segunda-feira, 31 de maio de 2010

DESABAFO EM TARDE DE CHUVA


...'Talvez a salvação viesse em naves espaciais, atari, eletrochoque ou a própria loucura. Talvez saber chorar ajude muito"...
(Trecho do poema 'Pra Ana C. e Caio e todos nós', do livro 'O perigo do dragão', de Bruna Lombardi)



...Aí parei tudo, bati com a mão na mesa e gritei: CHEGA! Cansei, para tudo, assim não dá mais. Quero mudar tudo. Quero um novo visual: olhos verdes, um bronzeado legal, umas roupas transadas, enfim, quero ficar 'lindão', quero ficar um gato. Surfista e BURRO. Quero namorar uma 'gatinha' charmosa e também BURRA. Estudar na UFMA (Administração, Direito, Economia), Porque? E você ainda pergunta? Ora, cheguei a conclusão que só os burros são felizes. Eles não pensam, assim não sofrem. Questionar o quê? Eles não questionam nada porque nada é questionável. A gente é metido, pensa, questiona tudo e acaba nesta merda. Pode? Eu acho isso sacanagem braba. Pensa bem, qual é o burro que não se dá bem? Ficam lá no barzinho de papo-pro-ar, rindo, bebendo, namorando e não esquentam a cabeça com nada. Depois casam, fazem filhos e a história se repete. Enquanto ficamos batendo cabeça pelos cantos. Acha isso justo? Eu cansei. Declarei calamidade. A gente passa o tempo todo questionando tudo, mil grilos na cabeça e o resultado é o que? Sendo assim, largo a bandeira (abrir entradas na mata virgem pra quê?) e pego a prancha de surf.
Semana passada eu havia abticado de cetro, coroa, trono e tudo mais que me decorava como rei da depressão. Lancei mão da espada e gritei por independência. Disse que queria mais é levar a tudo no 'oba-oba', que a vida era uma festa, que devíamos dar gargalhadas. Quero renascer, reviver, reinventar minha vida. Deixar de lado a brancura dark e pegar um sol, pegar um bonze, entrar para uma academia, fazer duas horas diárias de musculação, tratar o corpo, porque a mente foi para o 'beleléu'...
Não me estranhem, hoje estou assim, sabe quando as coisas esgotam-se? Minha deprê foi tanta nos últimos dias, fui ao fundo do poço que não restou nada, a lama secou, as paredes ruiram. Por sorte sobrei. As pessoas me machuram tanto, praticamente destruiram com meu coração, ok, elas venceram, a desilusão foi tanta que não sobrou nada. Somente agora estou me reerguendo. Ontem a tarde, baixou o santo aqu em casa, era Angela RôRô, Bethânia, Nina Simone, Marina, Cazuza, gritando aos quatro cantos desta casa. E eu ali, 'sem pai e nem mãe'. E hoje, eu estou assim, querendo um colo, café na cama, um abraço, faço qualquer coisa por um, 'me abraça que eu te dou meu sangue'.

domingo, 30 de maio de 2010

..."e os meninos da rua fizeram um belo balão, com as cores dos olhos e a forma de um coração"... ('Belo Balão': Gonzaguinha)


3 x 4







A pipa ganhou mais linha e rodopiou no ar

entre pássaros

vento

urubus

céu azul

sol e outras pipas.

Pela janela

o colorido da tarde

tentava invadir meu preto e branco.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

UM AUTÓGRAFO DE CAIO FERNANDO ABREU

Em 1991, tive o prazer de conhcer Caio Fernando Abreu e gozar de sua presença por uma semana, aqui em São Luís, numa oficina para 'escritores iniciantes', ou algo assim, porque ainda continuo iniciante. Levei um conto para apreciação intitulado 'Uma história quase verde', que se perdeu nas gavetas da minha casa, e, o qual ele iniciou a oficina, olha que luxo! O conto totalmente influenciado por Caio, que tinha recém descoberto e não parava de devorar todos os seus livros, contos, escritos...
Numa das noites dessa oficina, levei 'Os dragões não conhecem o paraíso' e ele autografou, com uma dedicatória muito carinhosa, a qual divido com todos vocês, fãs desse gaúcho como eu!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A SOLIDÃO SEGUNDO...EU (II)


