sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Anúncio

Andei tricotando uns casacos, pregando uns botões, cerzindo umas meias. Disseram que deveria colocar um anúncio 'costura-se para fora'. Mas acho que vou anunciar é que já posso casar. (by, franck)

Por quê?

Por quê eletrodomésticos queimam? Por quê eletroeletrônicos dão pane? Por quê lojas não entregam as compras no prazo previsto? Por quê editoras não enviam os livros comprados? Por quê amigos morrem? Por quê amigos virtuais âs vezes também são chatos? Por quê amigos convidam para uma reunião meia hora antes e acham que você está disponível? Por quê peixes beta morrem? Por quê jardins são dificíeis de serem cuidados? Por quê alguns escritores se acham a oitava maravilha? Por quê nem um pequeno prazer para salvar meu dia? ( by,franck)

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Os silêncios que viraram coisas

Bebi seus silêncios. Os que você nunca foi capaz de romper. Por causa deles, uivava com os cães, caminhava os dias como explosivos.
Bebia silêncios e seguia navios, aviões, bicicletas e transeuntes. Era eu aquele blues, aquele fado dolorido. Dentro dos seus silêncios fui descobrindo canaviais. Abelhas. O que era doce.
Por isso, às vezes grito. Às vezes uivo. Às vezes feriado. Por isso, não há correios para enviar as cartas que escrevi dos seus silêncios.
(by, franck)

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

'Escolha o seu sonho'

Outro dia encontrei num sebo um livro de Cecília Meireles que me trouxe recordações de um tempo que meu pai ao acordar de manhã contava seus sonhos da noite anterior. Eu tinha uns quinze anos, já lia muito e me aventurava em alguns rabiscos. Os seus sonhos me fascinavam e eram temas algumas vezes para meus escritos.
Nessa época também descobria Cecília Meireles e sua poética. Um dia vi num catálogo de uma editora o seu livro 'Escolha o seu sonho'; disse ao meu pai que ele deveria comprá-lo, assim teria como decifrar os seus sonhos. Ele autorizou a compra, sem saber que o livro era de crônicas, no qual a autora nos envolve com textos sobre liberdade, incertezas, solidão, felicidade, e, de quebra, sonhos; não os sonhos de quando dormimos, aquele da fase do sono REM, mas os sonhos cotidianos.
Meu pai perguntou sobre o livro vários dias, mais ansioso do que eu. Quando o livro chegou, danifiquei a embalagem antes de mostrá-lo - para que não me fizesse devolvê-lo - e ver sua surpresa que os seus sonhos iriam continuar indecifráveis. Mas os meus foram embalados pela compra do meu primeiro livro.
(by, franck)

Resenha de 'Poemas para dias de chuva'


domingo, 15 de novembro de 2015

Eu estava no seu sonho?

Sonhei com você também. Ao contrário do seu sonho, que eu aparecia imóvel, uma imagem em branco e preto no convés de um navio, sonhei que perco você no meio da cidade, você se embaralhando aos passantes, desaparecendo entre tantos rostos. O vento atravessando sua echarpe vermelha no pescoço.
No seu sonho você voava, vindo do alto para pousar ao meu lado, num navio. Sonhei que tens uma flor na mão, talvez na mão direita, porque carrega uma bebida também. Amarelo e vermelho. Procuro essas cores em outras mãos, outros pescoços, que desaparecem logo depois. Na direção contrária, talvez eu buscasse você.
No meu sonho você sumiu. Você se misturou à cidade e talvez seja aquela asa noturna que pousou ao meu lado no seu sonho.
(by, franck)

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Ancoradouro

A cidade que nos vestia poderia ter sido Veneza
Colônia Del Sacramento
Buenos Aires ou Roterdã.
Lembro que chegavas com as mãos sujas de dia
habitávamos as noites como num comercial publicitário
numa casa na qual as janelas já tinham sido menores.
Na cidade que nos vestia
tua solidão não tinha barcos que faziam doer-me os olhos
mas ias ao cinema e choravas com cenas logo esquecidas
ao adentrar a casa que nos aquecia como um útero
e me encontravas olhando pelas janelas o mar à porta e eu
{pensando
que quando quisesse fugir não precisaria ir muito longe.
Da cidade que nos vestia
esperamos os meses mais frios e partimos
deixamos de ser dois rostos na sua paisagem e nos tornamos
dois acidentes, dois trajetos, dois roteiros diferentes.
Naquela cidade ficou a longura das nossas palavras soltas
{num país que não era nosso
beijos no escuro daquelas noites
e o eterno doer das pupilas fitando barcos nas janelas de vista
{para o mar.
(by, franck)

