jarra de suco de maracujá enquanto as chamas bruxuleantes dos pavios das velas lançam um lusco fusco aconchegante.</span><br />
<span style="font-size: large;">Vejo pelo telejornal que na praia uma baleia encalhou e lembro dos golfinhos de Pipa, tão livres. Mas me refugio do calor dos trópicos como se estivesse no aquário com meu peixinho beta azul.</span><br />
<span style="font-size: large;">Suas últimas fotografias, postadas num álbum do Facebook me fazem lembrar que estivemos próximos. Quis seus 'galos, noites e quintais'. Seu bucolismo. Ofereci e você não quis o meu Sol do meio-dia em alguma barraca da orla marítima, em alguma duna ou alguma rua dessa cidade. Me tenha então nos poemas que enviei a você como uma tempestade tropical invadindo o outro lado do hemisfério.</span><br />
<span style="font-size: large;">Apesar de tudo, foram bonitos os dias que não tivemos, olhando todos esses bichos inanimados que fizeram da casa meu parque- aquático-zoológico </span><span style="font-size: large;">particular.</span><br />
<span style="font-size: large;">(by, franck)</span>Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-40669463607861205862015-09-19T05:12:00.003-07:002015-09-19T05:12:53.194-07:00AmorHá manhãs que padeço de um amor novo<br />
solícito<br />
sorrisos<br />
café posto<br />
com as camisas dele no varal<br />
seus sapatos pelas salas.<br />
Há tardes que padeço de um amor velho<br />
áspero<br />
gasto<br />
roupas sujas<br />
louças na pia<br />
onde há eu, ele e todo o resto que não se sabe.<br />
Há noites que padeço de um amor tédio<br />
dormindo no quarto<br />
pentelhos<br />
ácaros<br />
cansaço<br />
nenhum sonho.<br />
Há madrugadas que tropeço em móveis<br />
no vazio<br />
insônia<br />
que padeço desse amor<br />
que não bate a minha porta.<br />
(by, franck)<br />
<br />Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-51418903894548771862015-09-19T05:06:00.000-07:002015-09-19T05:06:20.033-07:00Pipa<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Às vezes quero estar em Pipa. Só para estar num lugar com esse nome bonito. Acredito que o amor nos espera lá, em Pipa. Nas suas praias de mil surfistas e escadas. Nas suas não tranquilas ruas. </span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Às vezes quero estar em Pipa. Só para encontrá-lo por lá. Numa manhã. Numa noite com jazz. Vinho. Sorvete.</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">(by, franck)</span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><br />(imagem: franck)</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-QM7sALXQJVw/Vf1Ps38FVCI/AAAAAAAABNs/h4k8WikgkMs/s1600/003.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://3.bp.blogspot.com/-QM7sALXQJVw/Vf1Ps38FVCI/AAAAAAAABNs/h4k8WikgkMs/s320/003.JPG" width="320" /></a></div>
Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-60374181581394374922015-09-19T05:03:00.001-07:002015-09-19T05:03:49.305-07:00Quem?<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">De manhã </span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">quem faz tantas dietas</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">receitas </span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">ginásticas? </span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">Nas esquinas </span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;"><br />quem olha tantas mulheres nuas<br />bebês<br />rapazes musculosos?<br />Na cidade<br />quem tem tantas varandas<br />piscinas azuis<br />hortas<br />jardins?<br />Quem olha tantas cores<br />imagens<br />quase nenhuma notícia<br />nas bancas de revistas?<br />(by, franck)</span>Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-81715769950740291192015-08-15T09:49:00.002-07:002015-08-15T09:49:29.692-07:00O homem e suas flores<span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">No calor da tarde de agosto, no ônibus lotado, um homem entra com um buquê de flores artificiais. Para quem seria aquelas flores? Qual sala enfeitaria? </span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">No calor da tarde, as flores do homem no ônibus não coloriu meu dia, não teve perfume, nem sei de e para onde iriam.</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">Na tarde, não vi flores naquele homem. Suas flores de plástico morreram quando ele desceu.</span><br style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;" /><span style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">(by, franck)</span>Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-26468561660853640372015-07-24T15:26:00.000-07:002015-07-24T15:26:10.749-07:00Cúmplices<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Somos
sobreviventes, você me diz, enquanto esboço um sorriso, tomo um gole de
caipirinha e contemplo a tarde azul, o mar, suas mãos grandes sobre a mesa,
seus olhos castanhos e como você perdeu cabelos nesses quase dois anos que não
nos víamos. Sim, somos sobreviventes, concordo, enquanto você pede outra
cerveja, encaminha-se para a praia e fico pensando em como você emagreceu, não
usa mais barba e que fica tão sedutor de sunga amarela, contrastando com sua
pele morena e agora tão pálida, após o período que ficaste no Canadá.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Somos
sobreviventes do nosso amor, mesmo quando você decidiu ir embora, penso. Como
pessoas adultas, civilizadas e analisadas, sobrevivemos as mágoas, aos
rancores, a solidão que nos acompanhava. Lembro você me dizendo que “cavalos e
cães morrem sozinhos e aos milhares atravessam rios para se salvar”. Será que você resolveu ir embora
para se salvar de você mesmo, de mim, de nós? Será que você se salvou nesses
dois anos em terra estrangeira? Será que você se salvou atravessando oceanos?
