quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Entre dentes amarelados
minha língua
é uma cobra
à espreita
da sua boca.

(by, franck)

terça-feira, 27 de agosto de 2013

CASA

Nina Simone convive pacificamente com Marisa Monte e Tiê, da mesma forma que Caio Fernando Abreu nunca briga com Elizabete Bishop. Um buda de silicone encardido se encontra entre um Kerouac e um cãozinho amarelo brinde do Mac Donald. Dois castiçais em pedra-sabão, que foram presentes, ampara dvds e os cds estão uns sobre os outros, formando três torres. Cestas de vime esmaga revistas de decoração de interior e de geografia, as quais estão também sobre mesas, criado-mudo e estante, revistas que nunca vou abrir de novo e que ás vezes compartilho com amigos ou deixo-as em algum sebo da cidade. Numa mesa grande, que faço de escrivaninha estão o notebook, um pc com defeito, som, aparelho de dvd, impressora, televisor, pastas, um brinquedo móvel encontrado na rua. Caixas guardam fotos, postais, recibos, cartas. Um copo com uma imagem anos setenta, brinde do Bobs, canetas que nunca escrevem, lápis, crachá, tesouras, borrachas e vários cartões pessoais. Nas paredes, uma flor vermelha de Ouro Preto com alguns colares de uma fase mais alternativa; quadros abstratos e pinturas de alguns pontos da Ilha e outros cidades como Londres, Nova Iorque, Paris. Quadros de Lessandro, um numa cadeira de acrílico azul e outro sobre a mesa. Na estante verde e lilás, uma fotografia ampliada de uma paisagem feita numa viagem ao Piauí. Um despertador antigo que é um rádio relógio preto, o qual o rádio não mais funciona. Um mural em forma de globo com fotos, recados e um cartaz da Imaginarium escrito 'tire o amor da sombra, faça dele um manifesto'. Uma luminária azul. Uma cabeceira de madeira. Incensos pela metade. Uma poltrona e um sofá de vimes, envoltos em chitão. Um banco grande de madeira. Almofadas que não combinam. Uma caricatura minha feita por um artista de rua. Um filtro dos sonhos na porta de entrada. Uma coleção de canecas que ganhei de amigos, algumas com lascas nas bordas. Imãs. Um balcão. Uma banheira. Garrafas de vinho que são castiçais com velas coloridas. Uma cama box. Uma rede colorida na varanda. Um pôster com Ana Beatriz Nogueira da peça 'Tudo que eu queria te dizer', na porta do banheiro. O carregador do notebook plugado na tomada constantemente. Uma lata de chá-mate. Lanternas no teto da varanda. Um jardim pequeno. Paredes terracotas. Uma arara artificial. Um garrafão cheio de cortiças. Boinas e um guarda-chuva ou guarda-sol? num cabide. Um incensário e uma manta do Peru. Um elefante colorido de uma viagem a São Thomé das Letras. Uma mandala de Pirenópolis. Um baú vermelho e sobre ele telefone, livros, um peso de papel, castiçal amarelo...
Dificilmente dou festas, mas gosto de receber os amigos para jantares, papos, filmes, músicas. Tenho um muro. Um portão fechado. Não sei se confundem timidez com antipatia. Não sei quem gosta ou não do meu universo particular.
(by, franck)
(imagem: Suely)

