sábado, 26 de julho de 2014

Quando dei por mim

Quando dei por mim, era um náufrago entre nativos barulhentos. Mas sonhava ciclopes. Esperava Adamastores e olhava o mar que era o centro da cidade. Milhões de rostos que não eram o seu.
Quando dei por mim, me sentia tão só como alguém que adentra num deserto. Intoxicado de café. Cigarros. Guloseimas extravagantes. Não havia noite ainda, mas tirava você da agenda telefônica. Rasgava seus quadrados. Triângulos. Chaminés.
Quando dei por mim, olhava fotografias nossas. Mas queria algum milagre que jorrasse luz. Cinema. Figura animada. Fliperama. Holograma. Outra mentira.
Quando dei por mim, relembrava lugares. Épocas. Animais domésticos. Balneários. Roupas. Aniversários. Parentes. Mas tomava alguma droga que só existe quando todas as outras acabaram para embriagar pessoas desesperadas.
Quando dei por mim, o amor tinha terminado. Acabado. Morrido. Restou apenas o aroma excessivamente doce como uma fruta passada.
(by, franck)

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Quando no rádio tocava canções de amor

Houve um tempo que o rádio tocava canções de amor
mas agora diz que devemos fazer uma revolução
como naqueles dias que queríamos ser heróis de cinema
íamos na última sessão e sentávamos nas últimas poltronas.
Houve um tempo que nossa revolução era a dos corações
desestabilizávamos antenas de televisão
radar de aviões
e deixávamos as mariposas sem direção.
Nas nossas noites insones
devorávamos chocolates
jogávamos xadrez
nos embriagávamos de saquê e sexo
e comidas delivery.
Nas manhãs saias para comprar cigarros e leite
e não deixava de levar seu indefectível guarda chuva
tenho essas imagens sua e outras que inventei
você vestindo azul, numa tarde cinza, dentro daquele velho carro
cantando canções de amor.
Queria seu novo CEP para mandar poemas, fotografias e cartas
desde que deixaste as chaves da casa que foi nossa
desde que esqueceste aquele brinco no criado-mudo
desde que não ouço sua voz me pedindo para colocá-lo na sua orelha esquerda
como naquelas manhãs
que existia canções de amor, no rádio do carro.
(by, franck)

terça-feira, 8 de julho de 2014

Como numa história de celuloide



No jardim, os pássaros voltam para os seus ninhos
e na cozinha distribuo xícaras que não combinam sobre a mesa
com uma toalha de linho e um vaso de girassóis
enquanto espero você com as ervas para o chá.
No balcão de uma das janelas, há um livro aberto de poesias
músicas na sala
incensos perfumam à varanda e no quarto, esfumaçado pelos cigarros de ontem,
duas taças com restos de vinho no criado mudo
e eu ardendo em febre.
Na casa quase indecente, espero você, para fingirmos sermos heróis,
mesmo se o mundo desabar
como numa história de celuloide.
No fim do dia, quando os ladrilhos da cozinha ficam com umas tonalidades indecisas
sobre os quais deixaremos cair um pouco de chá
nos sentiremos como se fossemos dois planetas que nos sustentassemos.
(by, franck)

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

EU...

Minha foto
São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...