"Os homens precisam da ilusão do amor da mesma forma como precisam da ilusão de Deus. Da ilusão do amor para não afundarem no poço horrível da solidão absoluta; da ilusão de Deus, para não se perderem no caos da desordem sem nexo".
(Caio Fernando Abreu em 'Os dragões não conhecem o paraíso')




Ontem a noite olhei o céu quando vinha de uma cidade vizinha, na qual leciono, e vi a lua e a noite estava muito quente, ouvia rádio e na auto-estrada cheguei a conclusão que estou só, de uma solidão tão absoluta que palavras não há, como o Minotauro que percorresse e conhecesse cada um dos corredores de seu labirinto, cada mancha, o esporádico musgo, a fenda incerta entre as pedras, e, conhecendo, dissesse para si: estou só. E só ele saberia o quanto suas palavras diriam dele, sem que se pudesse ouvir.
Não há em meu horizonte pessoa com quem eu possa dialogar, ter conversas sérias, isto é impossível com as pessoas que me rodeiam ( 'o inferno são os outros', sábio Sartre). Já desde o início do ano mantenho uma espécie de diário onde, como o Asterion de Borges ( que é o próprio Minotauro), digo a mim mesmo como foi meu dia, o que fiz, o que penso sobre esta ou aquela pessoa, e, não vejo como poderia ser de outra forma.
Ainda bem que tenho os livros, as músicas, os filmes, os amigos da blogsfera, o mar, as ladeiras dessa cidade, o céu azul...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O QUE VOCÊ AMA FAZER?


Um celular gigante virou ponto turístico em París, quinta-feira passada (20), em frente ao Museu Pompidou. E pessoas do mundo todo, até ontem, puderam enviar suas mensagens e fotos com o tema: 'O que você ama fazer?', e, esses recados foram exibidos na tela do aparelho; as declarações de amor, fotos de animais de estimação e viagens, estão entre os recados mais enviados.
Por que tudo isso? Por que gostaria de lançar aos amigos da blogsfera a mesma pergunta: O QUE VOCÊ AMA FAZER?, que enviassem ao blog suas respostas, suas fotos, aceitam? Não tenho um celular gigante para exibir as mensagens de vocês, mas tenho o 'Poemas, Chiclete & Som.

domingo, 23 de maio de 2010

PARA LER OUVINDO BILLIE HOLIDAY


C I N E M A




DUAS HORAS DA MADRUGADA

FRIO.

SOBRE A MESA

COPO DE VINHO TINTO E SECO.

BILLIE HOLIDAY

E MINHA PRESENÇA

AQUI NESTA CENA.

UMA LETRA DE MÚSICA


Esse blog me deu uma amiga muito sensível e inteligente, a Cathiano, do blog Observando e Absorvendo, a qual está no Rio de Janeiro, curtindo as belezas urbanas que essa cidade oferece, e, num papo via orkut, comentei para ela que receberia um amigo Chinês nesse domingo, e, disse que visto assim, o mundo parecia tão pequeno... Aí ela me perguntou, por que não colocar a música O MUNDO? Essa música, realmente, é um resumo de tudo que comentamos. Aí está:


O Mundo
(Lenine, Zeca Baleiro, Moska e Chico César)


O mundo é pequeno prá caramba
tem alemão, italiano, italiana,
o mundo, filé à milanesa
tem coreano, japonês, japonesa...
O mundo é uma salada russa
tem nego da pérsia
tem nego da prússia
o mundo é uma esfiha de carne
tem nego do zâmbia
tem nego do zaire...
o mundo é azul lá de cima
o mundo é vermelho da china
o mundo tá muito gripado
açúcar é doce
o sal é salgado...
O mundo caquinho de vidro
tá cego do olho
tá surdo do ouvido
o mundo tá muito doente
o homem que mata
o homem que mente...
Por que você me trata tão mal?
se eu te trato tão bem!
Por que você me faz o mal?
se eu só te faço o bem!...
Everybody, filhos de God
everybody filhos de Gandhi
só nao falamos as mesmas línguas...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

VOCÊ ENTENDE DE FANTASIAS?


