sábado, 20 de dezembro de 2014

Universo Paralelo

No dia  que nossas conversas se perderem em algum universo paralelo, entre bytes, megabytes e velocidade por minuto e não puder mais visitá-la em algum sitio virtual, comigo guardarei suas imagens com chapéus, óculos escuros, lenços-echarpes e você na neve, o negro dos seus olhos naquele branco-gelo. Guardarei também a imagem daquele trem partindo em silêncio, rasgando à tarde de um dia qualquer de primavera e eu acenando, acenando, parado, com uma cesta de frutas, peixes de água salgada e um baralho de tarô no bolso esquerdo da calça - para aquele piquenique que não fizemos; para aquelas previsões de um novo ano que insistimos em querer saber.
No dia que nossas conversas se perderem em algum endereço eletrônico não identificado, alguma caixa de e-mail, virar spam, em algum universo paralelo, mesmo assim continuarei mandando para você cartões-postais, fotografias azuladas pelo tempo, outros
poemas... até nos reencontrarmos nos nossos endereços que constam nos catálogos telefônicos ou dos boletos bancários.
No dia que nossas conversas se perderem em algum universo paralelo de satélites, planetas ou num cosmo submerso abissal de um oceano, ainda assim continuaremos escrevendo livros, criando filhos, viajando, mesmo que o tempo, inexorável, não seja mais o mesmo.
Mas quando tudo isso acontecer, se acontecer, estarei nessa cidade líquida de casarões em ruínas, águas, conchas, sal e sol.
Estarei aqui, no meu universo não paralelo, esperando você.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Ilha


Sobre a mesa
tinha uma bandeja de louças brancas e café com leite
bolo de maracujá
e um continente, separando nós dois.
Sobre a mesa tinha também
livros de poesias
e na noite que começava tinha uma varanda com um jardim
um blues que não ouvíamos
e um continente, separando nós dois.
Bastaria estendermos às mãos, sobre aquela mesa
deslocaríamos placas tectônicas
faríamos abalos sísmicos
e qualquer país.
Minhas noites nunca mais foram as mesmas
desde aquele continente, separando nós dois
e na ilha que me fiz.
(by, franck)

domingo, 23 de novembro de 2014

Estilingue


Costumo me perder em tardes de domingo
uma repetição, tão antiga, nesse tempo presente
talvez me acharia num combo de alguma lanchonete
num café amargo
numa música de alguma estação de rádio.
Costumo me perder em tardes de domingo
mas queria atravessar a cidade para sorver um último gole de água salgada
de qualquer praia
enquanto à noite não chegaria e ainda encontraria tempo de colher
vinte flores amarelas
num jardim que não existe
para enfeitar à mesa do jantar.
Costumo me perder em tardes de domingo
como quem sai de um cinema, do nada, de uma galeria vendo pinturas surreais
como quem tem o sol numa rede perto da janela do quarto
como quem termina de ler 'salão chinês' e tem que 'arrumar as malas antes de te escrever a carta de despedida'
ou que o domingo acabe.
Costumo me perder em tardes de domingo
muito antes de o conhecer
quando ainda não havia esse estilingue
me deixando em carne viva
que é o seu olhar.
(by, franck)

domingo, 9 de novembro de 2014

Máscara


Me derreteria como uma máscara de cera que tivesse sido aquecida
em hotéis baratos, em alguma cidadela
de nenhum país
olhando seus olhos dourados de pássaro.
Me derreteria como açúcar na água
ouvindo guinchos de trem
numa cidade antiquíssima
de todos os países
olhando seus olhos de ave de rapina.
Me derreteria como se fosse, finalmente, a liberdade
olhando seus olhos engolidores
porque acreditei que o aval para a minha liberdade
era um muro e/ou cortinas em casa.
(by,franck)
(imagem: net)

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

No jardim ainda existem flores


A casa e suas salas vazias; seus cheiros de tabaco, livros, suor, de pai, masculinidade.
Os quartos com seus rendados, lençóis usados, xícaras com chá, odores de lavanda, cremes, mãe, feminilidade.
Nos corredores vozes que se misturavam. Carícias. Olhares nos retratos. O prazer perdido. 
Peixes pálidos na cozinha. Manhãs em desordem. Alguns mistérios. Mesa posta.
No jardim ainda existem as flores que não deixavam eu apanhar. Reflexos partidos das nuvens nas fontes, não mais lá em cima.
Minha falta de sentido em outras casas desconhecidas, com seus andares inteiros, jardins sob jardins, outras paisagens vistas das janelas.
Restou a velhice que tememos; esse lembrar de algumas coisas e outras, não. O vazio do tempo e das distâncias. Esse lugar que chamam de solidão, o qual não podemos partilhar com ninguém.
(by, franck)

sábado, 11 de outubro de 2014

O 'Quando o azul não desbotava', no Jornal 'O Estado do Maranhão', 11 de outubro de 2014, sábado.
Espero vocês para um abraço, um beijo, um beiju, um chocolate, rabiscar no livro, uma taça de vinho e celebrar a prosa e a poesia!

