
Ele chegou numa tarde de quarta-feira. De abril. Na cidade um trânsito caótico. Mas tinha uma arco-íris no céu saudando sua chegada e no rádio do carro, músicas maranhenses. Estávamos nesta ilha, numa quarta-feira. Num fim de tarde. Num abril. Não tinha tido tempo de arrumar a casa, tirar a poeira dos cantos, das poltronas, preparar a cama, tirar os lençóis, para recebê-lo; mas depois vi que não teria sido necessário, porque sua ávidez pelo mar e sol, era tamanha, urgente, acordando às seis da manhã para nele entrar, como um marinheiro, um salva-vidas, um pescador, ou pela falta desse mar, desse sol, na cidade ao sul da qual ele veio.
Ele chegou numa tarde de quarta-feira. De um abril. Nos quatro dias sua pele sulista a cada noite mais bronzeada e cheirando a mar e sol, seus olhos cada vez mais verdes, e, os dias que passamos juntos entre cervejas, risadas, frutos do mar, cansaço, insônia, adentramos mais ao litoral para vermos dunas, lagoas azuis, um rio escuro, um céu entre o claro e o cinzento, travessias de balsas, para voltarmos quando a cidade chorava por sua partida na madrugada. Também voltei do aeroporto com lágrimas nos olhos, olhando as luzes, a chuva que arrastava garrafas, flores de plástico, latas, sacolas plásticas e eu para a minha solidão. Mas queria ele. Festa. Não dor.
Aquele feriado passou. Os dias passam, ele no sul e eu no nordeste. Matamos saudades via fone, mandando castanhas de caju, fotografias, um mapa do litoral nordestino para o roteiro de quando ele vier em julho, quando nos reencontraremos, fazermos essa viagem. Nesses dias vazios dele, tenho cheiro de ervas verdes nas mãos, me acalma molhar plantas, folhear livros ao acaso, ouvir músicas, comer abacates... Enquanto julho não vem, nesta cidade que ele não mais se encontra, volto as praias que estivemos e sinto o vento misturando terras, pólens, sementes, algas... Os dias que passam lentamente me deixam quase cego olhando o mar e seu infinito, o azul do céu, a transparência do ar. Os dias passam lentamente e desejo que logo seja julho, que tenha um arco-íris no céu da cidade quando ele voltar. Ou sol. Ou chuva. Mas que ele esteja aqui.
(by, franck // imagem: internet)
PS: Postei este texto essa semana e não sei porque sumiu a postagem e os comentários feitos nele do blogger)