..."não viro vampiro, eu prefiro sangrar"...
(Engenheiros do Hawaí)






Agora, pare tudo. Se for possível o impossível, pare o mundo. Olhe fundo nos meus olhos. Fundo. Mais. Procure lá no fundo dos meus olhos o reflexo de teus olhos. Então, mira o reflexo de teus olhos nos olhos meus. Se você chegou a esse ponto, ótimo. Você está pronto. Você está diante do labirinto onde a verdade te abrirá caminhos e a mentira te jogará num abismo sem volta. A escolha é sua. É pegar ou largar. Não, não é nada disso. É negar ou aceitar. Retome o passado em tuas mãos. Lembre-se de todas aquelas horas de carinho, e se negares tudo, dizendo que não sentes saudade do que fomos... e se mentires a mentira que nem mesmo você acredita, então não haverá mais saída. Não haverá mais salvação. Sei das dúvidas, conheço as dores que sentes, você é daqueles que sofre por abafar um desejo, você é daqueles que não consegue soltar as algemas que prendem tuas mãos. Você é daqueles que contém aquilo que nunca deveria ser contido: o desejo!
-VOCÊ SABE DESENHAR?
...Sei que ele vai chegar, mas porque esta demora? Como matar este tempo entre sua partida e seu retorno? Se ao menos eu soubesse desenhar, riscaria no ar um rosto para acariciar. Inventaria estórias ou quem sabe ciraria sonhos. Te aguardar é tão difícil. Na escuridão do quarto, um sorriso vagueia perdido. Tudo isso é sonho, esse você nunca existiu... Tudo sonhos, tudo mera fantasia.
-VOCÊ ENTENDE DE FANTASIAS?
...Sinto um frio longe do teu colo, e esta manhã nua de você? Choro por puro desespero de não conseguir parar de pensar em você. De fantasiar você. Choro por nós. Elaborei fórmulas para te esquecer, fracassei em todas. Este vento frio. Estas nuvens, ocultando um céu azul, um sol...
-VOCÊ ENTENDE DE SONHOS?
...Cada letra deve ser contrabalanceada com o som da letra seguinte, cada palavra deve ser muito bem pensada, cada frase deve ser muito bem elaborada. Cada olhar deve ser apagado. Cada sonho. Todo sonho deve ser esquecido. Onde falta espaço? Onde sobra espaço? Toda estrada era para ser trilhada, toda estrada é percorrida por pneus ultra-mordenos. Agora somos tão tristes...
-VOCÊ ENTENDE DE SAUDADE?
...Você nunca existiu, acho que foi fantasias, repito. Que foi uma miragem. E...me deixou uma saudade, uma vontade de, sei lá, eu sei que tudo pertence ao passado e que ele nunca mais voltará. Olho a rua e não tenho vontade de sair, mas hoje é sábado, foi num sábado, numa madrugada fria, por isso todo sábado exige 'sempre uma dose a mais'. E a solidão do quarto? Lembro da cara das pessoas no bar, na boate, nos cinemas, nas ruas, e, não vejo nada. O resto são restos que formam um enorme mosaico atrás do qual oculto minha tristeza.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

HAI KAI


NOITE
DE
FRIO
SUA
BOCA
COMO
UMA
LUVA.

S E L O !




Vez em quando, lendo os blogs, alguém comentava que tinha recebido o selo tal. Ficava imaginando por que se recomenda um selo a um blog? É status? Como tudo passa, passou também meus questionamentos sobre os selos, e, hoje, surpresa das surpresas, a Kêmulla, do Blog http//www.kemullagrohmann.blogspot.com, me presenteia com um selo, o que muito me emocionou... Obrigado Kêmulla, e, como de praxe, não vou quebrar a corrente, seguindo as regras desse selo:


1-Postar os selinhos no seu blog; ( ok, aqui estão eles)
2-Me deixar um recadinho; (escrito, postado...só ler)
3-Listar cinco coisas que mais gosta de fazer:
- Ler;
-Escrever;
-Ouvir músicas;
-Assistir filmes;
-Ir a praia à tardinha;
4-Indicar 10 blogs para receber os selinhos; (Essa foi a mais difícil, como fazer essa seleção? Resolvi indicar quem está comigo desde o começo, mas queria que todos tivessem seus selos, se achar que é importante ganhar um selo... )
BLOGS:
*Observando e absorvendo
*Poesia,vinho tinto e tudo que me parecer interessante...
*Silêncio em todo lugar.
*Tudo de mim
*Urbi et Orbi
*Something
*Só enquanto eu respirar
*Leonardoandme
*Talles Azignon
*Me permita

terça-feira, 18 de maio de 2010

..."sou um velho diário/perdido na areia/esperando que você me leia"... (Vander Lee: 'Esperando aviões')




Hoje, algumas frases perdidas/achadas nas agendas (para não dizer diários).