sábado, 4 de outubro de 2014

Amolaria facas


Amolaria facas nos olhos dos transeuntes se facas comigo tivesse no dia que o azul se condensar no mais brilhante azul de todas as ilhas do hemisfério sul, claudicaria cego nos caminhos que não sei se saberia mais andar, porque teria nas retinas sensações que veria vagalumes, formigas, gigantes e peixes nadando nos vãos de um aquário para nenhum azul. 
Amolaria facas nos olhos de pássaros de asas cortadas se facas comigo tivesse no dia que o azul se condensar no mais brilhante azul de todos os continentes, porque nos ouvidos teria o barulho de mil bem-te-vis, e, nesse dia não se precisaria enxergar a não ser que estivessem procurando os pássaros sem asas e sem ninhos, fadados ao chão, mas encharcados de todas as cores, menos o azul.
Amolaria facas nos olhos dos acrobatas e bailarinos se facas comigo tivesse no dia que o azul se condensar nos trópicos, porque eles fatigados de suas redes e piruetas tiverem esquecidos dos campos de papoulas, dos pântanos, das florestas, serei capaz de contar-lhes e fazer senti-los como são os aromas e as cores, assim como um marinheiro procuraria outros navios no azul infinito.
Amolaria facas nos meus olhos se facas comigo tivesse no dia que o azul se condensar no mais brilhante azul de todo o universo, porque nesse dia rasgaria as fotografias não tiradas de nos dois e entraria num labirinto sem me preocupar se sairia dele, Minotauro que sou, porque dentro das minhas pupilas limaria todo o azul que nunca existirá.
(by, franck )

Cartas marcadas


Eu sou aquele faquir, dormindo em camas de pregos e caminhando sobre cacos de vidros. Enquanto você continua entre suas tênues gravuras e flores artificiais, inventando o nosso futuro em suas cartas marcadas.
Eu sou aquele que vai ao Alasca no projeto mundo cão, enquanto você enfeita seus dias com túnicas de motivos astrológicos, pedras semipreciosas, minúsculas esculturas de ossos.
Eu sou aquele que ainda se guia pelos pontos cardeais, recolhendo pelo caminho pedras de coral, folhas e escaravelhos petrificados. Enquanto você tenta decifrar minha ancestralidade de homem vivido nas montanhas.
Eu sou aquele que está chegando. Enquanto você diz que o mundo agora é uma aldeia.
Me manda pelos ventos o cheiro de mar dos seus cabelos.
(by, franck)

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Convite


O chá e os bolinhos de chuva
assim como o seu convite de casamento
(que não pude aceitar)
ainda esperam, você me diz,
enquanto olha a chuva e as janelas vizinhas
coloca seus sapatos para secar
e pensa:
(será que lá são infelizes?).
Leio Sylvia Plath ao sol da tarde
e digo:
(a única decisão que posso tomar é a disposição dos quadros).
(by, franck)
(imagem: net)

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Inveja

Invejo você que não precisa acordar às seis da manhã e ainda vai a estreia de um filme na sessão da tarde.
Invejo você que vai à praia de manhã num dia útil e encontra tempo para ir à noite numa exposição, vernissage, festa beneficente ou um lançamento qualquer.
Invejo você que entra numa livraria e compra todos os cds e livros de prosa, poesia, biografia, suspense, romance e infantil.
Invejo você que não perde um show musical, espetáculo teatral ou circense, humorístico, palestra e desfiles de modas.
Invejo você que passou as últimas férias na Europa, numa casa de praia ou se refugiou no campo ou nas montanhas.
Invejo você que faz bronzeamento artificial, não pega ônibus numa tarde de uma cidade dos trópicos,
porque está num carro com ar refrigerado.
Invejo você que não trabalha oito horas por dia; pode ir ao shooping, restaurante, médico, dentista e outros compromissos a qualquer momento.
Invejo você, mas invejaria ainda mais, se você desse suas pérolas aos mendigos.
(by, franck)
(imagem: net)

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Meus cabelos agora são orquídeas


