terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Desafio dos sete


Recebi este desafio várias vezes, relutei em fazê-lo, por que é tão difícil falarmos de nós? Mas acabei cedendo quando desafiado pela Clarissa Lamega do Blog 'Só enquanto eu respirar'. Por quê desafio dos sete? Fiquei pensando no número sete e dizem que há o sétimo céu; sete cores do arco-íris; sete notas musicais; sete pecados capitais; sete chakras do corpo humano; criação do mundo em sete dias; fechar a sete chaves; bicho de sete cabeças; falar com sete pedras nas mãos... Mas vamos lá?

Sete coisas que eu tenho que fazer antes de morrer:
-Mochilão pela Europa
-Escrever vários livros
-Morar num sitio
-Viajar de Norte a Sul do Brasil
-Doutorado
-Aprender vários idiomas

Sete coisas que eu faço bem:
-Dormir
-Bacalhau ao forno
-Decorar espaços
-Caipirosca
-Receber pessoas
-Dormir
-Dormir

Sete coisas que eu mais digo:
-Alô (trabalho atendendo clientes ao telefone)
-Bom dia e Boa tarde (pelo motivo anterior)
-Tchau (pelo dois motivos anteriores)
-Valeu!
-Tipo assim...
-Estou tão cansado!
-Hoje não...

Sete qualidades:
-Ser amigo
-Ser sincero
-Intenso (em tudo que faço)
-Compreensivo
-Solidário
-Carinhoso
-Pontualidade

Sete defeitos:
-Ciumento
-Acreditar demais nas pessoas
-Não saber mentir
-Detestar dirigir
-Timidez
-Consumista
-Ansiedade

Sete coisas que amo:
-Ler
-Música
-Cinema
-Ficar em casa
-Namorar
-Viajar
-Amigos e família

(by, franck)

sábado, 25 de dezembro de 2010

É tempo de...


silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio. silêncio...
e...
solidão!


(by, franck)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Poesias engarrafadas e flores brancas e ondas...


No entardecer redes de pesca secavam e brilhavam nas cercas da casa à beira mar. A turista na soleira da porta dessa casa fotografava o ocaso, os pescadores com seus corpos queimados de sol e cheirando a mar, os barcos coloridos como numa fila indiana e o garoto nu e de pés descalços, como um espécie raro. Um rapaz de brinco na orelha esquerda tocava violão e uma moça dançava reggae, como se fosse para um Deus poente. Invadindo o anoitecer cheiros de salitre e peixes e bebidas e maconha e de festa, mas no meu coração não batia nenhum tambor, se entristecia com as luzes dos pirilampos se confundindo com as lanternas e lampiões e cigarros e fogueiras. Ao longe, apitos de navios, quais seriam seus destinos? Naquela praia cães latiam para as cabras e as vacas e os passantes e os fogos de artifício, numa noite sem lua e estrelas, mas com um vento vindo do litoral que exigiria agasalhos na madrugada. Sentia sono e uma vontade de reinventar aquela noite, aquela praia e o mar. No último dia do ano joguei ao mar minhas poesias engarrafadas e flores brancas e pulei sete ondas, místico e solene, para que ele, o mar, soubesse quem eu era e quando voltar neste dezembro, ele reconheça que fui eu que quis acordar com o seu sabor dentro dos olhos um dia, que quis reinventá-lo, inventá-lo, por mais antigo que ele seja.


(by, franck)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Como se houvesse rosas em seus olhos...