*Dia 01/05/2010
É com tamanha urgência que te escrevo, que chego a ter medo de não terminar nunca.

*Dia 05/05/2010
Desejo que me queiras
como te quero.

*Dia 08/05/2010
Recebi tua carta, não sei o que dizer. Essa loucura me faz tão bem. Pura magia. Luz que brilha no fim do túnel. Farol da minha praia. (BREGA).

*Dia 12/05/2010
Escrevo urgente. Com a urgência de quem procura ser infinito nesta estrada finita. Tenho visões de pássaros, de formigas, de gigantes. Visões que não revelam nada além daquilo que já nem sei se sei.

*Dia 13/05/2010
Ódio e Paixão.

*Noite
É o que é
não sei porque.

*Dia 16/05/2010
Minha mão treme. Não quero pensar em nada. Não quero lembrar de você. Quero me concentrar numa leitura vã, ou ir ver o mar. Como fazer para não pensar naquilo que se está pensando?

*Dia 17/05/2010
...e a mesquinhez do teu amor...

*Noite
Este silêncio trêmulo em teu rosto. E estes meus lindos olhos verdes, que não tenho, a te fitar.

*Dia 17/05/2010
..."concomitantemente aprendi que se perde sempre. Só os salafrários pensam que ganham"... (Sartre)

*Noite
Quero lhe dar um beijo
e que esse beijo lhe seja doce.

*Dia 18/05/2010
...e você me pede calma, se eu ficar mais calmo, eu GRITO!

*Noite
Abandono? Não sei o que é isso, nunca alguém me teve, para que depois pudesse me abandonar.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

misterioso poema


..."cabe tudo no mundo/que alívio/cabe até eu/que pensei que nunca caberia"...
('Cabimento': Kleber Albuquerque)







AI POEMA

QUE NÃO VEM...

DIZ-ME TEU NOME

SIM

AINDA QUE EU SOFRA.

domingo, 16 de maio de 2010

Um texto de Caio Fernando Abreu





..."no dia em que fui mais feliz
eu vi um avião
se espelhar no seu olhar até sumir"...
('Inverno': Adriana Calcanhoto & Antonio Cícero)


A Perda
Quando passo às vezes por aquela esquina, espio sempre a outra rua por trás da igreja. E mesmo sem querer, sem perceber claro o que sinto, lembro daquela tarde em que fui visitá-lo pela última vez, depois voltei caminhando pela rua cheia de árvores tão altas que suas copas se encontram e se misturam no alto, como num túnel redondo, irregular, a pensar coisas que nem lembro mais.
Quando passo por lá assim rapidamente, numa tarde como a de ontem ou outras iguais tantos meses passados, penso se não deveria retomá-la, essa rua, essa caminhada, mas sem ele agora, uma tarde, noite ou manhã quaisquer para refazer o percurso inverso até a casa dele, onde nem mora mais. E parado naquela esquina feito espião, contemplar a sacada daquele décimo andar onde costumávamos nos debruçar abraçados para olhar aquela rua lá embaixo, sendo aos poucos coberta pelas sombras da tarde furando a copa-túnel das árvores. As sombras que crescem devagar sobre o asfalto quente do verão passado. As sombras, enfim.
(Texto do livro 'Os dragões não conhecem o paraíso', Edt. Sulina)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

V Í C I O


..."Lança teu destino em outro mar/não recues nunca pra ancorar"...
(Isabella Taviani:'Canção para um grande amor')




TEU VÍCIO

COSEU NOSSO AVESSO

NUM ISTMO

NAVERRANTE

ENTRE

FERIDA E CICATRIZ.