Na varanda repleta de plantas domésticas e marcadas por ecléticas notas de cores
é manhã.
Ele corta meu cabelo
mas não me protege das rugas e dos cabelos brancos.
Ele tem uma barba espessa negra e meus olhos brincam sobre o seu corpo
invento um cavaleiro medieval, ágil e jovem corpo
que come rosas e bebe nuvens e galopa à beira-mar
pisa em uvas.
Na contagem regressiva do dia
dentro das tristezas da tarde, conto com ele
para pedirmos delivery e ouvirmos Los Hermanos.
Nenhum cinema, parque na praça do bairro ou algum bar na praia.
Entediados, nos contentamos com futebol na televisão e algum outro programa dominicial
parecemos um velho casal.
Na varanda, a noite encontra meus cabelos cortados que ainda jaz no chão
agora são orquídeas entre as outras plantas.
(by, franck)
(imagem: franck)

As cebolas viraram minha nova paixão

Adquirir um gosto tardio por cebolas. Cebolas na manteiga. Bife acebolado. Cebolas na salada. Consigo agora gostar do cheiro exalando pela casa e do acre sabor delas. 
Aprendi a gostar de cebolas, um gostar que aconteceu aos pouquinhos, como num jogo de sedução. Agora quando vou as feiras, tenho prazer em olhar cebolas; como num ritual silencioso escolho cebolas lustrosas e coloridas. Esse ritual continua ao cortá-las, nem choro mais, agora entoo canções ou leio os poemas pregados com imas na geladeira. 
As cebolas viraram minha nova paixão. Comecei a planta-las, quero te-las no jardim também. 
(by, franck)
(imagem: net)

domingo, 28 de setembro de 2014

Numa tarde de chuva fina


Quis ipês floridos e vento na copa das árvores
era primavera.
No outono
vinho, viagens e poesias.
Se refugiou no campo e quis lareira, romance e um pouco de melancolia
o inverno não caia bem.
Na hora do sol se por, numa tarde de chuva fina, se afogou no mar
era verão.
(by, franck)
(imagem: net)

sábado, 20 de setembro de 2014

Ainda resta o colorido de um jardim


No mapa que carrego nas mãos, tudo é vermelho, como aquele rio que não cruzamos. Aquele filme que não assistimos.
Mas há fendas abertas. Andorinhas sobrevoando alguma tarde. Crianças brincando em parques. Uma cidade que foi nossa.
No mapa confuso da minha memória, noites impregnadas de perfumes e cheiros de ervas. Uma sala com um peixe solitário num aquário. Caixas russas pintadas à mão. Chá ao entardecer. 
No mapa em branco e preto, que se perdeu em algum baú, ainda resta o colorido do jardim com árvores em miniaturas. O suave de pérolas para orelhas. A quentura de corpos. O branco dos lençóis de linhos.
Nesses mapas, não consigo localizar aquele paraíso prometido. Nem a juventude que não mais existe.
(by, franck)
(imagem: net)

sábado, 13 de setembro de 2014

Vamos dançar?

Mesmo que a solidão more nas nossas piruetas.
Mesmo que o musgo fique eternizado sob nossos pés. 
Mesmo que nossos gestos não sejam de bailarinos.
Vamos dançar as canções que fizeram para nós? 
(by, franck)
(imagem: net)

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Nós dois

Você, Simone Beauvoir. Eu, Jean Paul Sartre. Em alguma tarde, que não é em Paris. Sob um céu tropical. Que é nosso. E o inferno, nós dois.
(by, franck)

domingo, 17 de agosto de 2014

Colisão



Os gritos ecoam nos olhos dos pássaros
tanto azul nas tardes e nenhum voo.
A casa transpira. A cidade ferve.
As flores em frangalhos despetalam.
Minha alma portuguesa quer fado
tricotar tecidos e tapetes perfeitos para voar
além mar.
Mas nas tardes de tanto azul
meu grito é seco, ecoa nos olhos dos pássaros
nos fios dos postes
feito violoncelo
seta
alvo
colisão.
(by, franck)
(imagem: face de Val)

sábado, 16 de agosto de 2014

Jardim

Não tem flores no jardim
Todas morreram de saudades
De você. 
Mas tudo brota em flor
Sobre os lençóis
Que foram nossos. 
(by, franck)

sábado, 9 de agosto de 2014

A viagem

Quando a manhã acordou a Ilha era um ponto de terra à vista
o mar fustigava nossas retinas
a manhã quase tarde trouxe-nos de presente outra ilha
com nativos impregnados de sol e sal
seus doces de espécies
seus divinos em festa nas suas ladeiras
nas quais cruzamos ruínas, histórias, igrejas e um império decadente.
A noite ainda não dormia e a baronesa, a praia, nos acenou
o barco de retornar um apito ecoou
no cais, partidas e chegadas se confundiam.
Quando a outra Ilha, vimos no horizonte
éramos cheiros, cores, sons, sabores
nela, assim, retornamos.
(by, franck)
(imagem: franck)
 —