Poderei contar-lhe dos olhos da minha mãe, que ontem me disse quase não poder mais ver o céu tão azul de dezembro. Meu coração passou a bater mais devagar ouvindo sua voz ao telefone e sentir como se houvesse rosas em seus olhos. E suas tranças, mãe? Os bolinhos comidos ao anoitecer no jardim olhando as estrelas? Você costurando nas tardes de chuva: como vai parecer arrogante e solene a mulher que usar aquele casaco; era um casaco colorido, não era? Escrevo cartas de amor, mãe, para amor algum. Vivemos numa terra sem neve e nem azaléias, mas temos natal e lua, seus olhos de rosas conseguem vê-la? Queria um rinoceronte e alguma planície, montá-lo nesta noite de lua. Queria baús cheios das coisas maravilhosas e inúteis do mundo para presenteá-la, mãe, para seus olhos brilharem. Mas antes que eu sonhe com casacos e baús e rosas, escrevi este poema, mãe, um presente para louvar seus olhos!


(by, franck)

sábado, 18 de dezembro de 2010

O poema que não aconteceu!


Queria escrever um poema como uma balada ouvida numa madrugada. Um poema como a espera de alguém por um amor que não vem. Um poema como o azul irreversível. Um poema como um gole de vinho, bebido no escuro. Um poema como uma bolha de sabão e sua estrutura, brilhando numa tarde cinzenta. Um poema como um ponto de exclamação dentro da manhã. Um poema como um moinho de vento, num deserto. Um poema como o poente alaranjado num fim de uma tarde na praia. Um poema como a borboleta que não saiu ainda do casulo. Um poema, queria escrever, mas o poema não aconteceu!


(by, franck)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A cor do meu azul


O céu do meu dezembro está azul. Netuno, por exemplo, também é azul. A moça que vejo da minha janela veste azul. Meu quarto é azul. A bicicleta do meu vizinho é azul. A liberdade é azul. O mar e sua imensidão azul. A ararinha azul está em extinção. As minhas garrafas que sempre voltam, quando lançadas ao mar, são azuis, como as mensagens que elas contém. Mais tarde o crepúsculo talvez seja azul. O veludo da poltrona da casa da minha mãe é azul. Vejo o azul pálido desse mundo tão pequeno no google. A noite é um azul sem luz. Li 'O mistério do trem azul' de Agatha Cristhie. Ouço o azul dos blues de Nina Simone. Sou a cor azul e todos os seus matizes. Azul. Azul. Azulzinho...


PS: Texto escrito a pedido de Brayan, do Blog HB, para o tema A COR DO MEU AZUL!


(by, franck)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Cena de cinema


Entre nossos olhares havia uma cumplicidade de mar e marinheiro...


(by,franck)

domingo, 12 de dezembro de 2010

Minha amiga secreta é....




ÉRICA, do blog LOROTAS!!!

Minha amiga secreta é paulista, diz que é azeda, mas doce quando é doce, será que é um pouquinho agridoce? Adora café, não viveria sem músicas, cinema e leituras. Quer dar a volta ao mundo e diz não ter medo da solidão. Será que ela aprendeu a cozinhar? Foi à Argentina? Ela se preocupa com o país por suas abordagens sobre política e todos os problemas sociais existentes, tendo as mazelas, às vezes, como inspiração para textos e poemas que nos fazem refletir, muito!
Algumas vezes nos encontramos na blogosfera, por isso sei tão pouco da minha amiga secreta, mas deixo-lhe esse texto:
Que venhas de sua paulicéia/com sua selva de prédios/mas com sua poesia na babagem/a desaguar nas águas caudalosas de algum dos rios que atravessam minha Ilha/Que traga seu café/e eu te darei a sombra de um coqueiro/para tomá-lo/ou algum mirante de um prédio colonial/para ver o sol se pôr e o azul dessa cidade/Que no ano vindouro/tenhas muito a me sensiblizar/no seu blog/com seus textos tão peculiares/que tentarei contar-te do meu mar/das minhas noites insones/que não sei se são as suas/Mas nos encontraremos na blogosfera/e faremos poesia/um filme em sépia/algum dia/da nossa amizade/minha amiga não tão secreta.

PS: Amigo Secreto realizado pelo blog UNI VER SOS, da ESTHER!

(by, franck)

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O LIVRO E O CD VÃO PARA........