sábado, 31 de outubro de 2015

Helena

Ontem soube que Helena morreu. Minha primeira amiga de infância, adolescência e por toda sua vida. Com Helena brinquei de amarelinha. Fumei meu primeiro cigarro. Tomei meu primeiro porre. Troquei livros e discos. Escrevemos e encenamos peças de teatro no colégio. Eu queria ser
escritor, ela atriz. Uma noite ela me disse que iria para a capital, atrás do seu sonho e veio. Uma época que trocamos cartas, saudades e poemas. Esperava ansioso o carteiro.
Depois Helena foi para o Rio de Janeiro, Paris e Londres estudar teatro, arte dramática. Mandava cartões postais das suas viagens, revistas e fotos nas quais mostrava suas primeiras aparições como modelo, tinha sido descoberta num metrô, na sua beleza negra e tão brasileira!
No último janeiro hospedei Helena. Fomos aos Lençóis Maranhenses. Dançamos reggae. Tomamos vinho. Rimos e choramos. Falamos do passado e do futuro. Helena estava morando em Roma e combinamos que passaríamos o próximo fim do ano juntos. Mas ontem ela morreu. Dormindo. Do coração. Como só as pessoas sensíveis morrem.
(by, franck)

sábado, 26 de setembro de 2015

Personagens

Numa madrugada à beira mar um príncipe negro de camisa polo, jaqueta de couro e jeans rasgado, com um copo de vodca nas mãos, perguntou no ouvido dele, o plebeu, cansado da noite e com frio -não sabia que na orla marítima fazia tanto frio - mesmo morando desde sempre na ilha.
-Quer casar comigo?
O plebeu disse sim e entrou no bar do Nelson para dançar um último reggae, enquanto o príncipe fumava um último baseado no Jardim do Èden, do outro lado do bar.
Desde então, conta-se, que se Clarice Lispector estivesse viva e tivesse visto a cena de sua janela, enquanto fumava e tomava café nas suas noites insones, os dois seriam personagens do seu 'A hora da estrela'.
(by, fanck)
(imagem: net)


sábado, 19 de setembro de 2015

Os bichos

Libélulas pousam no quarto, cansadas de seus voos. No corredor, elefantes as contemplam cúmplices, com seus olhos tristes.
Na sala, Frida Khalo com suas cores entre chaves, livros e cartas. Drummond na cozinha me olha enquanto recito de cor um poema dele e descubro que também tenho todo o sentimento do mundo.
Na mesa da copa, uma colher bailarina descansa de suas piruetas na jarra de suco de maracujá enquanto as chamas bruxuleantes dos pavios das velas lançam um lusco fusco aconchegante.
Vejo pelo telejornal que na praia uma baleia encalhou e lembro dos golfinhos de Pipa, tão livres. Mas me refugio do calor dos trópicos como se estivesse no aquário com meu peixinho beta azul.
Suas últimas fotografias, postadas num álbum do Facebook me fazem lembrar que estivemos próximos. Quis seus 'galos, noites e quintais'. Seu bucolismo. Ofereci e você não quis  o meu Sol do meio-dia em alguma barraca da orla marítima, em alguma duna ou alguma rua dessa cidade. Me tenha então nos poemas que enviei a você como uma tempestade tropical invadindo o outro lado do hemisfério.
Apesar de tudo, foram bonitos os dias que não tivemos, olhando todos esses bichos inanimados que fizeram da casa meu parque- aquático-zoológico particular.
(by, franck)

Amor

Há manhãs que padeço de um amor novo
solícito
sorrisos
café posto
com as camisas dele no varal
seus sapatos pelas salas.
Há tardes que padeço de um amor velho
áspero
gasto
roupas sujas
louças na pia
onde há eu, ele e todo o resto que não se sabe.
Há noites que padeço de um amor tédio
dormindo no quarto
pentelhos
ácaros
cansaço
nenhum sonho.
Há madrugadas que tropeço em móveis
no vazio
insônia
que padeço desse amor
que não bate a minha porta.
(by, franck)

Pipa

Às vezes quero estar em Pipa. Só para estar num lugar com esse nome bonito. Acredito que o amor nos espera lá, em Pipa. Nas suas praias de mil surfistas e escadas. Nas suas não tranquilas ruas. 
Às vezes quero estar em Pipa. Só para encontrá-lo por lá. Numa manhã. Numa noite com jazz. Vinho. Sorvete.
(by, franck)
(imagem: franck)

Quem?

De manhã 
quem faz tantas dietas
receitas 
ginásticas? 
Nas esquinas 
quem olha tantas mulheres nuas
bebês
rapazes musculosos?
Na cidade
quem tem tantas varandas
piscinas azuis
hortas
jardins?
Quem olha tantas cores
imagens
quase nenhuma notícia
nas bancas de revistas?
(by, franck)

sábado, 15 de agosto de 2015

O homem e suas flores

No calor da tarde de agosto, no ônibus lotado, um homem entra com um buquê de flores artificiais. Para quem seria aquelas flores? Qual sala enfeitaria? 
No calor da tarde, as flores do homem no ônibus não coloriu meu dia, não teve perfume, nem sei de e para onde iriam.
Na tarde, não vi flores naquele homem. Suas flores de plástico morreram quando ele desceu.
(by, franck)

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Cúmplices


                 