terça-feira, 11 de maio de 2010

A solidão segundo... EU


É outono. Lá fora é terça-feira. Aqui dentro desta casa acho que é inverno, não sei se é terça-feira, é Nina Simone 'Don't let me be misunderstood'. Incenso. Fumaça de incenso perde-se no ar, ou acha-se. Vinho tinto. Rua deserta. Eu deserto de mim. Existe um vento que anuncia uma provável chuva. Ponta de um baseado no cinzeiro. Ontem 'Do começo ao fim', belo filme. Oh! minha Nina Simone agora quase chora em 'Ne me quitte pas'. Teu bilhete sobre as almofadas. Leio 'O príncipe das marés' só pra sentir você presente, como aquela tarde que fomos ao cinema ver o filme com o mesmo título. Te quero aqui e agora, e, assim tenho você aqui e agora recostado em meus braços. A coisa é de uma loucura, sinto teu cheiro, escuto tua voz. Estou meio louco. Quero dizer que te amo, mas não me atrevo. Porque sei que isso é mentira. Sinto que te amo, mas isso não é verdade. Esse meu amor é resultado de uma carência profunda. Não posso amar alguém que nem nesse país está. Mas como o amor está acumulado em mim, como o amor está transbordando em mim, tenho que derramar sobre alguém. E a pessoa mais próxima é você. Choro ou corto os pulsos? faço um chá de capim-limão, isso me acalma. Tenho um beijo contido em meus lábios, só pra você.
O tempo é agora. Não existe ontem e o amanhã nunca chegará porque já é hoje. Para uma criança não existe passado nem futuro. Numa cabeça de criança existe apenas o agora, o já. E porque a gente não cresce assim, vivendo sempre o agora? Porque a gente fica feio e burro?
Estou muito inseguro, estou muito sem apoio. Por que essa solidão? Por que será que não pinta uma paixão? Também não sei se é isso que quero, por isso estou assim meio perdido, meio que querendo amar todo mundo. "Todos de uma vez"... Ontem avistei você na rua (ou não era você? ). Pirei. Você acredita em amor a primeira vista? Pois é, mas você não quis. Bateu uma vontade de chorar quando o encontrei e não pude tocá-lo. Preconceitos. Só sei que me despertou aquilo que não sei o que é. Fome talvez. Fogo provavelmente...
Minha vontade mesmo é ir para teu encontro, para fora desta terra batizada de Brasil. Este país está um caos e o mundo está um caos maior ainda. Nem o mar no fim da tarde tem me acalmado. E fazer o que? gritar? Falar? Protestar? Onde? Resta o que? Ficar de boca calada?
Estou muito só. A solidão não me apavora, o que me assusta é que esta solidão está me fazendo muito bem. Estou sabendo conviver bem com ela, quando ela me visita num livro, num filme, num texto de algum amigo no blog, num poema, numa música... Só sei que tenho uma dor e sabe quando tens uma dor e não sabe ao certo onde dói, aí fica apertando com o dedo até chegar ao ponto x? Estou escrevendo como quem tateia com o dedo para achar o ponto x da dor... Pois é, estou mais ou menos assim, mas tateando... Viva nós. Sobreviventes. Sobre viventes.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

(OUÇA UMA CANÇÃO DE AMOR PARA LER ESSE POEMA)


..."O amor é um grande laço
um passo pr'uma armadilha"...
('Faltando um pedaço':Djavan)




Se eu demorar


meus poemas


estão no congela(dor)


retire-os e coloque-os no forno


(em temperatura branda por sete minutos).


PS: Pode ir comendo-os, trarei canções para sobremesa.

domingo, 9 de maio de 2010

T É D I O


(Para ler ouvindo Angela RoRo:
'Fogueira')




Às vezes

minha solidão queima

para acalmá-la, invento geleiras.

Às vezes

para tentar afogá-la

invento fogueiras.

sábado, 8 de maio de 2010

Lista de cds, filmes & livros e outras milongas...