Quero agradecer aos amigos que participaram para o sorteio do livro da Clarice Lispector e do cd de Ana Cañas, tentei fotografar o passo a passo do sorteio, mas minha câmera deu uma pane, infelizmente!
*O livro saiu para Piedade Vieira do blog Olhares e Saberes!
*O cd saiu para Brayan do blog HB!
Meu carinho!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Poema que aconteceu


Eram duas da manhã,talvez
quando acordei e disse para mim: sou infeliz.
Nada de óbvio para uma madrugada
nada de óbvio para meus quarenta anos
mas, ainda que eu não tenha dito isso em voz alta
veio a frase pronta a minha boca
como se sempre estivesse ali
brincando com minha própria ignorância.
Sou infeliz, eu disse,
não que isso me fizesse qualquer mal
que eu devesse me apiedar
ou rezar uma oração.
A infelicidade era tão completa em seu silêncio
que no dia seguinte escrevi um poema.
(by, franck)

sábado, 4 de dezembro de 2010

AVISO AOS NAVEGANTES!!!!!!!!!!!!!!!




Recebi um porta-incenso de uma amiga que foi ao Peru, um mimo que veio em um papel azul brilhante, e, quando ela o trouxe, naquele fim de tarde de um sábado, o azul do papel refletia na luz do entardecer enquanto eu admirava as pinturas rupestres reproduzidas no incensário. Não resistimos, acendemos incenso de canela e tomamos vinho e ela me contou do que fez, viu, conheceu na viagem... Lembrei-me também que essa mesma amiga deu numa outra ocasião um castiçal para uma amiga em comum, essa amiga em comum mudou-se para a Alemanha; na véspera de sua viagem, fez uma festinha na sua casa e deu aos amigos presentes que estavam e significavam muito no seu cotidiano; ganhei o castiçal, ela me disse que seria como fechar um círculo, então, foi como se eu ganhasse o castiçal duas vezes, porque quando o vejo ali, com aquela vela amarela, lembro das duas amigas. Ah, tem o amigo que partiu num cruzeiro e de cada cidade que aportava, mandava-me postais, foi como se eu estivesse com ele na viagem, acompanhando sua rota...
Porque esse assunto? Fiquei imaginando dos presentes, mimos, lembranças que recebi, que dei... O que importa se foi uma flor? Um cd? Um postal? Um livro? Um poema?... E as reações? Os sustos? Os impactos? Os choros? Os risos? A mudez absoluta?... Devo ter me comportado de todas as maneiras descritas. Às vezes olho essas lembranças brilhando, espalhadas em vários lugares da minha casa. E como chegou o fim do ano, gostaria de presentear meus amigos-blogueiros; tenho para presenteá-los um cd da Ana Canãs e um livro da Clarice Lispector, para ganhá-los, é só deixar nesse post um email, que na próxima semana, mas precisamente dia 10/12/2010, farei o sorteio, ok?
Aguardo vocês!


(by, franck)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Toda a (ou nenhuma ) poesia do mundo...


Tem noites que sou toda a poesia do mundo, como esta, que sou Caio Fernando Abreu, com HIV+, no Menino Deus. Sou Rimbaud, na África, com a perna amputada, por causa de um câncer. Sou Elizabeth Bishop, com um aneurisma cerebral. Sou Vírginia Woolf, entrando num rio com os bolsos do sobretudo cheios de pedras. Sou Sílvia Plath, colocando a cabeça no forno do fogão da cozinha e ligando o gás. Sou Ana Cristina César, jogando-se do sétimo andar. Sou Thoman Mann, endoidecido e se matando com um tiro na cabeça, aos 89 anos. Sou Hemingway, bêbado e decadente com seu fuzil de caça. Sou Florbela Espanca, ingerindo dois frascos de vironal no seu aniversário de 36 anos. Sou John Kennedy Toole, inalando monóxido de carbono até morrer. Sou Yukio Mishima, realizando um harakiri. Sou Attila Joszey, se jogando nos trilhos de uma ferrovia, para morrer atropelado por uma locomotiva. Sou Camille Claudel, escrevendo cartas apaixonadas a Rodin, perdida de amor e de loucura, num hospício. Sou Maiakovski, Césare Pavese, Torquato Neto, Alfonsina Storni, Clarice Lispector, Pedro Nava, Walter Benjamin... Sou todos eles, nesta noite. Ontem nem sei quem eu era. Amanhã não serei nenhum deles. Sou toda a poesia do mundo. Ou nenhuma poesia.


