sexta-feira, 30 de abril de 2010

A gente é o que a gente gosta?




Uma amiga voltou de uma viagem e a encontrei na rua, ela me disse que voltou renovada, que viajar pra ela é essêncial, que somos o que gostamos... Essa frase ficou martelando na minha cabeça: se somos o que gostamos, quem seria eu? Se somos nossa comida preferida, os filmes que a gente curte, os amigos que escolhemos, as roupas que a gente veste, a estação do ano preferida, nossos esportes, as cidades que nos encantam... Eu sou outono, disparado, e, ligeiramente primavera. Estações transitórias. Sou Almodovar. Sou Caetano Veloso. Sou Martha Medeiros. Sou Clarice Lispector. Sou Caio Fernando Abreu. Sou pães, queijos e vinhos, os três alimentos que eu levaria para uma ilha deserta, mas não sou ilha deserta: sou urbano. Sou bala azedinha. Sou coca-cola. Sou camarão com quiabo. Sou filé com fritas. Sou sorvete de jaca. Sou bacalhau ao forno. Do churrasco, sou o pão com alho. Sou livros. Cds. Dicionário. Sou guia de viagem. Revistas. Sou mapas. Sou internet. Já fui mais tevê, hoje sou mais rádio. Mpb. Loung. Cinema. Cinema. Cinema... Sou azul. Sou cabelo enrolado. Reggae. Sou jeans. Sou balaio de saldos. Sou ventilador de teto. Sou jeep. Bicicleta. Sou a pé. Sou tapetes. Sou abajur. Bloqueador. Não sou de academia, mas de capoeira. Sou mar, mas não sou areia. Sou Londres. Pirinópolis. São Luís do Maranhão. Sou mais cama que mesa. Mais dia que noite. Mais fruta que flor. Mais doce que salgado. Mais música e um pouco de silêncio. Mais pizza que banquete. Mais caipirosca que champagne. Sou delírio. Sou eu mesmo... E você?

terça-feira, 27 de abril de 2010

Canção de Adeus


No dia, de manhã bem cedinho, ele chegou com seu peito arfante
e um pequeno silêncio de cão
recostou-se em meu colo, abraçou minhas almofadas
recitou alguns versos que eu julgava desconhecer.
De súbito, lançou as almofadas contra as paredes da casa
olhou-me com piedade
e partiu antes que eu pudesse acenar-lhe um lenço.
À tarde ele retornou e daí o reconheci
tentei impedir que ele passasse por minhas portas
mas não pude
mais uma vez ele pousou suas asas em meu leito
se disse cansado de seus vôos
cantou-me uma ou duas canções de ninar suavemente
no que adormeci.
Então, vendo-me tão desprotegido, de olhos cerrados
em um sono profundo
abriu as venezianas e voou alto, atravessando uma nuvem branca e úmida
roubando as palavras que outrora eu tinha nos lábios.
Cai a noite e fecho portas, janelas e frestas pelas quais
ele poderia se inserir.
Tolo que sou!
Descubro-o dentro de um cinzeiro
entre cinzas de sonhos que ele mesmo queimou.
Tolo que sou!
Aninho-me entre suas asas quentes
respiro seu ar frio
enquanto ele não se vai.
Tolo que sou, desta vez, canto com ele,
sua canção de adeus
enquanto sumimos como um ponto no horizonte.

domingo, 25 de abril de 2010

O ALBATROZ


O albatroz solitário fez ninho sobre o convês abandonado do navio

e pôs um ovo.

Na cidade, um menino estudava trompete

a príncipio uma música descozida e qualquer

mas o albatroz, sensível, tomou para si este canto sem dono e inútil

e disse: será o canto do seu primeiro entardecer, filho,

quando as aves estiram longamente suas asas

limpam suas penas e adormecem sem dessassosego.

Mas os dias se passaram e o ovo não vingava sobre o casco

progressivamente mais longe do céu

e o albatroz não procurou mais uma canção

inaugurando os momentos de seu pequenino como o natal e seus presentes

um a um.

O albatroz ficou em silêncio e as minhocas e insetos ressequiram-se

ou desapareceram do convés.

A lua ia alta no céu quando a água umedeceu-lhes as patas

como num doce aviso ignorado.