"A vida sem música seria um erro."
(Nietzsche)


Teremos sempre uma trilha sonora nas nossas vidas, música sempre nos embalará no nosso cotidiano, nos momentos legais (ou não), em qualquer acontecimento legal (ou não), nos lembrará pessoas legais (ou não)... E, pensando nisso, coloquei no post do dia 07.05.10 para que fose escolhida sua trilha sonora ao ler o 'polvo', poema postado.
Agradeço quem leu e não colocou sua música, e, também quem colocou, como: Jacson, Sônia, Marcelly, Nino, Cathiano, Richard... E porque tudo isso? Por que estive de licença médica, voltarei na segunda (10.05) e essa convalescença foi embalada por muita mpb (que adoro, sempre), blues, rock... Farei uma lista dos cds que me fizeram companhia nesses dias (não os dez mais ou aquela lista das coisas que você teria que fazer antes de morrer), assim como fiz dos livros e filmes que estiveram sempre à mão.
Eis:
*Memórias, crônicas e declarações de amor- Marisa Monte
*Paisagem humana - Rubi
*Maria Gadu - Maria Gadu
*V - Legião Urbana
*Nove - Ana Carolina
*As canções que você fez pra mim - Maria Bethânia
*Pelo sabor do gesto - Zélia Duncan
*Baladas do asfalto e outros blues - Zeca Baleiro
*Pato Fu ao vivo - Pato Fu
*Saiba- Arnaldo Antunes
*Ventura - Los Hermanos
*O melhor de Nina Simone - Nina Simone

sexta-feira, 7 de maio de 2010

(Façamos o seguinte: escolha a sua trilha sonora para ler esse poema)




P O L V O






Sou um polvo
tenho mil braços para te abraçar
mil braços para te aninhar.
Mas você não vem
você não quer.
Sou um polvo
tenho mil pulsos
para cortar.


(Então, qual música você ouviu?)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Para ler ouvindo o cd 'Memórias, crônicas e declarações de amor'-Marisa Monte


"E no meio de tanta gente eu encontrei você
entre tanta gente chata sem nenhuma graça
você veio
e eu que pensava que não ia me apaixonar
nunca mais na vida".
(Não vá embora: Marisa Monte & Arnaldo Antunes)



PAIXÃO

Tentei
abrir o gás
cortar os pulsos
o fundo do mar.
Tentei
o escuro do quarto
masturbação
músicas e filmes
leitura em excesso.
Tentei
me drogar
a noite e seus bares
alguns homens e outras mulheres.


Desespero à parte
essa paixão e suas consequências
disseram que estava escrita na palma da minha mão.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Para ler ao som de 'Vento no Litoral' de Renato Russo




-"Ei, olha só o que achei: cavalos-marinhos."
(Renato Russo: Vento no Litoral)






Num dezembro
dançando em bares, viverei
beijarei bocas tão carentes quanto a minha.
Às seis horas da tarde
numa vila à beira mar, viverei
flertando com os nativos
encantado com rendas e estrelas do mar.
Num dezembro de céu azul, viverei
com passeios no cais
ocaso refletindo serpentes, leões e dragões marinhos.
Numa noite, sem luar, de dezembro, viverei
com a sensação que comigo há pérolas, conchas, algas,
mistérios do mar

Na manhã seguinte, morrerei
ao saber que cotidianamente dezembro segue.

Inédito


Em meio a penumbra e início de noite

nossos corpos se enroscam em lençóis de linho

consomem vinho

vivemos uma história de amor ou tesão?

Pelas frestas nossos fantasmas espreitam.

Lá fora as cigarras entoam as canções primeiras.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Para um alguém em Buenos Aíres (II)


