segunda-feira, 30 de março de 2015

Por onde o vento soprou

Na noite que veio aquele vento as mudanças se viram pela agitação dos pássaros, apesar das aves grandes calarem. Um vento violento veio desenterrando guarda-sóis das praias, apagando faróis e a morte rondando o litoral.
O vento talvez fosse um minuano, um mistral ou quem sabe um siroco ou alísios. Sabe-se que os piratas atearam fogo aos navios e o mar esteve vazio de veleiros e rastros de escunas; mas espumas, ondas e o vento derrubaram mascarones das embarcações nos portos e adentrou às casas da ilha quebrando as coleções dos moradores como os carrinhos de ferro do menino Kerouac, as máquinas de escrever do moço Tom, os quadros com as borboletas de Cláudia, as facas da senhora Jolie, as Barbies do Johnny e as canecas que comprei nas minhas viagens.
Aquela noite o vento desestabilizou radares, pombos correios, canais de televisão. Por onde o vento soprou se fez fosso, noite escura, muito barulho. Naquela noite, antes que o dia amanhecesse silêncio e o vento fosse brisa, quis um transatlântico atravessando oceanos e colecionar homens com nomes interessantes.
(by, franck)
(imagem: net)


sábado, 28 de março de 2015

Do Oriente que há em nós


Apesar dos saquês. Dos jogos de yu-gi-oh aos sábados. Dos mangás. Das cerejeiras em flor. Do Oriente que há em você.
Apesar do futebol aos domingos. Das caipirinhas. Das feijoadas. Das novelas diárias. Do Ocidente que há em mim.
Apesar de sermos parque de diversões, não quero mais esse amor kamikase, somos brincadeiras arriscadas.
Meu corpo ataques suícidas, seus sentimentos um pêndulo aos 360º.
(by, franck)
(imagem: net)

Inundado


Inundado de água salgada, movimento-me líquido. Sinto o cheiro e o som do mar, mas não o mar.
Trago grãos de areia molhada. Espirais de ondas. Castelos impossíveis. Faróis. Mas nenhuma ilha.
Tenho o mar que não quer se revelar. Jogarei as conchas que trago comigo ao mar.
Qualquer dia desse me inundo de vento e vácuo. Irei atrás do poente e os gatos me seguirão por ruas desertas.
(by, franck)
(imagem: net)

terça-feira, 10 de março de 2015

Naquela tarde

Na tarde que a rainha da Inglaterra desfilou no seu roll royce e tirou os sapatos para massagear um pé no outro, no litoral brasileiro um estrangeiro olhava um atlas como se quisesse outra geografia.
Naquela tarde tinha um casaco sobre uma poltrona, era seu, mesmo que nessa cidade não precisássemos de casacos. Você me criticava porque queimava minhas dez agendas confessionais, contou sobre os diários de Sylvia Plath que Ted Hughes havia rasgado.
Fez-se um silêncio que você não foi capaz de romper, por isso, na tarde daquele dia, mostrei meu braço recém tatuado, falei de Paris com seus cafés e dos amores que deixei em repouso. Coloquei um disco de Patti Smith e você disse que não gostava do seu visual andrógino, mas queria fotografar como Robert Mapplethorpe e ficou estourando o plástico bolha que envolvia os livros que tinha comprado na viagem.
Daquela longínqua tarde que tinha uma rainha, um atlas, Patti Smith e Sylvia Plath, restou uma sensação de quase escuro, mas continuo anotando frases nas agendas e como um argonauta ainda fabrico minhas conchas.
De você, sei que a morte rondou algumas vezes, que se tornou um monólito indecifrável. Um ponto num mapa de alguma galáxia desconhecida.
(by, fra

nck)
(imagem: net)

sexta-feira, 6 de março de 2015

Sem título

Num mês morri de amor tantas vezes, o difícil foi ressuscitar em alguns dias.
(by, franck)

domingo, 1 de março de 2015

Antípoda

Por você faria coisas, por você farei coisas. Será uma época em que o tempo terá cheiros, cores, sons e nós dois. Por você penso em correr para o aeroporto quando vejo, por exemplo, um avião cruzando os ares, atravessaria um oceano para estarmos juntos.
Com você faríamos coisas da minha lista-diversão: como voar de asa delta, ver corujas à noite num cemitério, procurar navios atravessando o mar, trocar os móveis de lugar. Para você encomendaria o céu mais azul que hádesse lado de cá do oceano, com pipas coloridas no céu; uma lua amarela-manteiga numa noite para vermos da varanda.
Traga seus cheiros do além mar na bagagem. Já engarrafei alguns para seus dias, como o de arroz com cuxá, da maresia que atravessa toda a cidade, dos pães assando nas padarias das esquinas, do perfume que ficará estranhando nos nossos lençóis. Seremos festa junina, um bumba-meu-boi com todos os seus rituais, também natal, páscoa, carnaval. Não seremos mais antípoda, mas pontos, estrelas, farol.
Sim, por você faria e farei coisas, como ler trechos de poemas da Sylvia Plath ou dos seus diários, cantar Patti Smith, inventar palíndromo, tirar o silêncio dos cantos da casa, me lançar em ondas, cacos, tomar pileques, pisar os dias como se fossem uma mina. Por você. Para você.
Para ter você aqui do outro lado do atlântico, não traga mapas, roteiros, metas. Apenas seja capaz de romper silêncios com o seu olhar, com o seu desejo, com o seu corpo, com suas mãos de taxidermista.
Por você faria e farei coisas, desde que você venha, desde que você atravesse esse oceano que nos separa, aí seremos terremoto em qualquer escala.
(by, franck)
(imagem: net)

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

EU...

Minha foto
São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...