O ninho se desfez ao nascer do dia.

O menino não tocou mais trompete

nem nenhum instrumento

cresceu.

Tornou-se um grande financista e dedicou-se à caça aos pombos.

sábado, 24 de abril de 2010

Convite para um alguém em Buenos Aíres




Sábado. Manhã luminosa. Céu azul. Estou bem melhor, tossindo menos, febre foi embora, e, um poema achado nas gavetas, na verdade, um convite...ou uma declaração de amor?


De Buenos Aíres, nesta manhã, venha voando
sobrevoando os acidentes, injustiças, carros, florestas,
navios, misérias. Mas venha voando.
Aqui, nesta cidade, no nordeste brasileiro,
tem sol, céu azul, ruas estreitas.
Podemos chorar. Nos amar. Nos queixar. Ou jogar o jogo de estarmos sempre equivocados.
Venha voando
feito um cometa à luz do dia.
Aqui, te conduzirei com cuidado pelos meus sonhos abstratos. Praias. Ladeiras. Igrejas.
Escadas. Torres. Quartos.
Venha voando
porque há um abismo em cada olhar. O seu é porto seguro.
Venha voando
para que tenhamos um estado sólido de amor e paixão.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Uma rede, umas tardes e uns livros...




Enquanto estou aqui nessa 'convalescença', fui reler alguns dos livros que sempre tenho â mão, mas são tantos que gosto, que estão na cabeceira, que tive dificuldades em qual 'degustaria' primeiro... Tive a idéia de fazer a lista dos meus livros preferidos (não os dez mais) como fiz com os filmes que me emocionam, sempre. Eis:

-Carol (Patrícia Highsmith)
-Antes que amanheça (Reinaldo Arenas)
-As vinhas da Ira (John Steinbech)
-A descoberta do Mundo (Clarice Lispector)
-Ovelhas Negras (Caio Fernando Abreu)
-Cartas (Caio Fernando Abreu)
-Minhas queridas (Clarice Lispector)
-Bombons chineses (Mian-Mian)
-Travessuras da menina má (Mário Vargas Lhosa)
-Um sopro de vida (Clarice Lispector)
-On the road (Jack Kerouac)
-Henry e June (Anais Nin)
-Carmém (Ruy Castro)
-Os dragões não conhecem o paraíso (Caio Fernando Abreu)
-Flores raras e banalissímas (Carmém L. Oliveira)
-Morangos Mofados (Caio Fernando Abreu)
-A paixão segundo GH (Clarice Lispector)
-A hora da estrela (Clarice Lispector)
-O ovo apunhalado (Caio Fernando Abreu)
........................................................ Você leu quais desses livros? Opine. Vamos dividir nossas opiniões. Beijim!

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Carência...

Quarta-feira, feriado, e, eu aqui de molho em casa, convalescendo da 'leve pneumonia' (rsrsrsr)... e dá uma carência de colo, ombro, palavras, amigos, amores...sei lá, de alguém que te telefone preocupado com sua saúde, que traga uma sopa (adoro), ou não traga nada, só a presença... E nesse deitar-levantar, peguei minha Adélia Prado e lendo por acaso, li esse poema maravilhoso:
"Amor é a coisa mais alegre
amor é a coisa mais triste
amor é coisa que mais quero
por causa dele falo palavras como lanças.
Amor é a coisa mais alegre
amor é a coisa mais triste
amor é coisa que mais quero
por causa dele podem entalhar-me
sou de pedrão-sabão
alegre ou triste
amor é coisa que mais quero".

segunda-feira, 19 de abril de 2010

poema que aconteceu

Eram duas da manhã, talvez,
quando acordei e disse para mim: sou infeliz.
Nada de óbvio para uma madrugada
nada de óbvio para meus quarenta anos
mas, ainda que eu não tenha dito isso em voz alta
veio a frase pronta a minha boca
como se sempre estivesse ali
brincando com minha própria ignorância.
Sou infeliz, eu disse,
não que isso me fizesse qualquer mal
que eu devesse me apiedar ou rezar uma oração.
A infelicidade era tão completa em seu silêncio
que no dia seguinte escrevi um poema.

sábado, 17 de abril de 2010

Um pedido de desculpas, ou algo parecido...