Somos sobreviventes, você me diz, enquanto esboço um sorriso, tomo um gole de caipirinha e contemplo a tarde azul, o mar, suas mãos grandes sobre a mesa, seus olhos castanhos e como você perdeu cabelos nesses quase dois anos que não nos víamos. Sim, somos sobreviventes, concordo, enquanto você pede outra cerveja, encaminha-se para a praia e fico pensando em como você emagreceu, não usa mais barba e que fica tão sedutor de sunga amarela, contrastando com sua pele morena e agora tão pálida, após o período que ficaste no Canadá.
Somos sobreviventes do nosso amor, mesmo quando você decidiu ir embora, penso. Como pessoas adultas, civilizadas e analisadas, sobrevivemos as mágoas, aos rancores, a solidão que nos acompanhava. Lembro você me dizendo que “cavalos e cães morrem sozinhos e aos milhares atravessam rios para  se salvar”. Será que você resolveu ir embora para se salvar de você mesmo, de mim, de nós? Será que você se salvou nesses dois anos em terra estrangeira? Será que você se salvou atravessando oceanos? Peço outra caipirinha e o sol cai lilás e crianças brincam com seus cães á beira mar. Você me acena da água, como nos velhos tempos, como se nada tivesse mudado, como se dois anos tivesse sido ontem. Enquanto você abraça ondas, lembro de nossos abraços na cama que nos acolhia todas as noites, até você ir embora, até perceber que nosso jardim ficou áspero, os gatos ficaram mudos e eu fiquei sussurrando pelos cantos, pelas ruas, pela cidade. A casa ficou grande demais sem você e eu que dizia ser adulto e analisado, comecei a sentir saudades sua, mandar e-mails, escrever poemas, programar viagens para visitá-lo. Voltei aos bares, restaurantes, praias e tantos outros lugares marcados por nossas presenças e sua ausência, na tentativa de amenizar as lágrimas, a cama vazia de você, o jardim secando e os gatos mudos.
Sobrevivi ao seu cheiro que ainda ficou entranhando por tanto tempo em cada lençol, cada toalha, cada recanto da casa que foi nossa. Sobrevivi as várias caixas que deixaste guardadas no porão   repletas  de  lembranças, que algumas manhãs com a boca seca, o rosto em prantos, descia para manusear folhetos turísticos da Europa, revistas de Feng Shui,  cartões postais de lugares remotos, reportagens sobre movimentos ecológicos, como se seus pertences fossem objetos recolhidos após um naufrágio. Até que esqueci de descer, como esqueci das caixas e o seu cheiro se perdeu entre outros. Agora você lá, na água, tão próximo e como se sua presença não fosse outra como daqueles outros dias, tão essencial, tão imprescindível.
Sobrevivemos aqueles três anos que dividimos a cama e a mesma cidade com seu mar sempre á vista e que emite uma luz que seguramente é fruto do sal marinho,do sol, com  seus casarões deteriorados por tantos verões, mas que adorávamos subir e descer suas ladeiras no carnaval e nas festas juninas. Sobrevivemos os gostos similares. As sessões de cinema sem ninguém além de nós dois. Caio Fernando Abreu. Ioga. Uruguai. Natal. Você. Eu. Você. Nós. Mas será que sobrevivemos aos planos? Ir à Argentina nas férias. Ver o pôr do sol em São Thomé das Letras. Um verão em Paris. Fazermos nosso mapa astral.
O que você trouxe para mim? Pergunto quando retornas da água, salgado e belo, ainda com gotículas d’água escorrendo  pelo corpo, a sunga deixando seu sexo à mostra –ou quase – enquanto se seca ao vento, toma mais cerveja e diz que trouxe incenso de verbena, o roxo daquelas tardes, um olho escancarado, estrelas falsas... brincando com um poema de Caio Fernando Abreu que líamos juntos em algumas madrugadas de insônia e tesão e quando ainda a paixão nos deixava acordados até o amanhecer.  Sorrio e digo que os sobreviventes às vezes aparecem em busca de papo e você diz que veio porque sentiu saudades, porque foi realmente feliz comigo dentro das quatro  paredes do quarto da casa que foi sua também, nessa cidade. Mas agora sabia também que para se desenvolver numa cidade, no mundo, na vida, era preciso se retirar e se colocar a salvo por conta própria.
Somos sobreviventes, dizemos, enquanto a noite nos encontra leves e tontos de maresia, salitre e álcool. Recolhemos nossas coisas e no bar começa a tocar uma música de Angela RoRo, cantarolamos juntos e nos encaminhamos para o carro, sorrindo cúmplices.



terça-feira, 19 de maio de 2015

Quando atravessei uma cidade



Atravessava a cidade para encontrar você à beira da praia. Tinha uma luz suave aquelas tardes e a praia estava sempre vazia.
Ficava em suspensão as manhãs inteiras até nossos encontros, que adentravam as noites, nas quais me contava da sua vida de viajante e eu tentava explicar a geografia da ilha, a ordem das praias, os lugares que não poderia deixar de conhecer.
Atravessava a cidade de volta para casa - tinha fôlego naqueles dias - após vermos o sol se pôr, os plânctons que cintilavam no mar e as águas-vivas. Ainda ouço sua voz me dizendo que as estrelas brilhavam mesmo depois de morrerem.
Queria ser poeta aquela época. Trancava a porta do quarto e rabiscava uns poemas para você e também algumas angústias. Meu corpo se tornou salitre e Malbec e os sons do mar continuavam durante a noite nos travesseiros como se fossem conchas coladas aos ouvidos.
Atravessava a cidade para encontrar ou deixar você naqueles dias que o céu da boca, os olhos, o corpo eram vestígios de contentamentos.