domingo, 3 de agosto de 2014

As conchas

Devolvi ao mar, as conchas que me deste
delas
fiquei com o maremoto
daqueles tardes.
E nenhum verão.
(by, franck)

sábado, 26 de julho de 2014

Quando dei por mim

Quando dei por mim, era um náufrago entre nativos barulhentos. Mas sonhava ciclopes. Esperava Adamastores e olhava o mar que era o centro da cidade. Milhões de rostos que não eram o seu.
Quando dei por mim, me sentia tão só como alguém que adentra num deserto. Intoxicado de café. Cigarros. Guloseimas extravagantes. Não havia noite ainda, mas tirava você da agenda telefônica. Rasgava seus quadrados. Triângulos. Chaminés.
Quando dei por mim, olhava fotografias nossas. Mas queria algum milagre que jorrasse luz. Cinema. Figura animada. Fliperama. Holograma. Outra mentira.
Quando dei por mim, relembrava lugares. Épocas. Animais domésticos. Balneários. Roupas. Aniversários. Parentes. Mas tomava alguma droga que só existe quando todas as outras acabaram para embriagar pessoas desesperadas.
Quando dei por mim, o amor tinha terminado. Acabado. Morrido. Restou apenas o aroma excessivamente doce como uma fruta passada.
(by, franck)

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Quando no rádio tocava canções de amor

Houve um tempo que o rádio tocava canções de amor
mas agora diz que devemos fazer uma revolução
como naqueles dias que queríamos ser heróis de cinema
íamos na última sessão e sentávamos nas últimas poltronas.
Houve um tempo que nossa revolução era a dos corações
desestabilizávamos antenas de televisão
radar de aviões
e deixávamos as mariposas sem direção.
Nas nossas noites insones
devorávamos chocolates
jogávamos xadrez
nos embriagávamos de saquê e sexo
e comidas delivery.
Nas manhãs saias para comprar cigarros e leite
e não deixava de levar seu indefectível guarda chuva
tenho essas imagens sua e outras que inventei
você vestindo azul, numa tarde cinza, dentro daquele velho carro
cantando canções de amor.
Queria seu novo CEP para mandar poemas, fotografias e cartas
desde que deixaste as chaves da casa que foi nossa
desde que esqueceste aquele brinco no criado-mudo
desde que não ouço sua voz me pedindo para colocá-lo na sua orelha esquerda
como naquelas manhãs
que existia canções de amor, no rádio do carro.
(by, franck)

terça-feira, 8 de julho de 2014

Como numa história de celuloide



No jardim, os pássaros voltam para os seus ninhos
e na cozinha distribuo xícaras que não combinam sobre a mesa
com uma toalha de linho e um vaso de girassóis
enquanto espero você com as ervas para o chá.
No balcão de uma das janelas, há um livro aberto de poesias
músicas na sala
incensos perfumam à varanda e no quarto, esfumaçado pelos cigarros de ontem,
duas taças com restos de vinho no criado mudo
e eu ardendo em febre.
Na casa quase indecente, espero você, para fingirmos sermos heróis,
mesmo se o mundo desabar
como numa história de celuloide.
No fim do dia, quando os ladrilhos da cozinha ficam com umas tonalidades indecisas
sobre os quais deixaremos cair um pouco de chá
nos sentiremos como se fossemos dois planetas que nos sustentassemos.
(by, franck)

sábado, 28 de junho de 2014

Quem sabe jogarei baralho?

Ontem cruzei a pé a ponte que interliga o centro antigo ao bairro novo. Do outro lado um arco-íris, mas queria era um cartão postal do azul do céu de São Thomé das Letras. Fiz esse pedido a Karla, que está lá, longe do mar e perto do céu.
Ontem cruzei a ponte São Francisco a pé, olhando o rio Anil com suas águas escuras, perguntando-me se elas desembocariam em Alcântara. Já cruzei todas as ruas dessa cidade, subindo e descendo suas ladeiras, por isso, queria nos meus intervalos conhecer outras vielas, becos e quem sabe cruzar alguma ponte de Veneza, do Brooklin ou Rio-Niterói.
Ontem ao caminhar sobre a ponte, quis visitar A. que está preso. Ele me telefonou pedindo um baralho, mas soube que nos presídios só permitem jogar xadrez e dominó. Quando ele voltar poderemos ter as mesmas conversas outra vez, como os méritos do suco de clorofila, a vida sexual das abelhas ou a dança nupcial dos albatrozes. Quem sabe jogar baralho.
Enquanto cruzava a ponte que liga a cidade antiga à moderna, ouvi tocar os dois relógios da igreja Nossa Senhora dos Remédios, há uma diferença entre eles de cinco minutos. Os relógios após o badalar das horas, silenciosos, são lindos e o Sol incinde nos seus ponteiros e nos vitrais da igreja. Um rapaz veio ao contrário de mim na ponte, pareceu bêbado, disse frases desconexas, apontou a igreja e o seu coração.
Ontem ao cruzar a ponte, uma das tantas pontes da Ilha, vi um daqueles crepúsculos típicos que só se ver numa ponte, fantásticos e fotogênicos, que pena A. e Karla não terem visto. Quis chegar em casa e me convencer que estou equipado para a velhice, porque agora tenho uma cadeira de balanço, livros acumulados para serem lidos, um jardim para cuidar e muitos roteiros de viagens... enfim, a conjunção de uma infinidades de coisas, como também repensar os sonhos da noite passada e consultar o tarô.
(by, franck)