Como vão? Alguém ainda me ler? Estive uns dias ausente daqui, por isso o pedido de desculpas, estive e estou doente, com uma 'leve pneumonia', se que é que isso existe, mas estou usando o que o médico disse, e, se leve já não caibo em tosse, febre e mal estar, imagina uma pneumonia que não seja 'leve'... Lembrei de algo que li, não sei onde, mas que retrata esse momento:

"Estive doente
doente dos olhos, da boca e dos nervos, até
dos olhos que viram mulheres formosas
da boca que disse poemas em brasas
dos nervos manchados de fumo e café.
Estive doente
estou em repouso, não posso escrever
quero um punhado de estrelas maduras
e a poesia do verbo viver".

Um beijo e logo voltarei...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Em abril o céu pesa de estrelas


Mamãe fez bolinhos e chá quando a visitei
comemos ao entardecer sentados no quintal
quando as primeiras estrelas apareceram e ela disse que em abril o céu pesa de estrelas,
sua voz era rouca, não sei se porque estava doente ou de velhice
a morte, assim como a juventude, é bruta, ela disse,
isso me arrepiou e deu-me um pouco de remorso
deixava-a tão só na vida sua interiorana, dormindo com as galinhas,
como ela mesma dizia.
Quando a visitei, mamãe acordou cedo
queixou-se de insônia e dores por todo o corpo
mas que estava feliz com minha presença
sorriu com os olhos e com suas longas tranças.
A manhã inteira me fez perguntas, me deu conselhos e notícias de parentes e antigos vizinhos
levou-me na rodoviária e chorou na despedida.
É abril e procuro nas estrelas que pesa no céu uma que possa ser mamãe.

sábado, 10 de abril de 2010

Porquê poemas, chiclete & som?


Por que o título tão pop desse blog? me perguntaram, e, na verdade quis fazer uma homenagem ao meu escritor (um dos, vai) preferido, Caio Fernando Abreu, pois ele tem um conto intitulado 'Loucura, chiclete & som', que adoro, o conto vem em sequências, como num filme, com cenas do personagem durante dia/noite; adoraria colocar o conto aqui, mas é longo, e, por que não continuar com minha homenagem e deixar um outro conto de Caio? Segue nessa mesma linha pop, como alguém definiu o nome do blog. Eis:

DE VÁRIAS CORES, RETALHOS

" Logo de manhã bem cedo, a mãe parou espantada na porta do quarto do filho. Um rolinho chegou a desprender-se do cabelo, deslizar ombro abaixo e escorregar pela escada, pinguepongueando. Chamou o pai, que veio sonolento, coçando a barriga, o ar de quem tinha tido pesadelos negros. Ficaram os dois olhando a porta do quarto do filho. A porta do quarto do filho estava fechada pelo lado de dentro. No lado de fora, para onde o pai e mãe olhavam espantados, certamente o próprio filho, pois não havia ninguém mais na casa capaz de tais absurdos, grafitara em letras grandes, tortas, coloridas:
VOCÊS NÃO TAO COM NADA
O tao estava escrito assim mesmo, sem til, e o pai, professor de português, ficou escandalizado. "Além de desaforado, burro", comentou.
Mas a mãe lembrou que o filho vivia às voltas com um livro cheio de letras chinesas na capa chamado justamente Tao, e lembrou ao pai que podia ser uma referência ao livro, não ao verbo estar. um livro estranho- ela ficou pensando enquanto o pai não respondia -, parecia coisa meio religiosa, umbanda talvez, aqueles exotismos do filho, mania de não comer carne, panos nas paredes, sininhos, baralhos com figuras esquisitas, posters de discos-voadores e Raul Seixas pelo quarto, aquela mistura de bazar persa com acampamento cigano mais uma pitada de terreiro.
O pai e mãe bateram na porta delicadamente, depois menos delicadamente, depois nem um pouco delicadamente. O pai tentou abrir por fora, mas não conseguiu. Empurrou com o ombro, mas parecia que tinha uma coisa pesada prendendo por dentro. A mãe teve certeza que o filho empurrara a estante contra a porta. e os dois sempre se sentiam tão cansados pela manhã, e tinham tantos pesadelos à noite, tanto barulho dos carros lá fora, tantas dívidas, tantos perigos no futuro incerto, enfim: eles não tinham energia para sequer tentar derrubar aquela porta.
Então a mãe foi chamar o outro filho, que jogava basquete e tinha ombros largos, músculos forte e uma cara rosada de universitário anos 50, só que moreno. O outro filho veio sem muito saco, empurrou a porta devagar com um daqueles ombros enormes, depois coçou a cabeça e sugeriu que dessem a volta na casa para tentar abrir a janela. Tinha jogo à noite, não podia correr o risco de uma distenção, ainda mais por causa daquele babaca.
O pai, a mãe e o outro filho deram a volta na casa e tentaram a tal janela. Ma s a janela também estava trancada - parecia ter ferros, correntes, cadeados, grilhões. A mãe ficou indecisa entre desmaiar, ter um ataque de choro ou fazer um café bem forte. O pai só balançava a cabeça e coçava a barriga, repetindo meu-deus-o-que-foi-que-esse-rapaz-aprontou? O outro filho bocejava, fazendo alguns exercícios para desenvolver as coxas. Até que de repente, tocou a campainha, o telefone, o cachorro começou a latir, chegou o jornal, a diarista, tudo ao mesmo tempo - e não se sabe bem como, em menos de quinze minutos a casa estav cheia de vizinhos, parentes e curiosos subindo, descendo escadas, fechando, abrindo gavetas, contando anedotas, fazendo chás e cafés. Como se fosse uma festa. Ou um velório.
A mãe soluçava no ombro de uma vizinha, lembrando um por um de todos os atos do dia anterior, e gemia o-que-foi-que-eu-fiz-de-errado-para-merecer-isso-sempre-fui-a-melhor-das-mães. Alguém mais prático achou que não podiam ficar nisso o dia inteiro, ainda mais agora que havia chegado a televisão, fotográfos e uns vinte repórteres pedindo cafezinho. Outro insinuou que o filho podia estar morto, suicidado, enforcado, pulsos cortados - mas não havia sangue no corredor -, uma dose excessiva de barbitúricos, esses jovens, nunca se sabe do que são capazes, acalentamos uma víbora em nosso seio, ânimo, querida, esquizofrênico, paranóico, nem falar falava, nunca - nunca se sabe.
E já que eram tantos, e que a suposta estante sustentando a porta por dentro não seria mais forte que a força de todos eles juntos - reuniram-se e começaram a fazer força. Não foi difícil. A porta logo abriu-se, cinematográfica, enquanto os mais dramáticos desmaiavam, flashes estouravam e as luzes quentíssimas da tevê acenderam-se, revelando o interior vazio. Quer dizer, vazio de gente, pois tudo estava nos lugares, surpreendentemente limpo, a cama - milagre! - feita, plantas - as descaradas, ele até conversava com elas -, livros, roupas nos armários. Só faltava a flauta doce, o poster de Raul Seixas e aquele tal livro do Tao. Ah, e o filho, naturalmente.
Depois de alguns ohs! e ahs! em catatonia coletiva, encontraram um bilhete na cabeceira. Dizia assim: "Quanto mais conheço minha família, mais entendo Franz Kafka". O pai e a mãe não entenderam direito, quem era mesmo esse tal Franz? mas um jornalista de segundo caderno lembrou que o mistérioso rapaz poderia ter-se transformado num inseto, uma barata, por exemplo, esses jovens sempre tão imprevisíveis, são capazes de tudo só para chocar os outros. Jogaram todas as almofadas para cima, tiraram todos os discos das capas, os livros das estantes, as roupas do guarda-roupa - mas nenhum inseto digno de nota foi encontrado, também porque a casa fora dedetizada não fazia nem dez dias, lembrou o irmão.
Só depois que todos se foram, pois não havia nada a fazer além de registrar queixa de desaparecimento, e a casa ficou em silêncio, e era quase meio-dia, a mãe veio abrir a janela pensando em debruçar-se pensativa para que os vizinhos a vissem assim, "uma mulher acabada", diriam- e então viu as penas. No peitoril, do lado de dentro, uma porção de penas, dessas mesmo de ave, não de espanador. De uma ave que ela não conhecia. Penas grandes, de muitas cores e formas, desenhos coloridos como nunca vira, nem em desenho nem em bicho vivo. Algumas estavam manchadas de sangue. Era como se um grande pássaro tivesse se debatido horas entre as paredes daquele quarto, até fugir. a mãe só não entendia como, porque a janela ficara fechada até que ela a abrisse, cinco minutos atrás.
Ela suspirou, a mão no peito. Então um ventinho entrou pela janela aberta, arrepiou algumas penas caídas e fez tilintar os sete sininhos dourados suspensos por um fio. O filho dizia sempre que tinham sido enviados do Tibet por alguém muito especial. E que eam mágicos."
(Do livro Ovelhas Negras - Editora Sulina- Pags:100 a 104)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Achados & Perdidos (II)