Daquele verão, apenas aquela praia, rastros de melancolia e saudades.

sábado, 9 de maio de 2015

Souvenir


Naquele tempo que fomos pontos equidistantes nas linhas retas que deveriam nos aproximar, havia sempre uma escala e uma conexão e uma turbulência e algum aeroporto.
Foi um tempo no qual fomos pontos paralelos e os voos e as rotas e os caminhos se cruzavam e por isso abandonamos os mapas com nossas localizações, nossas latitudes e longitudes e nos tornamos linhas imaginárias em algum meridiano.
Naquele tempo os astrônomos anunciaram novas estrelas, planetas, Luas duplas, alguns eclipses; mas não conseguiram identificar no portão de uma casa numa ilha do hemisfério sul, que fui o ponto mais obscuro do universo com meus cinco centímetros mais baixo que você, no dia que me dizia adeus e sumia num entardecer para algum lugar desconhecido.
Nesse outro tempo,sou um ponto brilhante e talvez os mesmos astrônomos me confundam com as luzes da cidade. De você, lembro de uma cicatriz no seu olho direito e tenho entre os guardados como souvenir a caixa preta que foi nosso amor.
(by, franck)
(imagem: net)
..pássaros exóticos sobrevoam o céu da quase noite, aves migratórias em busca do calor e da luz dos trópicos, o mesmo calor e luminosidade que me faz querer migrar também...
(by, franck)
Uma gata ronronando. Uma lista de coisas para fazer. Alguém ao telefone com frases feitas. Não sou bom com números e nem com moral de qualquer história. Tenho o desassossego dentro do bolso e um par de asas de Ícaro nesta tarde de sábado...
(by, franck)
Uma ilha assediada pelas tempestades.......................................................................................................................

A chaleira


Não sabia que eu tinha uma chaleira que avisava quando a água estava fervendo, até ontem ao resolver fazer um chá. Tenho essa chaleira a um ano, acho que não sabia como usá-la. Me assustei como o seu apito no silêncio e na penumbra da casa. Eu queria apenas um chá e deitar lendo um livro na noite quebrada com um silvo inesperado, que ecoou apenas alguns segundos, mas ficou na minha cabeça a noite inteira.
O apito da chaleira foi como se fosse uma companhia invisível; um trem passando e me chamando para embarcar...
(by, franck)

Aniversário

Sábado: levantaria cedo e veria uma revoada de pássaros, ou seriam nuvens? Escreveria haicais. Compraria bonsais. Iria à praia. Tomaria caipiroscas. Talvez um sorvete. Reclamaria do engarrafamento e das pessoas que esbarrariam em mim. Chegaria em casa. Receberia amigos e mais telefonemas. Tentaria me concentrar em vão. Responderia emails. Entraria no facebook. Comeria bobagens. Alimentaria a gata. Veria televisão. Ouviria músicas. Tomaria banho. Colocaria uma cueca samba-canção. Ligaria o ar-refrigerado. Entraria sob as cobertas. Leria páginas de um livro e pensaria que foi meu aniversário e que você não estaria aqui. Ainda ouviria pássaros antes de dormir... Por quê tem sempre alguma coisa que voa em dias de nostalgia?
(by, franck)

Ele

O perfume que você usa ainda entranhado nos lençóis... No carro, Gal Costa, baby, canta para mim a nossa música... Será que ainda vão inventar um analgésico para a saudade?
(by, franck)

Mar e rio

Ajusto as botas que nos levarão ímpares...
Uma bela vista. Um pier. Um rio preguiçoso como nossos corpos. Uma quase noite de amor e vinho. A cidade e nossos lençóis anoiteceram. Macacos não nos morderam em Vassouras, mas vimos pardais cantarem em Caburé. Não vimos lagoas azuis e sim outra geografia na linha do horizonte das dunas.
Um retorno. Nossa trilha sonora ecoando nos ouvidos e na memória. Corpos febris. Para além dos ventos do mar que não vimos, pérola que fosse, serias uma, como nossos sexos derramando nas areias.
Na impossibilidade de nos determos, queremos janeiro, deixaremos o mar com seus mistérios e buscaremos as águas doces das cachoeiras; por isso, ajusto as botas que nos levarão ímpares...
(by, franck)

terça-feira, 5 de maio de 2015

Sobre Ilhas

-Era uma vez uma ilha...
-Nenhum homem é uma ilha.
-Moro numa ilha.
-Quem você levaria para uma ilha deserta?
-Naquela ilha têm um vulcão em erupção.
-No Brasil, três capitais, são ilhas.
-Há ilhas de calor sobre a cidade.
-Existem búfalos, que acho lindos, na Ilha de Marajó.
-Passarei férias nas Ilhas Phi Phi Lek, na Tailândia, onde foi filmado 'A praia'.
-Vamos acampar na Ilha do Medo?
-A Ilha do Bananal, que fica no Tocantins, é a maior ilha fluvial do mundo.
(by, franck)
(imagem: net)

