terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Na varanda só o vento passa

Estou descalço e não tenho sono. Na madrugada o silêncio parou o horizonte da ilha e na varanda só o vento passa, mas queria roçar de asas, um café, a dor de todas as ruas vazias; porque me sinto assim e sou assim, uma pessoa tão solitária como quem fumou o último cigarro num deserto? Porque quero deixar pegadas falsas para que nunca mais me encontre? Porque escrevo cartas vermelhas e talvez enlouqueça e jogue-me e...m algum movediço porto?

Sou um estrangeiro na minha casa, na minha rua, na minha cidade. Sou um refugiado, talvez algum dia encontrem fotos, postais, anotações, restos de mim... Um dia, numa outra cidade, encontrem tudo isso de mim numa feira de antiguidade. De mim, tão solitário, tão só como a dor de um bicho, talvez de cães que ladram na noite querendo carinho, vozes humanas, a volta dos seus donos que os deixaram na rua.
Quero dormir, mas não consigo. É madrugada. Nâo há mais silêncio na ilha, o Sol colore seu horizonte. Pegadas e carros esmagam as flores no asfalto, as feiras acordam os bairros. Quero ainda um café, meu quarto onde as belezas tristes retornam; quero o branco, o esquecimento, porque não sou eterno, talvez um dia numa feira de antiguidade; mas rasgarei minhas fotos, meus cartões, todos os escritos e declarações antes de morrer. Por enquanto, olho o horizonte e o sono não vem.

(by, franck)
(imagem: net)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

'O mundo sem nós'

(Texto para a Corrente Literária)


Hoje
nenhum pássaro cantou na manhã nossos soluços
porque nem eles, nem nós, existimos mais
mas ainda há um guarda-sol na varanda
gestos tristes nos espelhos
mas os risos que trazem cadeiras as varandas, esses não.
Hoje
nenhuma pipa cruzou o céu azul da tarde
porque não há meninos nas ruas
mas meus sapatos amarelos esperam no quarto
mas o rumor da máquina de costura da casa da minha mãe
não mais
nem música, poesia, cinema, televisão, internet, sexo
restou um perfume suave das tardes febris
uma rosa machucada no jardim.
Hoje
recordando os instantes que passaram
tudo é triste nas casas da minha rua, da cidade, do país,
do continente
porque não somos mais
como aqueles que ficaram.
Hoje
o mundo corre abaixo de nossos retratos
nas roupas pretas dos varais
sem nós.
(by, franck)
(imagem: internet)

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

EU...

Minha foto
São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...