(by, franck)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Quando dezembro chegar!


Você disse-me que voltaria num dezembro, espero-a capatultando avenidas, olhando dentro dos olhos dos peixes e grávida de estrelas. Estarei no jardim reiventando asas para o sol e escrevendo poemas e dando aulas e dirigindo carro e lendo Homero e Pessoa e Adélia e cartas reencontradas em gavetas e baús. Traga seus mapas e dores e bússolas e as coisas recolhidas pelo caminho nesta sua volta como aquela placenta, guirlanda, crepons, serpentinas, guelras e conchas. Me encontrarás camuflado, neste dezembro, cheirando a mirra, pintando aquarelas e fazendo preces ajoelhado e consultando oráculo e orando pela felicidade do mundo e transformando orvalho em anêmona e anêmona em girassol para enfeitar sua chegada. Que venhas chorando em tardes de chuva, se dezembro for, que ainda pertença a templos e seja a alquimista de outrora que da ágata faça nave e da nave faça borboletas e das borboletas faça orvalho, para que eu transforme em anêmona. A abrigarei dentro da minha jaqueta marron como abrigaria o mar e seguraria a chama de um isqueiro com a língua e ouviria o sussurro das árvores no azul das tardes só para vê-la sorrir, porque neste mês podemos tudo e por isso, como mágica, evaporaríamos, entre nuvens e cinza e anjos e blues e algas e estrume e porcelana e sonhos até janeiro nos encontrar humanos e mortais, outra vez.


(by, franck)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Cartas & saudades & algum mapa-mundi...


Você não mandou aquelas cartas prometidas, mas as encontrei guardadas na gaveta do criado-mudo num grande pacote envoltas com uma fita azul. Estava esperando coragem e uma noite como esta na qual a saudade se dissipa um pouco, para serem lidas. As cartas já estão amareladas, como a foto, nossa, em sépia, que encontrei em uma delas; estamos sorridentes, como se as nossas possibilidades amorosas, todas, fossem possíveis. Em outra, uma letra de música, 'Fuga nrº 1', de Thiago Pethit, que foi nossa trilha sonora. Encontro também dentro de uma carta, num papel amarelo, um poema que ainda guardo na memória, dito e escrito por você numa manhã chuvosa, que não saimos da cama; então, definitivamente, não poderia ser esquecido. Sinto ainda o seu perfume, que você deixou propositalmente numa dessas cartas e manchas de café e chá e vinho tinto e de algum sanduiche nas cartas escritas em lanchonetes e bares e praças e nas suas madrugadas de tédio e solidão e insônia e saudade, como você relata em quase todas. Quero as cartas que você não escreveu-me quando se foi, mas as recebi sem remetente e sem endereço, nas quais poderia ter mandando ao menos sua latitude e longitude, assim encontraria você em algum globo terrestre, mapa-mundi, em alguma carta aérea, em alguma imagem de satélite, em algum fuso... Talvez assim, as cartas que não mandaste, mas que as recebi agora, nesta noite de saudade, se tornariam reais.


(by, franck)

terça-feira, 23 de novembro de 2010

No entanto, continuo azul...