Ilha submersa

Na noite,um grito, que não coube em mim.
Âncora, suas mãos
Asas, sua voz
me acalmam
e na madrugada seus braços me resgatam do sonho-pesadelo
que na manhã cruzou as fronteiras do quarto
as distâncias, aerodinâmico.
A solidão entra pelas janelas e nossos corpos são paisagens cortando o dia
somos belezas apagadas
um símbolo do vazio.
Na tarde,torno-me uma ilha submersa
e o deserto o chama
enquanto os corvíderos trocam suas penas ao anoitecer.
(by, franck)
(imagem: net)

domingo, 19 de abril de 2015

Quase paz





Para ter quase paz misture algumas coisas invisíveis que foram encontradas após uma tempestade ou uma seca, salpique também um dia nublado, uma brisa marinha e flores da temporada.
Para ter quase paz deixe marinando às cidades de sua vida. Noites e dias específicos. Os mapas assinalados com suas rotas de fugas. Aquele livro de cabeceira.
Para ter quase paz leve ao fogo brando aquela viagem inusitada. Uma sessão do seu filme preferido. Cores. Odores. Sensações.
Para ter quase paz, com uma faca amolada corte em pedacinhos tudo que não coagule, como um barco passando. Um voo de um pássaro. O sopro da manhã. Um gole de vinho numa tarde azul. Aquela sua trilha sonora.
Para ter quase paz, sirva-se a qualquer hora, em qualquer ponto da cidade, sozinho ou acompanhado. Como sobremesa, para ter quase paz, a paz.
(by, franck)



Um blues no domingo


Há coisa melhor que acordar com músicas? H. não gosta, se irrita. Mas é domingo, descobri que faz sol após o céu pesar sobre a cidade uma semana. Bom para ouvir blues, regar as plantas da varanda e tomar café na padaria. A previsão é de sol,mas não acredito em previsões, porque a Terra não é o centro de todos os corpos celestes, porque não somos o centro na cadeia da vida e Freud disse que não mandamos em nossa própria casa, e, não acredito em previsões e nem em alguém com quem cometeria pecados que não passassem de vagas promessas, por isso, vou deixar portas e janelas abertas para o sol entrar e o blues sair, colocar as roupas úmidas no varal, porque tem sol, tem blues e é domingo, porque encontrarei amigos num almoço e alguns desses novos amigos são bebês que acham graça nas vozes que faço, nas músicas que canto. Riem de coisas bobas, e, com eles não poderei discutir crise hídrica, manifestações, desemprego, afinal, são bebês, é domingo e tem sol.
Nessa força de envelhecer, como disse Mathieu Lindon, com ela a morte entra na ordem das coisas. Tenho vontade de entrar no mar nesta manhã de sol, deixar o corpo à deriva. Um poeta me contou dos seus poemas que são sobre corpos e corpos mortos, de certa forma em dança uns sobre os outros. Que ele se inspirou em Debussy e suas 'Danças sacras e profanas'. Queria convidá-lo para deixar também seu corpo à deriva ao mar, que fossemos pescar num rio sem peixes, pois as chuvas sempre preenchem os rios. Ah, eu quis beijá-lo, eu que não acredito em previsões, mesmo que seu beijo me fizesse morrer um pouco, mesmo que fosse para doar a parte da asa que falta nele, porque se ave fosse, estaria trocando penas.
Há blues no domingo. Há uma manhã de sol. Há cartas e e-mails para serem respondidos. Há fotos de viagens, partituras e envelopes brancos na escrivaninha. Há quadros. Livros para serem lidos. Há uma abelha sobre meu pão doce e o açúcar silencia o seu zumbido. Teve um vagalume ontem a noite dentro do quarto e o cão achou estranho, ele, tão urbano, como eu. Por isso, quero coisas simples, como pescar num rio sem peixes, um domingo de sol, entrar no mar, uma abelha no meu pão doce. Porque tenho medo da morte. Da velhice. Do fim do mundo. De quantidade. Do amor. Da falta de. Medo que acabe.
(by, franck)
(imagem: franck)

sábado, 18 de abril de 2015

Carta-poema para um amigo escritor


Faz já algum tempo que estou para escrever-te
só resolvi dar um tempo me achei meio babaca
ultima/mente
se eu sou inquieto eu gosto de sua quietude essas suas cartas diretas retas
objetos ativos
e ano passado perdemos Ariano Suassuna Manoel de Barros Nadine Gordimer
e tantos outros abrigos poéticos
seremos felizes?
e como cobram do escritor brasileiro a vendagem a leitura
ha ha ha ha ha o entretenimento ha ha ha ha
sejamos atingíveis todos para que não hajam diferenças
e possamos sorrir satisfeitos a última página
sim, sim
você me diz que dará um tempo para ver se vale a pena continuar
e eu sou muito pouco para abrir a boca e dizer algo
se bem que sim, sim, há algo que eu possa fazer.....
...........................................................................................
(aqui iria uma gilete grudada na folha de papel,
se não fosse um e-mail)
(by, franck)
(imagem: net)

