quinta-feira, 1 de março de 2012

Quando o azul dos dias não desbotava


O domingo azul aos poucos desbotou quando soube que você partiu. Não sei quais os rituais para homenagear alguém que se vai, muito menos quando esse alguém é tão próximo, mesmo que tenhamos nos perdido no tempo e ficado apenas nas memórias.
As memórias são muitas. Lembro de sua casa amarela perto da estação de trem. Dos amendoins que trazia quando nos visitava. Você se despedindo de mim num fim de tarde na escola e eu chorando. De suas roupas escuras... Memórias que vieram aos borbotões, nenhuma que tivesse um começo, meio e fim. Desculpe tia Maria, mas o tempo, a distância, as lembranças registradas sobre você, sobre nós, são como um véu ou uma neblina na minha mente, fragmentadas; mas a dor da perda é intensa e verdadeira, porque queria ter voltado para ouvi Angela Maria com você, outras vezes, naquelas noites que os apitos de trens e a algazarra dos primos sobressaia à música; escutar sua risada nas tardes que o azul ainda não desbotava quando você costurava com minha mãe; saborear o doce de amendoim que você se orgulhava de fazer... Não voltei, não telefonei, não mais a vi, tia, desde que troquei aquela cidade de trens e amendoins por outras.
Desliguei o telefone com aquela voz familiar, também distante, de outra tia, anunciando sua perda, ainda presa aos meus ouvidos. Fiquei na varanda da casa buscando nossas lembranças e vieram essas, e, depois de um longo tempo, então, na manhã quase tarde desbotada, Angela Maria cantarolou pela casa e ao longe ouvi risadas sua. Apitos de trem. Crianças gritando. Tardes azuis. Cheiro de doce. E... Chorei!
(by, franck)
(imagem: internet)

4 comentários:

  1. Quase sempre vamos deixando as pessoas para outro dia, outra hora, outra oportunidade e nem sempre elas esperam. Partem sem dizer tchau.
    Texto doido!
    Bj imenso

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  2. Texto doce...Nostálgico(cm estou hoje)
    Doce saudade daqui, Franck!

    bj
    bom dia!
    =)

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  3. Ai que saudade que me deu... (esse texto)!!

    Tardes azuis. Cheiro de doce. E... Chorei! Lindo.

    Mil bjos.

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  4. Franck,

    Ao final da leitura, subiu pelos meus braços um arrepio...

    Tia Maria acolheu tuas palavras, com certeza!

    Um abraço,

    Suzana/LILY

    P.S.: adorei a narrativa!

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(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

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