Porque quero tardes como aquelas que não tivemos? Porque as tardes existirão, todos os dias, mas eu e você, juntos, dentro delas, nunca mais? As tardes azuladas com você afundando os dedos nos meus cabelos, eu segurando suas mãos? Nunca mais você regando as plantas na varanda e eu abrindo um vinho ao cair da tarde morrendo colorida como uma bolha de sabão? E seu riso ecoando pela rua e os passantes olhando para buscar seu riso, no restinho de tarde com nos dois, juntos, dentro delas? Eu quero as tardes, que não tivemos, e, fico esperando a volta daquelas tardes com os blues lentos e doloridos como todos os blues numa tarde azulada devem ser e são, e, dentro delas, eu e você e vinho e chá e quartzos rosas e incenso e horóscopo chinês e tarôs e a busca por discos voadores no crepúsculo, além do mar. No entanto, continuo azul, como os blues lentos e doloridos, que continuo ouvindo, regando as flores do jardim da nossa casa, nas tardes que você não está dentro delas, nunca mais, nunca esteve, por quê?


(by, franck)

sábado, 20 de novembro de 2010

Quando as libélulas engravidarem


Quando as libélulas engravidarem, será num dia de tons e sobretons, com um avião no céu, bicicletas nos parques e um trem chegando numa estação. Estarei no Xingú, talvez na Amazônia ou no Pantanal, mandarei postais da fauna brasileira ou de nuvens de algodão. As libélulas engravidarão e as crianças vão querer ir ao zoológico, ver o mar, e as libélulas, aéreas, invadirão as montanhas, o urbano das cidades e as praias. Homens estarão trabalhando em engenhos de flores, para recepcioná-las, e, eu estarei sem rota, sem gps, sem bússola, cruzando o país, olhando mapas amarelados, com a certeza dos pontos cardeais. Quando as libélulas engravidarem, voltarei a usar cabelos encaracolados, procurarei estalactites, homo sapiens que sou, em grutas, na América do Sul, e, numa cidadizinha do nordeste terá pipas e fogos de artifícios no ar e um circo com malabaristas e o mágico comerá libélulas grávidas, prenhes de arco-íris, numa tarde lilás, com seus tons e sobretons. Quando as libélulas engravidarem, terá água gasosa na fonte da praça, uma chuva de esmeraldas, e, ao cair da tarde, pirilampos e no correto uma banda de música. Estarei lá, para olhar as libélulas grávidas, cruzando os céus, num dia de dezembro, como se fosse natal, ano novo, páscoa, carnaval.


(by, franck)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O tal casal


Eu queria diurno, ele noturno. Ele queria manhã, eu tarde. Eu queria café, ele chá. Ele queria inverno, eu outono. Eu queria abraço, ele beijo. Ele queria mel, eu agridoce. Eu queria blues, ele rock. Ele queria gim, eu vinho. Eu queria romance, ele ação. Ele queria montanha, eu praia. Eu queria inteiro, ele metade. Ele queria nada, eu tudo.


(by, franck)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Quando ele veio...


Ele veio de manhã com uma escama no rosto, ou era uma estrela fosforescente? Me disse que fabricava algumas substâncias, não acreditei. Mas ele sabia sobre geografia. Botânica. Astrologia. Nos bolsos trazia cravo-da-índia, gengibre, alçafrão e outras raizes fortes. Ao cair da tarde, no jardim, conversou com os pássaros, tomou café sem açúcar e grandes goles de gim. Quando a noite chegou sussurrou para os livros, para os gatos, as corujas e salamandras. Na madrugada, ele quis o mar. Sexo. Anéis de Saturno. Alguns astros. I ching. Avatar na televisão. Purpurinas. Um dragão. Coisas assim. Ao amanhecer, ele quis chá natural. Roupas amarelas. Um blues... Ele veio e na despedida dei de presente o veneno do meu beijo. Talvez o mate. Talvez o salve. Ainda não sei!


(by, franck)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Qual o seu tipo de amor?