Na tarde pós tempestade...

Na tarde pós tempestade, no céu pássaros voam como pequenas manchas enegrecidas, faiscantes. Se em casa estivesse, me sentaria numa cadeira de balanço com algum livro nas mãos. Veria H. desenhando cavalos, sua obsessão. Cavalos matando uns aos outros. Selvagens. Mas na tarde pós tempestade, tento comprar armários, vermelhos; encontro apenas armários azuis. Gosto da cor azul, 'quando o azul não desbotava', mas não são azul-céu, talvez azul-mar, os armários. Mesmo assim, compro-os.
Na tarde pós tempestade, o calor sufoca. Na parada de ônibus eu e uma moça negra, ela com um guarda-chuva, colorido, protegida, e, quase peço um pouco de sua sombra. Nas mãos tenho um enfeite de jardim, mais uma das minhas compras da tarde pós tempestade. Não sei se o enfeite é uma garça, uma pata, ou os dois em um só. Por isso, penso em cavalos. Nos pássaros. Queria outros bichos, algum melancólico como eu.
Na tarde pós tempestade, queria catar conchas. Um mergulho no mar. Uma ducha. Pensei nas conchas de Neruda, seu interesse, além da poesia. Quis sorvete, ser 'o imperador do sorvete', como no poema de Wallace Stevens. Mas continuo contemplando as manobras fascinantes e tortuosas dos pássaros no céu. Reflexos de luz sobre as águas cinzentas. Uma família circense num caminhão, eles anunciam seus espetáculos, como jogar cartas e outras coisas dependurados pelos cabelos; as mulheres com roupas exóticas, maquiadas e cobertas de bijuterias coreanas. Não sei porque mas penso em cidades fantasmas, filmes de faroeste, suicídios. Acho que os acrobatas nunca se suicidam.
Na tarde pós tempestade, quase noite, o efeito dos faróis dos carros é curioso. As árvores são todas amarelas. As flores do jardim balançam ao sabor da brisa. Penso em palácios em ruínas. Poços de elevador. Mas espero sonhar aviões.
(by, franck)

domingo, 15 de junho de 2014

Quando o dia se fizer noite...

No dia que nasceu quente, quero virar peixe. Nadar até o Japão. Gosto dos banhos mornos nos dias não suarentos, mas hoje a cidade cheira a sal. Algas. Mar. Nos portos os navios chegam e partem e eles parecem prisões. Assim como os navios, casas fechadas e escritórios são tão melancólicos. 
No dia que nasceu quente, na minha melancolia, tomo cafés. Atendo telefonemas. Mas queria o burburinho das ruas. Os cheiros que exalam do Oceano. Mas como bolo de chocolate. Penso em bonsais e espero o dia seguir seu curso, como os navios. Os portos. A cidade. O mar.
No dia que nasceu quente, cortarei os cabelos. Olharei os ninhos dos pássaros no jardim. Colherei tangerinas que são de umas cores antigas. Entre uma banalidade e outra, abrirei portas e janelas para os portos. Aos navios. Assim, a casa não sentirá tanta melancolia, nem eu, quando o dia se fizer noite.
(by, franck)

Viagem

Quando você viajou tentei encurtar as distâncias, mas deixei os caquis apodrecerem. Quebrei as louças. Não recolhi o lixo.
Quando você viajou, quis acelerar os dias e fiquei na fossa. Marquei uma consulta de tarô. Quis fazer malabares nos sinais.
Quando você viajou, dei para inventar algumas histórias. Não regar as plantas. Rasgar meus poemas e seus desenhos. 
Quando você viajou, sentir sua falta ao deitar. Ao acordar. Ouvi nossas canções. Fingir que as esfihas de frango eram de atum.
Quando você viajou, deixei a barba crescer. Não acender as luzes da casa. Não ligar a tevê.
Desde que você viajou, quero rajadas de vento. Chuvas de granizo. Até você voltar. Porque a saudade queima.
(by, franck)

