sábado, 31 de março de 2012

Cartão Postal


Mande-me um cartão postal dos seus olhos castanhos. Da cor da roupa que está usando. Da tatuagem que tens no pescoço. Do seu novo corte de cabelo. Se puderes, mande-me neste postal trechos do livro que estás lendo. Cenas do último filme que viste. A paisagem da janela do seu quarto de dormir. O refrão da música que ultimamente é sua trilha sonora. O ringtone do seu celular. Mande-me também o sabor daquele seu drinque aos sábados. Seus sonhos de ontem à noite. Seus poemas inacabados. Da felicidade do seu cão quando chegas em casa. Se sobrar espaço, mande-me ainda, neste cartão, os cheiros de sua horta. Os gritos dos pregoeiros na sua rua ao amanhecer. Aquele beija-flor das tardes no jardim. Seu riso ecoando numa noite qualquer. As ondas do mar molhando seus pés descalços. As mangas bourbon comidas ao meio-dia no quintal. Seu ar blasé fumando cigarros mentolados. Mande-me, urgente, nessa quarta-feira chuvosa, imagens assim, para compor com elas um mosaico teu, um cartão postal, um quadro, uma fotografia... Não aguento mais 'essa ausência sua que atormenta', talvez assim, talvez, a aliviaria...
(by, franck)
(imagem: internet)

sábado, 24 de março de 2012

Não me pergunte como...


Não me pergunte como eu soube que você ia embora, essas coisas se intui, se pressente, mas talvez soube quando olhei seus olhos castanhos tão mais tristes ainda. Quando vi a mala vermelha sobre a cama. Não sei. Só sei que soube que ias embora. Talvez porque você ouvia 'rock and roll lullaby' na voz de Fernanda Takay, sua cantora preferida. Talvez por chegar e cheiros de incenso, maconha, malbec, café, odores incomuns para uma tarde, impregnavam a casa. Não me pergunte como soube que ias embora, mas aquele dia você vestiu azul, minha cor predileta. Me beijou demorado como tempos não fazia, quando cheguei. E quando cheguei, soube que ia embora, porque vi seu violão no sofá e não mais largado pelos cantos. Você estava lendo 'A sombra das vossas asas', de Fernanda Young, o que também estava lendo. Não me pergunte como eu soube que você ia embora, você foi, naquela tarde, quando o cão não fez festa quando cheguei, porque começou a chover e a previsão era de sol, quando um táxi chamou na rua. Essas coisas se pressente. As partidas são necessárias e inevitáveis. E eu soube. Apenas soube que você ia embora naquela
tarde. Como sei agora com sua ausência.

(by, franck)
(imagem: internet)

domingo, 18 de março de 2012

Amarelou


Minha paixão azul
amarelou.
Nesse jogo de esconde-esconde
onde todos os gatos são pardos.
(by, franck )
(imagem: internet)

terça-feira, 13 de março de 2012

Entardecer


No entardecer tropical
ouvindo Calcanhoto e tomando suco de uva
enquanto as cigarras entoam suas canções
e o sol adentra a casa passeando com seus raios na pele da pele das nossas peles
o lilás se esvai e um diurno oriente encontro em seu olhar
e no meu corpo ocidental habita sexo, sol, sal, saliva e
nossos odores...
A noite se anuncia escura e as cerejeiras em flor que me falas
brotam em algum amanhecer que não verei
no jardim, às vitórias-régias, aquáticas plantas,
fosforecem sob a fumaça dos nossos cigarros mentolados.
(by, franck)
(imagem: internet)

quarta-feira, 7 de março de 2012

Possibilidades...


As possibilidades se perderam quando ele se foi. Não lembro exatamente quando e nem porque, mas lembro do vazio das tardes com a ausência dele, das noites sem ele na minha cama, dos inúmeros telefonemas que cessaram... As possibilidades que se perderam tentei reencontrar em outros corpos, outras paixões, outros amores, outras aventuras, mas não passaram de tentativas e outras nuances possíveis num jogo de sedução, emoções, projetos e probabilidades em algumas noites, esquinas, risos, bares...
Quando as tardes voltaram a serem preenchidas, as noites acostumadas sem ele ao meu lado e sem esperar o telefone tocar sem ser o número dele chamando, ele voltou no carnaval. Veio sem máscara aparente, mas com uma marchinha que entoamos em outros carnavais. Num voo rasante, pássaro na fantasia e pela minha casa, pousou outra vez suas asas e seu corpo no tapete, sofá, cama e em meus braços. Vasculhou memórias, gavetas, jardim e o tempo que não nos víamos. A tevê desligada da folia momesca e como trilha sonora desse reencontro as chuvas sobre a cidade, blues, gargalhadas, e, seu violão dedilhado como em outro tempo, de possibilidades.
O carnaval passou e o pássaro decaido e infernal vagueia pela casa e não sei se ainda quero voar com ele e suas possibilidades abstratas e/ou concretas. Não sei se quero retomar aquelas tardes, aquelas noites, aqueles telefonemas, aquelas trilhas sonoras, aos sonhos que a quarta-feira de cinzas ainda não levou. O pássaro relaxou as asas. Baixei a guarda. As possibilidades, todas elas, espreitam-me.
(by, franck)
(imagem: internet)

quinta-feira, 1 de março de 2012

Quando o azul dos dias não desbotava


O domingo azul aos poucos desbotou quando soube que você partiu. Não sei quais os rituais para homenagear alguém que se vai, muito menos quando esse alguém é tão próximo, mesmo que tenhamos nos perdido no tempo e ficado apenas nas memórias.
As memórias são muitas. Lembro de sua casa amarela perto da estação de trem. Dos amendoins que trazia quando nos visitava. Você se despedindo de mim num fim de tarde na escola e eu chorando. De suas roupas escuras... Memórias que vieram aos borbotões, nenhuma que tivesse um começo, meio e fim. Desculpe tia Maria, mas o tempo, a distância, as lembranças registradas sobre você, sobre nós, são como um véu ou uma neblina na minha mente, fragmentadas; mas a dor da perda é intensa e verdadeira, porque queria ter voltado para ouvi Angela Maria com você, outras vezes, naquelas noites que os apitos de trens e a algazarra dos primos sobressaia à música; escutar sua risada nas tardes que o azul ainda não desbotava quando você costurava com minha mãe; saborear o doce de amendoim que você se orgulhava de fazer... Não voltei, não telefonei, não mais a vi, tia, desde que troquei aquela cidade de trens e amendoins por outras.
Desliguei o telefone com aquela voz familiar, também distante, de outra tia, anunciando sua perda, ainda presa aos meus ouvidos. Fiquei na varanda da casa buscando nossas lembranças e vieram essas, e, depois de um longo tempo, então, na manhã quase tarde desbotada, Angela Maria cantarolou pela casa e ao longe ouvi risadas sua. Apitos de trem. Crianças gritando. Tardes azuis. Cheiro de doce. E... Chorei!
(by, franck)
(imagem: internet)

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

EU...

Minha foto
São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...