O amor é lindo, mesmo o amor falso dos filmes ou dos clichês nos comerciais da tevê. Mesmo sendo fantasioso. Platônico. Fulgás. O amor é lindo quando imbatível. Impossível. Improvável. O amor dos poemas, é poesia. Dos livros, romance. Mas o amor pode ser fruto proibido. Obsessivo. Imposto. Mas lindo quando verdadeiro. O amor das músicas, é trilha sonora. E ele pode ser tempestuoso. Antigo. Míope. É lindo, o amor, mesmo doente. Fictício. Sobrevivente. O amor pode ser incondicional. Sábio. Moderno. De carnaval. De verão. O amor é Romeu & Julieta. Pode ser lindo e convalescente. Relevante. Inatingivel. Ilícito. Inexato. Mas quando é amor, é lindo!

PS: Hoje é o dia do GRITO À POESIA, então, vamos gritar poemas? Mesmo que o amor morra, a poesia sobreviva!

(by, franck)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Os laços e os nós...


Nas madrugadas, derretemos satélites, com nossos telefonemas interurbanos. Contas-me do Texas. Lembras de París, Texas? Imagino-o como o personagem desse filme, o qual vaga pelo deserto em busca de sua identidade perdida, e, você entre indíginas, estradas interditadas e a solidão de um quarto de hotel. Tento dormir com essa imagem, com sua beleza negra e a beleza do poema que recitas-me, sobre os laços e os nós. Os nós e os laços. Devemos nos manter ligados nesses laços das madrugadas? Ou desataremos os nós ao amanhecer?

(by, franck)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Os presentes que não te dei...


( Para Karla )


Moça, só hoje pude trazer seu presente, como aquele poema que não aconteceu, mas não a conhecia naquele dia, lembras? Só hoje trago aquele jardim de cactus, vê as borboletas e as joaninhas e os beija-flores, sobrevoando-o? E aquele avião jogando flores na sua rua? Sentes o cheiro de incenso para perfumar suas tardes? Têm de sândalo. Mirra. Jasmim. Malbec. Também venho convidá-la para um cair de tarde à beira mar, catando aquelas conchas, aquelas que também não mandei; ou você prefere aquele porre? O por do sol? Tenho também um postal do meu céu azul, uma ânfora de algum navio submerso no Parcel Manoel Luís, aí viraríamos escafandristas, buscando tesouros. Trouxe músicas, vamos dançar um reggae? Ou chorar com um blues na despedida? Não, melhor, te darei um bumba-meu-boi, com suas matracas, chocalhos e pandeirões; podes sentar um pouco? Te contarei, moça, de outra moça que quis comer a língua do boi, de puro desejo. De um touro encantado. Da rainha louca que nas madrugadas perambula nas ruas estreitas dessa Ilha. Para você, moça, nesta noite trouxe fogos de artíficios , arroz de cuxá, a estrela vésper indicando sempre o norte, onde ainda estou, perdido em alguma duna que quero também levá-la, por isso, talvez precise de zepelins, asa delta, algo assim, para chegar ao sertão baiano, ainda hoje, com os presentes que não te dei naquele dia.


(by, franck)

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

S í m b o l o


Saíste à francesa, ao amanhecer. No criado-mudo, a corrente que usavas no pescoço. Intencional ou esquecimento? Símbolo que preciso decodificar!


(by, franck)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Uma manhã quase blues


