quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Fumamos cigarros imaginários Regamos plantas artificiais Somos um casal que não existe Como numa peça de Henrik Ibsen?

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Agora

Agora penso em aposentadoria. Agora tenho menos amigos. Agora moro sozinho. Agora eu tento parar com a coisa que eu mais gosto de fazer: comer doces. Agora tenho outros anseios e traumas e desejos e planos. Agora já conheci desertos imensos e a solidão não é mais uma inimiga e sim uma amiga que me visita no escuro do quarto, num poema,numa música, num filme.

sábado, 18 de agosto de 2018

Sobre bichos e coração Estive ocupado rastreando pistas/ Nos cabelos do filósofo de olhos tristes / No verde-claro do dorso de um louva-deus / No canto onipresente de grilos e cigarras/ Em envelopes fechados que não chegaram aos seus destinos/ Nos fios dos postes recobertos de sal e pássaros./ Rastreei pistas/ Escrevendo sobre um viajante que não viajava/ Esperando saber de onde viriam seus vagalumes / Cultivando cogumelos vermelhos que vieram em caixas hermeticamente lacradas./ Descobri/ Que podemos gostar de objetos inanimados / Como é fácil se apaixonar por algum animal / Que mil garças de papel conectados por fios se chama senbazuru / Que jóias, frases e amores não podem ser replicados./ Rastreando pistas e meus movimentos /o próprio coração.
No dorso do esqueleto de uma baleia A roupa do ambientalista gruda de sal e algas seu relicário virou pátina enquanto faz o inventário de peixes e da fauna marinha e objetos flutuantes nos oceanos e descobre que no dorso do esqueleto de uma baleia há o declínio das calotas polares uma caixa de metáforas e um maremoto se aproxima. Acendo uma duzia de velas vermelhas para os orixás acalmar os mares e os homens.

sábado, 2 de junho de 2018

A delicadeza da morte

A delicadeza da morte ronda os gatos que choram o mundo nos olhos da mãe. Etéreos, flutuam, e a luz do Sol fura as cortinas cospe fogo nas paredes nos cantos da casa. A noite explode na delicadeza da vida um instante, abre a boca na geografia dos felinos e suas ausências. Tulipas Iansã Nagô Pássaros dão as boas vindas enquanto eles viram chorume húmus pó.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Inexistir

As pessoas morrem. Os gatos morrem. Os peixes morrem. Os mendigos morrem. Eu morro. Minhas tias morrem. As plantas morrem. Antes começaremos a temer o escuro do quarto. As praças. As praias. A cidade. Os livros. As outras pessoas. Restará a nostalgia de um tempo simples, como uma tarde numa cidade do interior, dois ovos dentro de uma chaleira cozinhando. De filmes norte-americano numa sessão da tarde e suas crianças esquecidas. Uma noite com cordel sendo lido. Inexistir é a diferença entre fugir ou se afastar enquanto aos poucos vamos nos reduzindo a signo, holograma, diagrama? A certeza que nos encontraremos em outra galáxia? Existirá um dia que inexistiremos. Todas as certezas se apagarão. (by, franck) (imagem: internet)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Último verão

A última vez que estiveste aqui foi num verão quando redescobrimos a cidade nos dias mais longos e abacaxis apodreciam no calor do Hemisfério Sul por toda a Ilha enquanto lia poemas para você que sempre gostou mais de números e jogos. O verão tatuou-se nas nossas peles naqueles dias e um silêncio se instalou e deixava à vista a palavra amor nos nossos olhos dentro da varanda, na janela, nos lençóis nas nossas roupas brancas no pandemônio que a casa se tornou. A última vez que estiveste aqui o som parece ter ficado dentro das fotografias nos cigarros que fumamos em cafés nos poemas que não foram lidos no telefonema que você não deu. (by, franck) (imagem:Ruy Barros)

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

EU...

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São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...