quarta-feira, 15 de abril de 2015

O banheiro


Houve um verão que as baratas invadiam o banheiro todas às vezes que chovia. Ficava aflito quando os trovões, os relâmpagos e nuvens escuram anunciavam alguma tempestade, porque as baratas apareciam misteriosamente no banheiro, muitas, e, ficavam morando lá, impedindo qualquer um adentrar, tomar banho ou fazer qualquer outra coisa.
Naquele verão tentei entender a angústia de Clarice Lispector e o desespero de Kafka e das suas baratas. Tentei alguns truques e receitas caseiras para elas sumirem, sem resultado, mesmo com a dedetização. Comecei a tomar banho no jardim e o banheiro se tornou um espaço sagrado das baratas.
Um dia, assim como elas vieram, desapareceram. O banheiro voltou a reinar branco, limpo e antigo. Mas o que mais estranhei foi que nem tinha terminado o verão e as chuvas, para elas migrarem. Eu que já estava me acostumando com a presença delas.
(by, franck)

domingo, 12 de abril de 2015

Abrigo

Na tarde líquida e nenhuma paisagem
procuro abrigo em livros acumulados e mofados
numa casa que não sei se ainda é minha.
Tenho cinquenta anos nesta tarde, ímpetos de pular janelas e cortar os pulsos
para aliviar as dores do mundo e do meu corpo
que carrega uma alegria inexistente
o cuidado de quem poderia fraturar membros invisíveis.
Na tarde derretida, a tristeza prossegue
mesmo escutando gatos, cachorros, pássaros, homens e outros bichos
na casa quase vazia, quero uma solidão sem paredes
por isso um guarda-chuva guardado numa tarde de chuva
é um crime
 mesmo que esta tarde dure anos.
Nesse corpo confuso, quero carregar essas dores sem queixas, sem analgésicos
nenhum troféu
esse convívio.
Na tarde líquida e derretida
que eu seja um ponto obscuro no mapa de algum google maps
só por esta tarde
só por esta tarde.
(by,franck)
(imagem: franck)

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Cartão Postal


Um menino e a mãe brincam na praia fazendo castelos de areia no sol da manhã.
No sol da manhã um menino e a mãe brincam na praia fazendo castelos de areia.
Fazendo castelos de areia no sol da manhã a mãe e um menino brincam na praia.
Brincam na praia fazendo castelos de areia no sol da manhã um menino e a mãe.
(by, franck)
(imagem: net)

segunda-feira, 30 de março de 2015

Por onde o vento soprou

Na noite que veio aquele vento as mudanças se viram pela agitação dos pássaros, apesar das aves grandes calarem. Um vento violento veio desenterrando guarda-sóis das praias, apagando faróis e a morte rondando o litoral.
O vento talvez fosse um minuano, um mistral ou quem sabe um siroco ou alísios. Sabe-se que os piratas atearam fogo aos navios e o mar esteve vazio de veleiros e rastros de escunas; mas espumas, ondas e o vento derrubaram mascarones das embarcações nos portos e adentrou às casas da ilha quebrando as coleções dos moradores como os carrinhos de ferro do menino Kerouac, as máquinas de escrever do moço Tom, os quadros com as borboletas de Cláudia, as facas da senhora Jolie, as Barbies do Johnny e as canecas que comprei nas minhas viagens.
Aquela noite o vento desestabilizou radares, pombos correios, canais de televisão. Por onde o vento soprou se fez fosso, noite escura, muito barulho. Naquela noite, antes que o dia amanhecesse silêncio e o vento fosse brisa, quis um transatlântico atravessando oceanos e colecionar homens com nomes interessantes.
(by, franck)
(imagem: net)


sábado, 28 de março de 2015

Do Oriente que há em nós


Apesar dos saquês. Dos jogos de yu-gi-oh aos sábados. Dos mangás. Das cerejeiras em flor. Do Oriente que há em você.
Apesar do futebol aos domingos. Das caipirinhas. Das feijoadas. Das novelas diárias. Do Ocidente que há em mim.
Apesar de sermos parque de diversões, não quero mais esse amor kamikase, somos brincadeiras arriscadas.
Meu corpo ataques suícidas, seus sentimentos um pêndulo aos 360º.
(by, franck)
(imagem: net)

Inundado


Inundado de água salgada, movimento-me líquido. Sinto o cheiro e o som do mar, mas não o mar.
Trago grãos de areia molhada. Espirais de ondas. Castelos impossíveis. Faróis. Mas nenhuma ilha.
Tenho o mar que não quer se revelar. Jogarei as conchas que trago comigo ao mar.
Qualquer dia desse me inundo de vento e vácuo. Irei atrás do poente e os gatos me seguirão por ruas desertas.
(by, franck)
(imagem: net)