sábado, 24 de agosto de 2013

Ele pediu-me para olhar a lua


Ele pediu-me para olhar a lua que parecia pairar imóvel no céu como um pequeno furo. Ela estava lá: lânguida, débil, bela; penetrando fendas, madrugada, ruas, minha varanda, as roupas no varal, as muralhas da China, nossa noite de sábado. Fizemos dela nosso signo. Nosso código. Nossa bússola...
Ele pediu-me para olhar a lua, naquela noite ela parecia um espelho vazio noturno, o qual fez nosso amor crescer para dentro, porque o 'céu é raso como o oceano', os quais nenhum adentramos, mas espero nos perdermos como se labirintos fosse, ainda nesse agosto. Entre tantas luas e suas tantas fases, o sorriso-lua da sua boca é o que quero todas as noites, todos os dias, como se fosse pássaros, estrelas, pipa de papel de seda, balão de festa junina, fogos de artifícios...
Ele pediu-me para olhar a lua, e, se qualquer noite dessas ela não aparecer no nosso céu, cerzirei a noite em estrelas cadentes de papel crepom, farei de papel alumínio uma lua no teto da casa como uma flor. Um sol. Um vulcão. Um rio subterrâneo. Mas darei a ele a lua, assim, ao alcance das mãos. 
(by, franck)
(imagem: net)

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Ele adentrará pelo jardim ou virá pelas alamedas?



Agosto chegou deixando-me beijos engasgados na boca todos os dias. Ele adentrará pelo jardim ou virá pelas alamedas para esses beijos? Fico atento aos sinais e sinto apenas uma dor no coração, nem as flores que colorem as manhãs e que são quase todas de um azul-seda, não ameniza esse estranho medo-alegre que não sabia que agostos poderiam oferecer. Antes que o mês termine, baby, precisamos tomar um sorvete, um açaí, irmos ao cinema ou ouvirmos aquela música cantada por Gal Costa, para que lembres de mim quando estiveres naquela praça de uma cidade do interior, em certos dias, certas noites.
Agosto chegou e me trouxe insônia e alguns sonhos também. Um sonho recorrente é o que procuro-o por ruas e esquinas e jardins e alamedas e nos parques de uma cidade que não é a dele, talvez nem a minha, mas é um sonho bom porque ao atravessar um túnel há sol, um céu azul, grama e ele lá, 'além do horizonte deve ter algum lugar bonito', aí fazemos piquenique, vamos a praia e procuramos estrelas e objetos não identificados no céu dessa cidade, talvez de interior, porque os sinais dos televisores, rádios e celulares não foram captados, tudo emudeceu, menos nossos olhares.
Para atravessarmos agosto, peço a ele que mande-me outras canções que mandarei poemas que oscilarão entre lágrimas e gargalhadas; poderemos trocarmos também pistas, rastros, rotas, saudades, emoções, sensações, cotidianos... Assim, assim, 'dois pra lá, dois pra cá', assim, assim, longe. Perto. Perto. Longe...


(by, franck)
 




quarta-feira, 26 de junho de 2013

Com Maurileni: cartas.
Com Davi: caipiroscas e Chico Buarque.
Com Camila: Viagens.
Com Marizinha: almoços na praia.
Com Eduardo: pousadas e hostls.
Com Lívia: telefonemas.
Com Leda: confissões, que não são mais de adolescentes.
Com Paulinho: tardes de domingo no sitio.
Com Silvana e Chicão: barzinhos.
Com Elizabeth: trocas de livros. Filmes. Segundos cadernos.
Com Suely: saudades.
Com Maria: cinema. Shooping. Compras.
Com Mary e Eugenia: lanches no começo da noite em Raposa.
Com eles: eu.
Comigo: solidão.
(by, franck)

terça-feira, 16 de abril de 2013

No umbigo da noite, levo-te vinho. Seda. Penumbra. Meu corpo.
Na boca mil vezes 'eu te amo'.
E o azul-lilás do olho do furação.
(by, franck)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Na varanda só o vento passa

Estou descalço e não tenho sono. Na madrugada o silêncio parou o horizonte da ilha e na varanda só o vento passa, mas queria roçar de asas, um café, a dor de todas as ruas vazias; porque me sinto assim e sou assim, uma pessoa tão solitária como quem fumou o último cigarro num deserto? Porque quero deixar pegadas falsas para que nunca mais me encontre? Porque escrevo cartas vermelhas e talvez enlouqueça e jogue-me e...m algum movediço porto?

