sábado, 26 de setembro de 2015

Personagens

Numa madrugada à beira mar um príncipe negro de camisa polo, jaqueta de couro e jeans rasgado, com um copo de vodca nas mãos, perguntou no ouvido dele, o plebeu, cansado da noite e com frio -não sabia que na orla marítima fazia tanto frio - mesmo morando desde sempre na ilha.
-Quer casar comigo?
O plebeu disse sim e entrou no bar do Nelson para dançar um último reggae, enquanto o príncipe fumava um último baseado no Jardim do Èden, do outro lado do bar.
Desde então, conta-se, que se Clarice Lispector estivesse viva e tivesse visto a cena de sua janela, enquanto fumava e tomava café nas suas noites insones, os dois seriam personagens do seu 'A hora da estrela'.
(by, fanck)
(imagem: net)


sábado, 19 de setembro de 2015

Os bichos

Libélulas pousam no quarto, cansadas de seus voos. No corredor, elefantes as contemplam cúmplices, com seus olhos tristes.
Na sala, Frida Khalo com suas cores entre chaves, livros e cartas. Drummond na cozinha me olha enquanto recito de cor um poema dele e descubro que também tenho todo o sentimento do mundo.
Na mesa da copa, uma colher bailarina descansa de suas piruetas na jarra de suco de maracujá enquanto as chamas bruxuleantes dos pavios das velas lançam um lusco fusco aconchegante.
Vejo pelo telejornal que na praia uma baleia encalhou e lembro dos golfinhos de Pipa, tão livres. Mas me refugio do calor dos trópicos como se estivesse no aquário com meu peixinho beta azul.
Suas últimas fotografias, postadas num álbum do Facebook me fazem lembrar que estivemos próximos. Quis seus 'galos, noites e quintais'. Seu bucolismo. Ofereci e você não quis  o meu Sol do meio-dia em alguma barraca da orla marítima, em alguma duna ou alguma rua dessa cidade. Me tenha então nos poemas que enviei a você como uma tempestade tropical invadindo o outro lado do hemisfério.
Apesar de tudo, foram bonitos os dias que não tivemos, olhando todos esses bichos inanimados que fizeram da casa meu parque- aquático-zoológico particular.
(by, franck)

Amor

Há manhãs que padeço de um amor novo
solícito
sorrisos
café posto
com as camisas dele no varal
seus sapatos pelas salas.
Há tardes que padeço de um amor velho
áspero
gasto
roupas sujas
louças na pia
onde há eu, ele e todo o resto que não se sabe.
Há noites que padeço de um amor tédio
dormindo no quarto
pentelhos
ácaros
cansaço
nenhum sonho.
Há madrugadas que tropeço em móveis
no vazio
insônia
que padeço desse amor
que não bate a minha porta.
(by, franck)

Pipa

Às vezes quero estar em Pipa. Só para estar num lugar com esse nome bonito. Acredito que o amor nos espera lá, em Pipa. Nas suas praias de mil surfistas e escadas. Nas suas não tranquilas ruas. 
Às vezes quero estar em Pipa. Só para encontrá-lo por lá. Numa manhã. Numa noite com jazz. Vinho. Sorvete.
(by, franck)
(imagem: franck)

Quem?

De manhã 
quem faz tantas dietas
receitas 
ginásticas? 
Nas esquinas 
quem olha tantas mulheres nuas
bebês
rapazes musculosos?
Na cidade
quem tem tantas varandas
piscinas azuis
hortas
jardins?
Quem olha tantas cores
imagens
quase nenhuma notícia
nas bancas de revistas?
(by, franck)

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

EU...

Minha foto
São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...