
Disseram-me que escrevo poesias, todo prosa, acreditei. Agora ouço poesia no canto dos passarinhos. Na voz de Nina Simone. No choro do guri da casa vizinha. Nos latidos de um cão na madrugada. Agora degusto poesia no café com leite pela manhã. Num suco de maracujá. No sorvete na noite aproximando. Na cerveja com amigos num bar da orla. Agora choro poesia com a família que mora sob a ponte. Com a fonte iluminada da praça no centro da cidade. Agora olho poesia na manhã cinzenta de dezembro. No rapaz de calção de banho azul entrando no mar. Nos cabelos encarolados da moça negra. Nos olhos violetas da minha amiga Elizabete. Agora cheiro poesia na terra após a chuva da tarde. Na grama recém cortada. No perfume da anciã no ônibus ao meio-dia. No pão assando na padaria às quinze horas. Com o incenso queimando nas ruas com a chegada do fim do ano. Agora vejo poesia pintada nos sobrados de azulejos do centro histórico da ilha. Na tela de um artista de rua. No colorido das frutas do vendedor na praia.Trago poesia na agenda. Na carteira. Nos bolsos. Na alma. No coração...Enfim, todo prosa, acreditei na poesia!(by, franck - imagem: net)