terça-feira, 10 de março de 2015

Naquela tarde

Na tarde que a rainha da Inglaterra desfilou no seu roll royce e tirou os sapatos para massagear um pé no outro, no litoral brasileiro um estrangeiro olhava um atlas como se quisesse outra geografia.
Naquela tarde tinha um casaco sobre uma poltrona, era seu, mesmo que nessa cidade não precisássemos de casacos. Você me criticava porque queimava minhas dez agendas confessionais, contou sobre os diários de Sylvia Plath que Ted Hughes havia rasgado.
Fez-se um silêncio que você não foi capaz de romper, por isso, na tarde daquele dia, mostrei meu braço recém tatuado, falei de Paris com seus cafés e dos amores que deixei em repouso. Coloquei um disco de Patti Smith e você disse que não gostava do seu visual andrógino, mas queria fotografar como Robert Mapplethorpe e ficou estourando o plástico bolha que envolvia os livros que tinha comprado na viagem.
Daquela longínqua tarde que tinha uma rainha, um atlas, Patti Smith e Sylvia Plath, restou uma sensação de quase escuro, mas continuo anotando frases nas agendas e como um argonauta ainda fabrico minhas conchas.
De você, sei que a morte rondou algumas vezes, que se tornou um monólito indecifrável. Um ponto num mapa de alguma galáxia desconhecida.
(by, fra

nck)
(imagem: net)

sexta-feira, 6 de março de 2015

Sem título

Num mês morri de amor tantas vezes, o difícil foi ressuscitar em alguns dias.
(by, franck)

domingo, 1 de março de 2015

Antípoda

Por você faria coisas, por você farei coisas. Será uma época em que o tempo terá cheiros, cores, sons e nós dois. Por você penso em correr para o aeroporto quando vejo, por exemplo, um avião cruzando os ares, atravessaria um oceano para estarmos juntos.
Com você faríamos coisas da minha lista-diversão: como voar de asa delta, ver corujas à noite num cemitério, procurar navios atravessando o mar, trocar os móveis de lugar. Para você encomendaria o céu mais azul que hádesse lado de cá do oceano, com pipas coloridas no céu; uma lua amarela-manteiga numa noite para vermos da varanda.
Traga seus cheiros do além mar na bagagem. Já engarrafei alguns para seus dias, como o de arroz com cuxá, da maresia que atravessa toda a cidade, dos pães assando nas padarias das esquinas, do perfume que ficará estranhando nos nossos lençóis. Seremos festa junina, um bumba-meu-boi com todos os seus rituais, também natal, páscoa, carnaval. Não seremos mais antípoda, mas pontos, estrelas, farol.
Sim, por você faria e farei coisas, como ler trechos de poemas da Sylvia Plath ou dos seus diários, cantar Patti Smith, inventar palíndromo, tirar o silêncio dos cantos da casa, me lançar em ondas, cacos, tomar pileques, pisar os dias como se fossem uma mina. Por você. Para você.
Para ter você aqui do outro lado do atlântico, não traga mapas, roteiros, metas. Apenas seja capaz de romper silêncios com o seu olhar, com o seu desejo, com o seu corpo, com suas mãos de taxidermista.
Por você faria e farei coisas, desde que você venha, desde que você atravesse esse oceano que nos separa, aí seremos terremoto em qualquer escala.
(by, franck)
(imagem: net)

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Vórtice

Quis umas tardes com você para caber no mar, quando os portos não tivessem navios, mas pontos de silêncio e solidão.
Umas tardes que nos levasse para onde o vento soprasse, como um vórtice. Um móbile. Pipas.
Nas tardes que quis com você poderíamos vestir nossas roupas brancas. Implodir rochas de corais. Irromper nas superfícies. Deixarmos os vazios que carregamos no abissal.
Quis umas tardes com você para caber no mar. Em alto mar, restaram minhas cinzas como uma anêmona e seus tentáculos.
Você ainda prefere nas tardes o fogo e aquele piano tocando na casa ao lado da sua umas canções que não terminam nunca.
(by, franck)
(imagem: net)

Quando as petúnias florescem

Parece que foi ontem que cada passo era um risco, mas caminhar de mãos dadas era bom. As petúnias secavam no varal de um quintal, tinha vento, era uma terra estrangeira e sementes voavam pelos ares.
Era verão, o sol sumia após às vinte horas e as petúnias viravam estrelas e nossos corações pareciam metal e argila. Entre um passo e outro, entre um descompasso e outro dos corações, as sementes floresceram num dia no qual gritei alegrias anunciadas, como um afogado regressando à tona da água.
Parece que foi ontem, mas faz tanto tempo que não mais encontro suas mãos e o meu coração é compasso, as petúnias viraram jardins e agora sei diferenciar o gosto da chuva e do choro.
(by, franck)
(imagem: net)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Clarice e os cães