Peço outra caipirinha e o sol cai lilás e crianças brincam com seus cães á
beira mar. Você me acena da água, como nos velhos tempos, como se nada tivesse
mudado, como se dois anos tivesse sido ontem. Enquanto você abraça ondas,
lembro de nossos abraços na cama que nos acolhia todas as noites, até você ir
embora, até perceber que nosso jardim ficou áspero, os gatos ficaram mudos e eu
fiquei sussurrando pelos cantos, pelas ruas, pela cidade. A casa ficou grande
demais sem você e eu que dizia ser adulto e analisado, comecei a sentir
saudades sua, mandar e-mails, escrever poemas, programar viagens para visitá-lo.
Voltei aos bares, restaurantes, praias e tantos outros lugares marcados por
nossas presenças e sua ausência, na tentativa de amenizar as lágrimas, a cama
vazia de você, o jardim secando e os gatos mudos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sobrevivi ao
seu cheiro que ainda ficou entranhando por tanto tempo em cada lençol, cada
toalha, cada recanto da casa que foi nossa. Sobrevivi as várias caixas que
deixaste guardadas no porão repletas de
lembranças, que algumas manhãs com a boca seca, o rosto em prantos,
descia para manusear folhetos turísticos da Europa, revistas de Feng Shui, cartões postais de lugares remotos, reportagens
sobre movimentos ecológicos, como se seus pertences fossem objetos recolhidos
após um naufrágio. Até que esqueci de descer, como esqueci das caixas e o seu cheiro
se perdeu entre outros. Agora você lá, na água, tão próximo e como se sua
presença não fosse outra como daqueles outros dias, tão essencial, tão
imprescindível.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sobrevivemos
aqueles três anos que dividimos a cama e a mesma cidade com seu mar sempre á
vista e que emite uma luz que seguramente é fruto do sal marinho,do sol, com seus casarões deteriorados por tantos verões, mas
que adorávamos subir e descer suas ladeiras no carnaval e nas festas juninas.
Sobrevivemos os gostos similares. As sessões de cinema sem ninguém além de nós
dois. Caio Fernando Abreu. Ioga. Uruguai. Natal. Você. Eu. Você. Nós. Mas será
que sobrevivemos aos planos? Ir à Argentina nas férias. Ver o pôr do sol em São
Thomé das Letras. Um verão em Paris. Fazermos nosso mapa astral.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O que você
trouxe para mim? Pergunto quando retornas da água, salgado e belo, ainda com
gotículas d’água escorrendo pelo corpo,
a sunga deixando seu sexo à mostra –ou quase – enquanto se seca ao vento, toma
mais cerveja e diz que trouxe incenso de verbena, o roxo daquelas tardes, um
olho escancarado, estrelas falsas... brincando com um poema de Caio Fernando
Abreu que líamos juntos em algumas madrugadas de insônia e tesão e quando ainda
a paixão nos deixava acordados até o amanhecer.