As cartas envelhecem como as pessoas, ou os vinhos. Tenho várias cartas na minha casa, envelhecidas não sei de que forma, pois já há tempos que não as vejo, mas que, eventualmente, reencontro e envio para você decidir se as degusta ou se apieda delas. Ou ambos.
Mas por que este assunto agora? Por que pensei em te escrever, e pensei: por que se escreve uma carta para alguém? Ou deveria dizer para um determinado alguém, já que alguém dificilmente são iguais? Mas decidi agora: não penso mais nada. Escolho aqui do meu (que em poucos sentidos realmente me pertence) livro do Fernando Pessoa uma citação para entremear esta cartinha. Eis:
"O pastor amoroso perdeu o cajado,
e as ovelhas tresmalharam-se pela encosta,
e, de tanto pensar, nem tocou a flauta que trouxe para tocar.
Ninguém lhe apareceu ou desapareceu. Nunca mais encontrou o cajado.
Outros, praguejando contra ele, recolheram-lhe as ovelhas.
Ninguém o tinha amado, afinal".
(O pastor amoroso)
Não sei por que cargas ´d'água (bonita expressão) queria esta carta carregada, melhor, recheada de citações. Mas o acaso - ou o destino - encarregou-se de dizer pela voz de Fernando Pessoa aquilo que eu queria te dizer, ou não?
Bem, chega destes brinquedos de decifrar, isso me lembrou aquela pessoa de Recife, lembra? Ele falou uma vez que nós estávamos 'brincando de seduzir'. Nunca mais falei com ele, ele tinha se apaixonado por mim, quase nos encontramos em Pirinópolis, mas ele disse que o telefone estava sempre ocupado (num email meio desesperado, sem pontuação, um fluxo meio joyceano ou pretensamante tal).
E as coisas aqui, como estão? Em processo, é o melhor que digo. A casa, meus empregos, eu, tudo em processo. Estive doente, quize dias de licença que foram bons, para mim, ajudou-me a enxergar mais e melhor alguns dos meus processos, e, não é pela dor ou pelo sofrimento, é como se desobstruísse alguma coisa interior. Uma coisa bonita, precisa ver.
Eu gostaria é saber de você, como andam suas coisas, em processo? ou em estagnação? Quais são suas palavras para mim? São para mim, para que? Olhos, ouvidos, boca, mente, coração? Sexo? ele anda fiel a mim, por falar nele, lembrei dos nossos longos beijos de despedida, onde você quase me engolia, naquele saguão meio às escuras, parece coisa de filme, lembrando assim, hoje.
Mas o que eu quero saber é de você. Diga assim que puder. O teatro. Sua viagem. Seus dias. Suas noites... Em alto e o bom som, diga assim que puder.
Beijos.

domingo, 2 de maio de 2010

CHÁ DAS CINCO





Já é noite.

Na boca o vinho branco substitui o sabor do chá das cinco

e da sua saliva.

Você se foi deixando pontas de cigarro

marcas de batom

e uma música tocando.

Símbolos que preciso decodificar.

Na penumbra da casa

recolho louças

farelos de biscoitos

e minhas emoções.

O perigo do dragão




Em 1990 fiquei fascinado com 'O perigo do dragão', livro de poesias de Bruna Lombardi, no qual tem um poema que era a síntese daquele período, da busca e das perdas de Caio Fernando Abreu, Ana Cristina Cesar e outros... O poema é:
"Pra Ana C. e caio e todos nós

era preciso fazer alguma coisa
pesquisar todas as malhas dos signos
os mapas, os índicios até achar
era preciso estudar
atentamente todos os orixás
a possibilidade de viajar
tentar o mar
era preciso
escutar keith jarret suavemente
sem se afogar
um som, um meio tom, um quadro na parede
luz de neon, e abrir um verde escandaloso na parede
paisagem que não se vê.
Por que você?
por que não qualquer um de nós que já tentamos tudo
que nos drogamos profundamente conscientes
perdidos no urbano da cidade
os olhos úmidos, a sensibilidade
de um nervo exposto, nos sentimos
metade depois.
Quem sabe os astros, as ondas de energia, as coincidências
os vôos interplanetários, uma idéia de resistência
uma coisa meio blade runner em volta
a gente de saco cheio de john travolta
tentanto achar a porta de saída.
Nos vestimos de branco, tentamos escapar
com alternativas, chás naturais, respostas no I ching
dança, poesia, artes marciais
andróides, liberdade, ecologia
músculos, danger, punk, micros, Nova York
toda ideologia é sempre tão contraditória
talvez a salvação viesse em naves espaciais
atari, eletrochoque ou a própria loucura
ralvez saber chorar ajude muito.
Era preciso rever o lugar da emoção
o sexo, essa coisa delirante
escrever um relatório hite do avesso
que falasse de telefonemas noturnos, insônia
metal pesado.
Você deiva ter se segurado em alguma coisa
uma moda, um discurso, uma idéia de si mesma
uma paixão que fosse
qualquer coisa
um mito, um guru, uma política
uma revolução, uma mentira
sei lá, alguma coisa pra se agarrar
talvez uma amiga como ela
um patamar
alguma coisa
antes de cair devagar
pela janela".