Na manhã que Clarice perdeu seus cães, ninguém sabe o que aconteceu com ela naquela manhã. Uns dizem que ela esperou no quintal que o dia amanhecesse, com os cães ao seu lado. Depois, como um soldado, fez sentinela no portão de casa esperando trazerem uma encomenda; contam que nessa encomenda tinha botões, rendas, flores, seda, veludo e cetim; que sentada ao lado de uma grande janela, vento no rosto, costurou e alinhavou fios, linhas e tecidos, que colorida e esvoaçante foi à feira do bairro e cheirou ervas e grãos, comprou pães, peixes, rações e adubos.
Na manhã que Clarice perdeu seus cães, ninguém sabe o que aconteceu com ela naquela manhã. Uns dizem ser testemunha ocular que por onde ela passou sentiram um cheiro de rosas, que seus cães fizeram um escarcéu quando a seguiram na feira, e, ela ria num cruel divertimento. Dizem ainda que nessa mesma manhã ela foi na estação ao encontro de um homem de terno azul e óculos escuros, que o viu partir sentado numa janela do lado esquerdo do trem dando adeus com um lenço branco enquanto seus cães latiam como incentivando a despedida.
Na manhã que Clarice perdeu seus cães, ninguém sabe o que aconteceu com ela naquela manhã. Uns dizem que após ela sair da estação de trem foi vista bêbada caminhando pela cidade e falando com os seus cães e outros bichos, com pássaros, árvores e jardins. Que se encaminhou ao mar e nele entrou e os cães farejavam o ar, rosnavam, latiam e sentaram a esperá-la. Alguns surfistas comentaram que Clarice ao adentrar no mar deixou de ser humana e tornou-se uma gaivota, outros que foi uma tartaruga marinha e uns pescadores contam que viram ela se transformar em sereia, talvez Iemanjá.
Na manhã que Clarice perdeu seus cães, ninguém sabe o que aconteceu com ela naquela manhã, mas com os cães uns dizem que nunca mais voltaram para casa, continuaram sentados à beira mar, esperando Clarice. Numa dessas manhãs que já duram dias, meses e talvez anos, um banhista madrugador contou que viu uma moça sair do mar e afagar os cães, enquanto eles abanavam as caudas, latiam e rosnavam, como naquela manhã que Clarice perdeu seus cães.
(by, franck)
(imagem: net)

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Se...

Se alguém perguntar por mim, diz que voltei a trabalhar oito horas por dia e que tenho dormido e acordado cedo. Que tenho andado a pé, de táxi e de ônibus, que um dos problemas da cidade é a mobilidade urbana e os engarrafamentos daqui são quilométricos.
Se alguém perguntar por mim, diz que tenho ido à médicos como um cardiologista,infectologista e uma nutricionista. Que tenho suspirado muito nas esperas dos consultórios, dos laboratórios e dos exercícios físicos. Que não ando comendo pão, macarrão e massas em geral, mas tenho tomado um pouco de vinho, suco detok, lendo muito e escrevendo pouco.
Se alguém perguntar por mim, diz que agora tenho mania de tirar fotografias das pessoas nas ruas, nos cafés e livrarias. Que tenho cada dia mais vontade de escrever um romance, mais poemas, um diário, mandar postais, escrever qualquer coisa e pode ser no quarto mesmo, num banco de praça, na varanda de casa numa manhã luminosa como a de hoje, apenas para não perder o hábito da escrita.
Se alguém perguntar por mim, diz que continuo apaixonado. Casado. Diz que tenho planos de viajar no carnaval, páscoa e todos os feriados prolongados. Que tenho encontrado amigos em almoços de domingo. Que me desapeguei de alguns livros e revistas, mas tenho ido ao cinema nos fins de tarde.
Se alguém perguntar por mim, diz que tenho comprado muitos livros, cds, bananas e camarões. Diz que estou tentado a cometer todos os pecados possíveis como esquecer a dieta, algum dia de folia no carnaval, esquecer os mapas, cronogramas, o perfume, os documentos, comer pizza numa noite de sábado, tomar sorvete, passar um dia ao sol à beira mar.
Se alguém perguntar por mim, diz que vou voltar!
(by, franck)
(imagem: net)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Aquele rapaz

Estou na fila do cinema com uma amiga e do outro lado do saguão um rapaz me reconhece e esboça um sorriso, um aceno tímido e desaparece entre a multidão. Minha amiga pergunta se é um colega de trabalho. Digo que é um personagem do meu livro.
(by, franck)
(imagem: net)

Tardes

Nessas tardes brancas de tão nuas, ele reclama que sou triste e digo que posso chorar nas ruas agora que tenho óculos escuros.
Nessas tardes, nuas e brancas, ele reclama de cansaço e digo que quero andar na cidade até os pés doerem de tantos passos, becos, ladeiras e avenidas.
Quero chegar também ao mar, entrar nele após cinco anos.
Nuas e brancas, são essas tardes que espero cartas. Telefonemas. E-mails. Enquanto ele ouve rock. 
Eu queria ser dessas pessoas que não se incomodassem com adeus. Nem em comer doces. Apenas contemplar essas tardes nuas e brancas, como se fossem dípticos uma das outras.
(by, franck)
(imagem: net)

sábado, 24 de janeiro de 2015

Se eu fumasse...

Se eu fumasse teria pedido um cigarro para ele, ali, fumando na esquina. Seria também uma desculpa para convidá-lo para olharmos a lua, o mar, a explosão de alguma supernova.
Mas eu não fumava, não tinha luar, não estávamos numa cidade litorânea, e, na tarde não veríamos estrelas...
Me contentei em ficar parado do outro lado da rua, ouvindo longe um trem; mas querendo chamá-lo para colher laranjas, olhar ovelhas, subir montanhas... Se eu fumasse teria pedido um cigarro para ele fumando na calçada, mas ele não estava fumando. Ele nem existia.
(by, Franck)
(imagem: net)

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

Previsões dadas...

EU...

Minha foto
São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...