Sorrio e digo que os sobreviventes às vezes aparecem em busca de papo e
você diz que veio porque sentiu saudades, porque foi realmente feliz comigo
dentro das quatro paredes do quarto da
casa que foi sua também, nessa cidade. Mas agora sabia também que para se
desenvolver numa cidade, no mundo, na vida, era preciso se retirar e se colocar
a salvo por conta própria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Somos
sobreviventes, dizemos, enquanto a noite nos encontra leves e tontos de
maresia, salitre e álcool. Recolhemos nossas coisas e no bar começa a tocar uma
música de Angela RoRo, cantarolamos juntos e nos encaminhamos para o carro,
sorrindo cúmplices.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-17573986408422554282015-05-19T17:00:00.000-07:002015-05-19T17:00:01.494-07:00Quando atravessei uma cidade <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-bRgMZav0ylw/VVvOdnJInUI/AAAAAAAABNU/S-Xf8Ba3vyg/s1600/praia.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-bRgMZav0ylw/VVvOdnJInUI/AAAAAAAABNU/S-Xf8Ba3vyg/s320/praia.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.5pt; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.5pt; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.5pt; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<b><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">Atravessava a cidade para encontrar você à beira da
praia. Tinha uma luz suave aquelas tardes e a praia estava sempre vazia.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.5pt; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<b><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">Ficava em suspensão as manhãs inteiras até nossos
encontros, que adentravam as noites, nas quais me contava da sua vida de
viajante e eu tentava explicar a geografia da ilha, a ordem das praias, os
lugares que não poderia deixar de conhecer.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.5pt; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<b><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">Atravessava a cidade de volta para casa - tinha
fôlego naqueles dias - após vermos o sol se pôr, os plânctons que cintilavam no
mar e as águas-vivas. Ainda ouço sua voz me dizendo que as estrelas brilhavam
mesmo depois de morrerem.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.5pt; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<b><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">Queria ser poeta aquela época. Trancava a porta do
quarto e rabiscava uns poemas para você e também algumas angústias. Meu corpo
se tornou salitre e Malbec e os sons do mar continuavam durante a noite nos
travesseiros como se fossem conchas coladas aos ouvidos.<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.5pt; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<b><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">Atravessava a cidade para encontrar ou deixar você
naqueles dias que o céu da boca, os olhos, o corpo eram vestígios de
contentamentos. <o:p></o:p></span></b></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="background: white; line-height: 14.5pt; margin-bottom: 4.5pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 4.5pt;">
<b><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">Daquele verão, apenas aquela praia, rastros de
melancolia e saudades.<o:p></o:p></span></b></div>
Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7880134290740083200.post-51902378860276314402015-05-09T15:18:00.004-07:002015-05-09T15:18:50.291-07:00Souvenir<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-4dNzy_wWVPw/VU6Hvv5XlCI/AAAAAAAABNA/4yOY_lOUNc4/s1600/mapa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-4dNzy_wWVPw/VU6Hvv5XlCI/AAAAAAAABNA/4yOY_lOUNc4/s320/mapa.jpg" width="213" /></a></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Naquele tempo que fomos pontos equidistantes nas linhas retas que deveriam nos aproximar, havia sempre uma escala e uma conexão e uma turbulência e algum aeroporto.<br />Foi um tempo no qual fomos pontos paralelos e os voos e as rotas e os caminhos se cruzavam e por isso abandonamos os mapas com nossas localizações, nossas latitudes e longitudes e nos tornamos linhas imaginárias em algum meridiano.<br />Naquele tempo os astrônomos anunciaram novas estrelas, planetas, Luas dup<span class="text_exposed_show" style="display: inline;">las, alguns eclipses; mas não conseguiram identificar no portão de uma casa numa ilha do hemisfério sul, que fui o ponto mais obscuro do universo com meus cinco centímetros mais baixo que você, no dia que me dizia adeus e sumia num entardecer para algum lugar desconhecido.<br />Nesse outro tempo,sou um ponto brilhante e talvez os mesmos astrônomos me confundam com as luzes da cidade. De você, lembro de uma cicatriz no seu olho direito e tenho entre os guardados como souvenir a caixa preta que foi nosso amor.<br />(by, franck)<br />(imagem: net)</span></div>
Franckhttp://www.blogger.com/profile/15458581180502830257noreply@blogger.com0