Lendo esse poema, fiz esse:

Para Bruna, ana cristina, caio e todos nós

talvez saber chorar ajude muito sim, bruna
lendo um de seus poemas ou de ana cristina
ou um conto do caio.
talvez a salvação viesse em naves espaciais
num telefonema vespertino
nas nossas loucuras
ou lucidez
nas nossas taras, angústias e medos.
talvez estejamos velhos demais para acreditar em amores
ídolos, signos, búzios e tarô
talvez sejamos jovens ainda para pular da janela
por acreditar nas pessoas
ideologias e seitas
tantas coisas orientais.
apesar de tudo
ainda tentamos fórmulas
roupas e outros modismos
talvez assim
quem sabe
dará certo.

sábado, 1 de maio de 2010

Hoje acordei meio Clarice Lispector


Muita pretensão, né?, mas a primeira coisa que fiz hoje foi pegar o maravilhoso 'A descoberta do mundo', meu livro de cabeceira de Clarice Lispector, e, ainda na cama, deparei-me na página 367 com esse texto:
" SOU UMA PERGUNTA

Quem fez a primeira pergunta?
Quem fez o mundo?
Se foi Deus, quem dez Deus?
Por que dois e dois são quatro?
Quem disse a primeira palavra?
Quem chorou pela primeira vez?
Por que o Sol é quente?
Por que a Lua é fria?
Por que o pulmão respira?
Por que se morre?
Por que se ama?
Por que se odeia?
Quem fez a primeira cadeira?
Por que se lava roupa?
Por que se tem seios?
Por que se tem leite?
Por que há o som?
Por que há o silêncio?
Por que há o tempo?
Por que há o espaço?
Por que há o infinito?
Por que eu existo?
Por que você existe?
Por que há o esperma?
Por que há o óvulo?
Por que a pantera tem olhos?
Por que há o erro?
Por que se lê?
Por que há a raiz quadrada?
Por que há flores?
Por que há o elemento terra?
Por que a gente quer dormir?
Por que acendi o cigarro?
Por que há o elemento fogo?
Por que há o rio?
Por que há gravidade?
Por que e quem inventou os óculos?
Por que há doenças?
Por que há saúde?
Por que faço perguntas?
Por que não há respostas?
Por que quem me lê está perplexo?
Por que a língua sueca é tão macia?
Por que fui a um coquetel na casa do Embaixador da Suécia?
Por que a adida cultural sueca tem como primeiro nome Si?
Por que estou viva?
Por que quem me lê está vivo?
Por que estou com sono?
Por que se dão prêmios aos homens?
Por que o homem tem força de querer a mulher?
Por que há cálculo integral?
Por que escrevo?
Por que Cristo morreu na cruz?
Por que minto?
Por que sigo a verdade?
Por que existe a galinha?
Por que existem editoras?
Por que há o dinheiro?
Por que pintei um jarro de vidro preto opaco?
Por que há o ato sexual?
Por que procuro as coisas e não encontro?
Por que existe o anonimato?
Por que existem os santos?
Por que se reza?
Por que se envelhece?
Por que existe câncer?
Por que as pessoas se reunem para jantar?
Por que a língua italiana é tão amorosa?
Por que a pessoa canta?
Por que existe a raça negra?
Por que é que eu não sou negra?
Por que um homem mata outro?
Por que neste mesmo instante está nascendo uma criança?
Por que o judeu é raça eleita?
Por que Cristo era judeu?
Por que meu segundo nome parece duro como um diamante?
Por que hoje é sábado?
Por que tenho dois filhos?
Por que eu poderia perguntar indefinidamente por quê?
Por que o fígado tem gosto de fígado?
Por que a minha empregada tem um namorado?
Por que Parapsicologia é ciência?
Por que vou estudar Matemática?
Por que há coisas moles e há coisas duras?
Por que tenho fome?
Por que no Nordeste há fome?
Por que uma palavra puxa outra?
Por que os políticos fazem discurso?
Por que a máquina está ficando tão importante?
Por que tenho de parar de fazer perguntas?
Por que existe a cor verde-escuro?
Por que?
Mas por que não me disseram antes?
Por que adeus?
Por que até o outro sábado?
Por quê?"

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

Previsões dadas...

EU...

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São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...