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Eu e a cidade

O vigor da cidade não está na minha pele dark. No meu corpo cansado. Nos meus cabelos grisalhos. Talvez esteja nos casarões abandonados. Nos azulejos portugueses roubados. Nas praças sem árvores.
O vigor da cidade não está em em meus olhos vermelhos de sono e insônia. No meu coração apaixonado. Na minha pseudo-poesia. Talvez esteja nas lagoas poluidas. Nas praias com seus lixos descartados. Nos portos e seus navios com suas águas de lastro.
O vigor da cidade não está no meu proletariado. Na minha miopia. No meu peito sonhador. Talvez esteja nos mendigos que dormem sob as marquises e não são os acrobatas de Picasso. Nos pássaros que cruzam o céu. Nas periferias.
O vigor da cidade talvez esteja nas entranhas da cidade, quem sabe talvez em mim.
(by, franck)

O domador



Naquele outono ele disse que iria para o norte, que adestraria ursos para hibernarem no verão, quando o céu ficaria mais azul, os dias se alongariam e na floresta as árvores perderiam o colorido das folhas e flores e frutos e os rios se tornariam filetes d'água.
Naquele outono ele migrou deixando no sul seus livros. Sua varanda que passava os fins de tarde. Seus cafés. Seus discos. Uma quase paixão. Adentrou na floresta numa noite de lua, em busca dos ursos, que dançavam para o acasalamento, os quais ele adestrariam para não mais tomar banho de rios, nem uivar para a lua, mas sim, atender mímicas; porque ele faria dos ursos especimes de circo, acrobatas nunca vistos.
Naquele outono ele comeu da fauna e da flora da floresta que tinha adentrado, assim como experimentou chás de todas as ervas, aprendeu cantos de pássaros, visitou aldeias, perdeu roupas, deixou crescer barba, cabelo, unhas e cada vez mais percorreu veredas, rios, pântanos...
Quando o outono se vez outra estação, talvez inverno, os ursos domados, ele sentiu frio e numa caverna entrou para hibernar. Na cidade, na sua casa, um casal de ursos passaria aquela estação, hibernariam no urbano que foi dele.
(by, franck)

sábado, 31 de maio de 2014

Enquanto dormes

Dormes ao meu lado enquanto alinhavo pensamentos. Costuro insônia. 
Você borda sonhos.
Passa a noite que não é veloz.
Dormes ao meu lado enquanto folheio livros. Olhos as horas. Abro geladeira. Cato estrelas entre nossos lençóis.
Durmo quando você não está mais ao meu lado.
As manhãs são assim
noites para mim.
(by, franck)

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Vastidão


Na vastidão da tarde magenta
Minha pele quente. Minha boca ávida. 
Espera seu corpo. Seus veludos. Seus desenhos.
Na vastidão de uma tarde de deserto dessa cidade
Ofereço minhas geleiras. Um violão. Meu tesão.
Espero seus olhos de mangá-potiguar. Seu tarô. Seus mistérios. Algumas canções. 
Na vastidão das tardes iguais, que não mais existirá, quando você chegar
Minhas flores amarelas. Um livro de poemas. 
Meu coração. 
Seus pés cansados. 
(by, franck)

sábado, 8 de março de 2014

Vejo peixes voadores presos por fios...



A cidade inundada. Sitiada. Mas consigo percorrê-la num carro, talvez anfíbio, e vejo apenas torres. Cúpulas. Telhados. Não sei se é um sonho, ou real. Mas estou tonto com tanta água. Os tambores da noite estão chamando, não quero o paraíso, mas bate no meu coração um vício incomum pelo ancestral. Sinto a lava dentro do peito. Dentro do ventre. Dentro da boca.
A cidade sitiada. Inundada. Quero que macacos me mordam em Vassouras Quero Lagartixas, salamandras, libélulas e um farol em Mandacaru. Quero uma tarde em Caburé, dunas, maconha, estranhos no ninho, uma cesta de pêras. Não vejo mais o Continente, mas peixes voadores presos por fios. Flores em miniaturas. Animais medievais. Uma criança sozinha na praça do correio, não receberei mais cartas? Mas todas as casas estão de portas abertas, ou não há mais portas?
Os pardais penetram a aurora. Nas chaminés há fumaça, mas não sei se continuo sonhando ou se é real, como a xícara com o café preto a minha frente e o dia que inicia e não sei como vivê-lo.
(by, franck)

quinta-feira, 6 de março de 2014

Felicidade (quase) clandestina

Minha felicidade é quase clandestina, porque só você e eu sabemos dela. Mas queria nesta manhã luminosa que ela se tornasse domínio público na minha e na sua cidade, que ela não ficasse registrada apenas na estástica de um telefonema...
(by, franck)

Quem sabe numa manhã de chuva?

