sexta-feira, 20 de abril de 2012

Uma balada ao cair da tarde


Ficamos ali, naquela praça, no centro da cidade, numa tarde de abril. Ríamos. Mãos dadas, bobos. Talvez apaixonados. Vimos nossos dentes amarelados de fumo e café, dissemos que precisávamos irmos ao dentista, que precisávamos de roupas novas, você com sua camiseta desbotada e eu com meu moletom surrado.
Ficamos ali, naquela praça, olhando podarem as árvores, ipês? Não sabíamos, mas sabíamos a canção que tocou na loja da frente, cantarolamos juntos. Ríamos. Risos frouxos. Largos. Olhos nos olhos. A tarde caia, mas não olhávamos nossos relógios, mas ouvíamos o badalar do sino da igreja na outra rua.
Ficamos ali, naquela praça, mãos dadas e risos ecoando. Combinamos irmos ao teatro, 'tudo que eu queria te dizer', e, pensei que não precisaria ir ao teatro para dizer-te da minha alegria. Dos meus medos. Dos meus sonhos. A noite chegava e ficamos olhando os transeuntes, pombos, vendedores, a cidade aos poucos se iluminando e nossas mãos se tocando, nossos olhos nos buscando, nossas bocas se aproximando.
Ficamos ali, naquela praça, no centro da cidade, na quase noite acontecendo. Me convidaste para irmos a Paris em junho, disseste que Paris é uma festa, lembrei de um conto do Caio, de Lyon, vinho, inverno europeu. O convidei para irmos à Buenos Aires em junho, comemorar aniversário de um amigo, talvez esquiar em Bariloche, dançar um tango. Você me disse que preferia Piaf, ponte
Neuf, brioche, Juliette Binoche. Divagamos. Rimos. Rimos. Rimos...
Começou a chover na tarde-noite de abril, na praça, na cidade, e, continuamos ali, encharcado de chuva, da tarde juntos, da nossa quase paixão. Bobos, mãos dadas, risos se confundindo, vimos balões no céu chuvoso e nem era junho, nem estávamos em Buenos Aires, ou Paris.
(by, franck)
(imagem: internet)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Réquiem para um cravo

Cravo em ré maior, no trapiche. Flauta, no piér. Violino.
Guitarra, na maré. No refúgio.
Não amarelou, o cravo, da ilha. Pensei em girassol, não era. Nem flor.
Nas noites, reggae. Rappa. Beethoven. As manhãs, sem sol e sal.
Cordas arrebentadas e mucho, o cravo, silenciou. Sonhando com neve, nas tardes quentes do hemisfério sul.
Dele, fiz oferenda.
Joguei-o ao mar, numa madrugada. Rumo às Índias. Aos Pólos. Outras ilhas.
Cítara, ecoou.
(by, franck)
(imagem: internet)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Uma carta para D...


Desculpe oferecer minha confusão a você, desculpe por não podermos estar juntos nesse feriado, desculpe pelo melodrama inevitável. Nunca serei capaz de escrever a carta que eu realmente queria escrever a você, esta carta não é a que estive escrevendo para você na minha cabeça nos últimos dias. Eu gostaria de fazer era um desenho para você.
Sinto saudades do que ainda não compartilhamos, parece uma combinação tão surreal de coisas, cafés da manhã, almoços, jantares, ligações telefônicas, mensagens pelo celular, caminhadas... Nossa espécie de mundo que ambos criamos. Sinto saudades, mas queria outras histórias, que o atendente da livraria olhasse para mim de forma diferente, que na fila da padaria alguém silenciosamente me entregasse um bilhete, que no escuro do cinema pegassem na minha mão, sei lá, comecei a inventar, a sonhar, a pensar situações assim, para afastar você dos meus pensamentos, mas o mais estranho é que esses pensamentos de minha imaginação seria você. Não consigo dizer o que quero, espero que você leia as entrelinhas. Tenho tido inveja das certezas dos outros, da segurança de vidas fixas. A vida é mais cruel que os sonhos. Porque o mundo exterior não acompanha meu estado interior? Porque os mesmos carros passam pelas mesmas ruas? As mesmas lojas vendem os mesmos produtos para as mesmas pessoas? Quando eu queira outro cenário, talvez o céu que você diz que agora é azul, a praia que você se encontra, queria ser pássaro alegrando o seu quintal.
Não sei se essa carta me trará alívio ou lembranças de nossos dias que ainda não vivemos. Só sei que o dromedário, que nunca fui, tornou-se mais leve à medida que ando pelo tempo livre, livrando-me de memórias, fotos, músicas, livros... Espalhando pelo deserto e deixando o vento enterrá-los na areia. Desculpe oferecer minha confusão a você, repito, talvez porque fins de tarde dominicais há muito me entristecem, lembra-me morte, negócios inacabados, culpa, perda, solidão... Desculpe meu melodrama, mas eu sinto saudades do castelo que construimos. Às vezes, as coisas mais reais só acontecem na imaginação. Lembrar do que nunca aconteceu.
(by, franck)
(imagem: franck)

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

EU...

Minha foto
São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...