De manhã, bem cedinho, vi você na estação do metrô, você fumava, deu-me vontade de ir falar com você, dizer-lhe dos males da nicotina, como sempre fazia. Vi você e estavas com os cabelos encarolados e despenteados, como sempre; sorri, porque adorava vê-lo de manhã tentando penteá-los. Você estava com aquela camisa pólo amarela, a qual presentei-o num dos seus aniversários, ou foi num natal? Num ano novo? Ou não teve nenhuma data especial? A comprei porque achei que combinava com seus olhos azuis, aliás, olhos que mudam de cor conforme o dia vai passando. Vi você, nesta manhã, bem cedinho, em pé naquela estação de metrô, sem se importar com a fila interminável, com a aglomeração tão comum do horário, ouvindo músicas, será que ouvias Elis Regina? Lembro-me que ouvias Elis o tempo todo, sempre elogiando sua voz, que não conhecia outra cantora como ela, que sentia não ter sido contemporâneo dela, e, eu tentando fazer você ouvi Nina Simone. Ah, você tinha um livro nas mãos, quem estaria lendo? Não vi o título ou o autor do livro. Ainda mantinha sua paixão por Clarice Lispector, tão introspectiva quanto você? De manhã, bem cedinho, eu quase descia naquela estação, porque você estava lá, parado, como se tivesse todo o tempo do mundo, como se esperasse alguém ou não esperasse nada e ninguém, e, iria dizer-te que não precisarias mais esperar, eu estava ali. Meu trem foi embora e você saiu da minha visão, mas ficou nos meus pensamentos, como agora, ao deitar. Nem sabes quem eu sou, só sei que existes, como nos meus sonhos. Amanhã, de manhã, bem cedinho, quero voltar a vê-lo naquela estação e saber que também existe, além dos sonhos, outra vez.
(by, franck)
(by, franck)