Talvez o reencontre ao virar uma esquina, numa manhã qualquer ainda esse ano, quando estiver chovendo, porque assim teríamos a desculpa de entrarmos num café, num bar, enquanto a chuva lavaria a cidade. Se não for numa manhã chuvosa, talvez numa tarde solar, à beira mar, enquanto cataria conchas e olharia navios no horizonte e crianças fazendo castelos de areia, e, entre uma água de coco e outra, comentaríamos dos nossos castelos desfeitos e quem sabe também de um pouco de poesia e cinema e música, ou apenas nos olharíamos nos olhos, daríamos abraços, faríamos comentários sobre o tempo, nossas roupas, nossos cabelos, nossas silhuetas e não entraríamos num bar ou café e nem veríamos navios e crianças com seus castelos na praia, porque não teríamos mais nada a nos dizer e nem contemplarmos juntos, porque tudo estaria emborolado com o passar do tempo, o mesmo que cicatriza, que cura. Nos despediríamos prometendo telefonemas, olharíamos mais uma vez para trás e depois para o futuro, aquele que não tivemos.
(by, franck)

Viagem

Bicicletas, trens, barcos e aviões, códigos e livros, videogames e você...
(by, franck)

Estrelas

Te procuro
escalando escombros de uma cidade em ruínas
ontem as crianças corriam nesta praça
hoje as crianças brincam de soldado-ladrão
com armas de fogo
hoje as crianças brincam de jogar estrelas
estrelas de aço e fogo.
(by, franck)

O que quero nesses dias (quase) mágicos e brancos?


Bússola. Olho de boi. Verão. Glamour de um filme antigo. Uma balada num vídeo-clip às cinco da tarde. Baby, você cheira goiaba e grama cortada e água de piscina. Helicóptero sobrevoando a manhã chuvosa. Coleções esquecidas no armário. Pratos de cerâmica. Mapa astral. Horóscopo no jornal. 'Leões na praia de noite', Fitzgerald. Cinco camisetas coloridas penduradas no varal. Céu nublado. O asfalto da rua brilhando com a chuva da noite. Berinjelas no supermercado. Slow food. Escolher um livro. Uma cidade imaginária. Rota das emoções. Convalescença. Dias (quase) mágicos e brancos...
(by, franck) 

O amor

Ama o corpo e odeia os hábitos. Não fume. Não cante fora do tom. Não tome tanto sorvete. Devolva meu coração, mas seja feliz comigo. Sorria mais. Fale menos. Veja menos futebol e mais cinema. Não tome tanto sol. Faça ginástica. Devolve a chave da minha casa. Sonhe mais. As coisas não são assim, mas seja feliz comigo. Coloca o cinto de segurança. Salgue menos a comida que adoço mais a bebida. Azul fica bem em você. Leia mais. Liga o ar condicionado no máximo. Desligue a lâmpada da varanda. Bata o portão. Fecha a janela. Tira a minha roupa e seja feliz comigo. Lave a louça de ontem. Não esqueça meu aniversário. Coloque aquela música. Desligue o televisor. Beba. Me coma. Deixe eu beijá-lo. Não fale com estranhos. Não com os outros. Apenas comigo. Sempre. Seja feliz comigo.
(by, franck)

Tsuru

Carrego na mochila o tsuru de papel que ela fez pra mim. Um origami amuleto. Lembrança. Âncora. A fragilidade oriental como proteção.
(by, franck)

Uma carta para S.

Querida S.,

Sua carta chegou numa manhã de um domingo nublado. Na casa de paredes amarelo-damasco (vi numa revista de decoração e mandei reproduzir a cor), uma música vibrava do rádio ligado (ouço muito rádio) e o aroma de café e cuscuz de milho exalava. .. Enquanto tomava café e relia sua carta, pensava no que você disse: 'a vida é pouco, escorregadia', por isso, não poderia deixar de respondê-la ainda este ano, hoje, agora, deixando para depois as louças sujas do café da manhã e desligando o rádio e colocando uma Nina Simone. Será que ouves Nina nessa manhã? (Aliás, não sei se ainda é manhã aí).