Sou um estrangeiro na minha casa, na minha rua, na minha cidade. Sou um refugiado, talvez algum dia encontrem fotos, postais, anotações, restos de mim... Um dia, numa outra cidade, encontrem tudo isso de mim numa feira de antiguidade. De mim, tão solitário, tão só como a dor de um bicho, talvez de cães que ladram na noite querendo carinho, vozes humanas, a volta dos seus donos que os deixaram na rua.
Quero dormir, mas não consigo. É madrugada. Nâo há mais silêncio na ilha, o Sol colore seu horizonte. Pegadas e carros esmagam as flores no asfalto, as feiras acordam os bairros. Quero ainda um café, meu quarto onde as belezas tristes retornam; quero o branco, o esquecimento, porque não sou eterno, talvez um dia numa feira de antiguidade; mas rasgarei minhas fotos, meus cartões, todos os escritos e declarações antes de morrer. Por enquanto, olho o horizonte e o sono não vem.

(by, franck)
(imagem: net)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

'O mundo sem nós'

(Texto para a Corrente Literária)


Hoje
nenhum pássaro cantou na manhã nossos soluços
porque nem eles, nem nós, existimos mais
mas ainda há um guarda-sol na varanda
gestos tristes nos espelhos
mas os risos que trazem cadeiras as varandas, esses não.
Hoje
nenhuma pipa cruzou o céu azul da tarde
porque não há meninos nas ruas
mas meus sapatos amarelos esperam no quarto
mas o rumor da máquina de costura da casa da minha mãe
não mais
nem música, poesia, cinema, televisão, internet, sexo
restou um perfume suave das tardes febris
uma rosa machucada no jardim.
Hoje
recordando os instantes que passaram
tudo é triste nas casas da minha rua, da cidade, do país,
do continente
porque não somos mais
como aqueles que ficaram.
Hoje
o mundo corre abaixo de nossos retratos
nas roupas pretas dos varais
sem nós.
(by, franck)
(imagem: internet)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Qual era a senha?


Houve um dia que você me disse que as suas tardes ficavam tão vagas, lembrei hoje de convidá-la, passa aqui qualquer tardinha dessas, estou sempre em casa. Vamos dar risadas e é bem capaz
que choremos um pouco também. Não me diga que o convite chegou tarde demais, mas as manhãs são para leite morno com chocolate, vasculhar armários, dormir mais um pouco, às vezes acordo pensando que um abraço apertado poderia me salvar, mas olho para o lado e não vejo ninguém, resignado, fecho os olhos e volto a dormir afogado em sonhos e neblinas. Mas hoje eu sonhei que havia um encontro combinado, a senha era um navio de brinquedo,mas nem estávamos numa cidade à beira mar, estávamos numa cidade ao Sul, entre montanhas, escombros, fumaça, céu cinza... Somos sobreviventes buscando signos, indícios, uma canção, mas o silêncio será a melhor das melodias.
Agora de novo é verão aqui dentro e não sinto mais frio. Mas o meu peito e as estradas ficaram saturadas de uma sensação de extemporaneidade, de atraso, e, restou meu sonho, nosso sonho, um vento lá fora no qual voam desespero, saudade, teu diário que um dia foi tão nosso poema e outras coisas inevitáveis que se encontra em todo lugar. Sou tudo o que tens entre eles e o caos. Espero-a, o céu abaixo deslizando e a distância se desfazendo num campo de girassóis, ervas, um alto castelo, numa lágrima de fogo nos olhos expostos ao sol, e, ainda não cheguei, esqueci a senha, o coração na boca, atravessando a cidade entre ferrugens, latas vazias, multidão, apitos, sirenes, morte e vida, vida e mortem solidão... As estradas saturadas... Tateio, mas quero voar, chegar antes que anoiteça, um coração de pedra e de silêncio... Encontrar você no jardim, ou um tigre, um cão, um beija-flor, o ideograma da morte. Uma flor na areia. O sabor das cinzas. Musgo. O silêncio de dois insetos. O esquecimento com flores inúteis... Mas esqueci a senha, nossas tardes vagas, mas somos sobreviventes e persistentes...
(by, franck)
(imagem: Net)

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

Previsões dadas...

EU...

Minha foto
São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...