Mais uma cartinha encontrada nas minhas gavetas, não sei se enviada; esta, com um poema de Borges:

O NOSSO
Amamos o que não conhecemos, o já perdido.
O bairro que foi arredores.
Os antigos que não nos decepcionarão mais
por que são mito e esplendor.
Os seis volumes de Schopenhauer que jamais terminamos de ler.
A saudade, não a leitura, do segundo volume do Quixote.
O Oriente que, na verdade, não existe para o Afegão, o Persa ou o Tártaro.
Os mais velhos, com quem não conseguiríamos conversar durante um quarto de
hora.
As mutantes formas da memória, que está feito do esquecido.
Os idiomas que mal deciframos.
Um ou outro verso latino ou saxão que não é mais que um hábito.
Os amigos que não podem faltar porque já morreram.
O ilimitado nome de Shakespeare.
A mulher que está a nosso lado e que é tão diversa.
O xadrez e a álgebra, que não sei.
(Jorge Luis Borges - Trad: C. Teixeira, W. Costa e R. Antelo)


Eis o Borges. Acho que me diz muito este texto (como tantos dele) e, como tantos dele, talvez diga mais ainda de mim. Diante de um comercial de alianças de diamantes que mostra um lindo casal que viveu juntos dez anos, investi-me em tragédia: não seria todo o amor fadado à dor , uma vez que (enquanto apaixonar-se por outrem), amar um ser humano é amar o falível, o volúvel, o inconstante e tantas vezes o mundano? Clarice (a Lispector), diz da doçura de se ser falível. Mas ainda que amemos o falível, que dirá o mortal? os amantes morrem, deixam de existir um para o outro um dia. Será possível amar mais esta fabilidade do homem, amar sua condição mortal e até sua morte? Meio Sartreano, isso. Acabei de reler "As moscas", e achei um pouco didático demais. Ouvi uma palestra um dia sobre ' a moral em Sartre" onde disseram que ele falava do amor como relação de poder entre dois indivíduos, e enfatizava o papel da dominação e do olhar na sedução ( que é uma dominação). Mas, parafraseando Clarice ( a Lispector), talvez ele nunca tenha sabido como é bom ser dominado? é bom, ser dominado, 'dominado'? difícil pensar isso assim, 'a salvo', além de que as pessoas andam amorais, aéticas, podres. Não se pode jogar esse jogo sem pôr sua cabeça a prêmio...
(não encontrei o final da carta...)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

mais um poeminha


Take de abril II

Entre nossos

olhares

havia

uma cumplicidade

de mar e marinheiro.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Devaneios

Uma garoa caia nessa Ilha de tanto sol, caminhava por suas ruas estreitas de paralelepidos e casarões, bem cedinho, quando surgiu um grupo de uns seis ou sete rapazes e moças: barbudos, vestes longas e marrons, sacolas de lona nas mãos; certamente de algum convento do centro da cidade, provavelmente iriam à alguma igreja (temos inúmeras). Uma cena cinematografica. Sem querer, comecei a fazer parte daquele exótico grupo, caminhavámos juntos, e, de repente, num cruzamento, surge um carro e um dos rapazes ficou com medo de atravessar e ser atropelado. Não resistir: - Porquê o medo? - perguntei - se morrer não irá para o céu?. Ele respondeu: - Ainda há o purgátorio - No quê retruquei: - Ué, o purgátorio não é aqui? - Parafreseando sartre, naturalmente, quando ele disse que o inferno são os outros.
Lembrei agora que escrevi um poema que surgiu desses devaneios e que serve para ilustrar esse acontecimento:

Sempre me apanho em devaneios largos
ou as coisas me apanham: um tropeção, o bom dia velho de todas as manhãs
ou mesmo um miserável anônimo.
Ontem foi um velho sem uma das pernas
esta manhã presenteou-me com uma menina e um bebê que ela carregava
não vi seus olhos
(e eu sei, ela os tinha, quem não os tinha era eu);
rápido, tirei uma nota dobrada e entreguei a ela
que assentiu todos tão conformados, ela e eu, o devaneio e o bebê
olhando sem surpresa para a fila de carros
(que a ela deveria parecer interminável).
Pressinto: passarão os anos, eu por eles talvez mais que eles por mim
e enfim, o reverso virá: serei eu o anônimo no vaso comunicante das misérias.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Fogo-Fátuo

Era uma manhã de segunda-feira, como hoje. Calor. Marasmo. Nenhuma motivação para acordar, levantar e ir trabalhar... como hoje; o que mudou foi apenas o mês e ano, mas o poe -
ma continua o mesmo para essa outra segunda-feira:

Nessas manhãs que acordo dentro delas
café com pão não me basta
quero a faca
virar pássaro
porque do alto eles têm a certeza que serão salvos.
Nessas manhãs que acordo dentro delas
quero o veneno mais lento
revirar gavetas, armários e álbuns de fotografias
desejar o inferno
depois o céu
ser eterno.
Nessas manhãs que acordo dentro delas
barbear-me não importa
quero apenas as lâminas
o vôo da montanha-russa
o cheiro do incenso e das velas coloridas
o vermelho dos pulsos
ser invadido de pedra e cal.
Nessas manhãs que acordo dentro delas
não quero olhar o sol
nem óculos escuros
quero ser asas de borboletas
passeando perdidas por seu corpo nu
até nos tornarmos metáforas
anáforas
néon
fogo-fátuo.

domingo, 4 de abril de 2010

Teste seu perfil de consumidor


Como todo cidadão nos dias atuais me preocupo com a questão ambiental, e, ainda mais,
como ambientalista, por isso, vi esse teste e quero deixar registrado aqui para sabermos se
das 13 questões colocadas para um consumidor CONSCIENTE, COMPROMETIDO, INI-
CIANTE E INDIFERENTE, em qual estamos classificados. Vamos ao teste?

01-Evita deixar lâmpadas acesas em ambientes desocupados?
02-Fecha a torneira enquanto escova os dentes?
03-Desliga aparelhos eletrônicos quando não está usando?
04-Costuma planejar as compras de alimentos?
05-Costuma pedir nota fiscal quando faz compras?
06-Costuma planejar compra de roupas?
07-Costuma utilizar o verso de folhas de papel já utilizadas?
08-Lê o rótulo atentamente antes de decidir a compra?
09-A família separa o lixo para reciclagem?
10- Não costuma guardar alimentos quentes na geladeira?
11-Comprou produtos feitos com material reciclado nos últimos 6 meses?
12-Comprou produtos orgânicos nos últimos 6 meses?
13-Apresentou queixa a algum órgão de defesa do consumidor?
(Fonte: ASSOCENE)
Vamos conferir o resultado? Eis:
*CONSCIENTES: Os que adotam de 11 a 13 dos comportamentos.
*COMPROMETIDOS: Os que adotam de 8 a 10 comportamentos.
*INICIANTES: Os que adotam de 3 a 7 comportamentos.
*INDIFERENTES: Os que adotam de 0 a 2 comportamentos.

sábado, 3 de abril de 2010

Saudade


Hoje, um texto de Clarice Lispector, que sempre me emociona:
"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a
saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais
urgentes que se tem na vida".

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Take de abril


Felicidade?
É um pastel de goiabada e queijo
comido numa caminhada por ruas vazias
numa noite meio fresca, meio fria.

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

Previsões dadas...

EU...

Minha foto
São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...