Não lembro também quando conversamos pela última vez, mas não deixei de saber de você: seu humor, sua poesia, seus dias e noites... No meio do furacão de tudo isso, das nossas vidas, também nossas risadas. Nossas asas. A vida além de pouco e escorregadia também são essas pausas. Mas quero dizer-lhe que continuo acreditando no amor e na poesia, mesmo que eles morram, e, esse ano não deixou de ser uma variação sobre o mesmo tema. Um buraco negro. Todos que amei (ou achei que) eram sempre meio peso-pluma ao passo que eu assumo as pessoas, tenho vítimas que poderiam provar, torturadas e estropiadas, mas assumidas. Por isso as cartas e os poemas e os bilhetes de amor. Por isso os incensos e os lençóis novos na cama e as bebidas e os cigarros e algumas trilhas sonoras. Mas acho que essa busca se tornou finita, agora meu coração é fogo de artificio por dentro, infinitas incógnitas com H, pois para ele empinei meu coração junto com todas as pipas coloridas dessa cidade. Com ele bebemos goles de mar. Não sou mais igual a antes, com uma vida secreta e sombria e perigosa, cheia de encontros românticos desvairados. Agora somos fosforescentes e brilhantes, brilhantes como os lençóis maranhenses, como as dunas de Natal...

Que nos venham os cavalos que você disse que representará o próximo ano, animais da minha infância, mas não se ainda sei cavalgar, isso faz tanto tempo, a infância. Coelho que sou no horóscopo chinês, talvez use a impulsividade que rege esse signo e tentarei me equilibrar nos dorsos dos cavalos que por mim passarem, mesmo sendo de uma timidez extrema, mesmo não sendo dotado de muita energia.

Se o que importa é o coração, vou ouvi-lo, por isso, em janeiro (nos primeiros dias) viajarei pelo nordeste brasileiro e descobrirei outros tons de azuis no céu, escreverei poemas de amor, farei piqueniques com frutas de metal enferrujadas, porque a maresia comeu tudo... Quem sabe, S., não a terei em solo maranhense em 2014? Tomaremos café com cuscuz de milho enquanto Nina Simone cantará embalando esse encontro?

Com carinho e muita paz, sempre,
F.

Paisagem

Na manhã, pipas ensaiam asas e a moça na janela espera notícias trazidas pelo vento. A tarde o visitante contempla o painel de conchas acima do sofá, enquanto as gaivotas cantam canções de pedra, para retinas sem paisagem. Minhas mãos choram lamentos de lavadeiras, mas ouço o barulho do mar em búzios. Anoitece e um garoto de patins desce a ladeira, na varanda uma velha tem voos rasantes de memória. .. Mas olhamos para nenhum crepúsculo! 
(By, Franck)

Vício

TEU VÍCIO
COSEU NOSSO AVESSO
NUM ISTMO
NAVERRANTE
ENTRE
FERIDA E CICATRIZ.
(by, franck)

Sobrevivente

Sobrevivi a solidão da infância. Ao bullying. A adolescência. A latitude. A altitude. Ao medo de avião.
Sobrevivi as provas. Ao despertador. Ao frio. Ao calor. Aos porres e esporros. Aos gritos do primeiro chefe. As primeiras paixões. As separações. Aos amigos que sumiram e aos que morreram.
Sobrevivi as mudanças de endereço. Ao cheque especial. As doenças. As cartas de amor. A Caio Fernando Abreu.... Ao coração partido. As dores musculares. De cotovelo. As despedidas. As noites insones.
Sobrevivi a miopia. Aos anseios. As alegrias. As drogas. Aos antidepressivos. A poesia. As terapias. A Maria Bethânia e Nina Simone.
Sobrevivi as esperas. Ao tesão. A sessão coruja. Ao mar. A montanha. As veredas. Ao caos urbano. Aos acidentes de carro. Aos enganos e desenganos. As perdas. Aos ganhos. Aos encontros e desencontros. Aos aniversários. Aos cabelos grisalhos.
Eu sou um sobrevivente...

Felicidade?

Felicidade? 
É um pastel de goiabada e queijo
Comido numa caminhada
Por ruas vazias
Numa noite meio fresca, meio fria. 
(by, franck )

quarta-feira, 5 de março de 2014

Minha alma nativa

Viajo num trem do interior,levo uma alegria triste
o ciclo dos astros por um ano
minha nativa alma da América do Sul.
No sonho, você parado numa estação dançando flamenco
não desço, sou areia e sol
só sei dançar bumba-meu-boi.
Mas quero cruzar a rota 66 e contar das sequóias
ser personagem de Bagdá café
encontrá-lo num casamento indiano ou sob as cerejeiras em flor.
Sou a fantasia de um mundo blues
não sei de Nepal, Lago Keitcharo, Empire State,
mas contarei da Serra da Mantiqueira, Xambioá, Araraquara, Belém do Pará.
Viajo num trem que talvez me deixe em Albuquerque
verei balões de ar quente
água-viva, que sou, dos mares do Sul.
Mesmo em hemisférios opostos, somos marcas, 
Fósseis. Iguais.
No sonho, o relógio continuou funcionando.
(by, franck)

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

Previsões dadas...

EU...

Minha foto
São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...