Amanhecia devagar. Cinza-inverno. Você procurando estrelas cadentes no céu nublado, queria fazer três pedidos. Na avenida iluminada à beira-mar tudo parecia de plástico, inclusive seu rosto nos óculos escuros na quase manhã, mas você não queria sol, luzes, olho no olho. Atravessei sinais fechados, velocímetro e minha prudência naquela madrugada, como a de dar carona a recém conhecidos. Mas era quase manhã, estava bêbado, você tão jovem e tão retrô com sua camiseta estampando Mafalda. Eu também queria estrelas cadentes, que num dos seus pedidos estivesse incluso, queria zonas erógenas e perigosas com você. Mas não via seu olhar, suas pupilas, e eu queria olho no olho. O beijei naquela quase manhã cinza, sua boca era conhaque, maconha e café. No rádio do carro tocou Bob Dylan e você disse que preferia sax do que gaita, que sax combinaria com o vinho branco que você abriu, chamou-me para sentarmos num banco de praça e ficamos em silêncio enquanto o azul do céu nascia no dia e dentro de mim. Vi tudo blues e não mais sax ou gaita ecoava no carro, na praça, na manhã acontecendo. Subitamente eu precisava beijá-lo muito, você parecendo de plástico, terracota e carmim, eu estava bêbado. Você recitou Bandeira: 'eu quero ser feliz, quero me afogar'. Lá longe o mar, uma esteira esverdeada, o convidei para nadarmos nús, talvez dentro do mar encontrassemos estrelas cadentes, golfinhos, solos de sax, águas-vivas, o Havaí, Iemanjá, um castelo e ficassemos lá, abissais, bêbados e afogados, infinitamente.
Não sei onde o encontrei, nem quando o perdi naquela quase manhã: na praça? No mar? Numa esquina? Num bar? O reencontrei , hoje, num solo de sax e na camiseta verde e suja que esqueceste ou deixaste propositalmente no carro e só então vi seu olhar, sua alma, sua boca recitando Bandeira, como se fosse agora, aquela quase manhã.

(by, franck)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Inalcançável


Meus olhos e meu coração têm sobressaltos dia e noite, noite e dia, porque encontrá-lo nessa cidade está sendo como o embarque e desembarque no aeroporto de Los Angeles, que são em andares diferentes. Está sendo como se fossemos personagens do filme 'O feitiço de Áquila'. Está sendo como se eu estivesse numa fila interminável qualquer e não fosse atendido quando chegasse a minha vez. Está sendo uma tortura chinesa para meus olhos e coração, arrasados. Você tão inalcançável. Assim não quero amar.


(by, franck)

sábado, 30 de outubro de 2010

Moço, acho que vi você...


Moço, essa manhã acho que vi você, naquela praça que os vândalos destruiram os bustos dos imortais da academia maranhense de letras, lembra? Eu estava num sinal, quando atravessei a rua, não mais o vi, ou não era você, moço? Foi apenas minha vontade de revê-lo? Fiquei procurando sinais que indicassem que esteve ou estaria ali, na praça, entre pombos, na banca de revistas, no caixa eletrônico. Mas o perdi de vista. E você me perdeu do seu coração, moço?
Moço, essa tarde acho que vi você, naquela sorveteria da praia. Não quis acreditar na minha sorte ou na coincidência de vê-lo duas vezes no mesmo dia. Vi você dando risadas e estava acompanhado. Mais uma vez estava do outro lado da rua, via o por-do-sol, e, quando cheguei na sorveteria, vi um carro se afastando. Ou não era você, foi apenas minha vontade de vê-lo, moço?
Moço, será que o acaso fará nos encontrarmos hoje a noite? Estou naquele restaurante japonês, lembra? Sexta-feira nessa Ilha abaixo da linha do Equador, calor, quero tomar um porre de saquê, rir, ter você de volta, porque sinto saudades da nossa felicidade e do futuro que não tivemos... Moço, prometo não perdê-lo de vista se vê-lo de novo. Agora. Aqui.

(by, franck)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

(Para lê ouvindo Ceumar cantando 'Meu Mundo')


Meu mundo

A beleza pode está no nosso silêncio. No que é transitório. No jeito de reinventar-se. De querer atingir o essencial. A beleza pode está em olhar pela janela e vê um adolescente sendo levado sentado em cadeira de rodas. O sol está forte. Para um dia de sol, minha rua está iluminada. É a noite transfigurada pelo sol que sobe e a tudo lança, indiscriminadamente (indiscretamente?) sua luz. Ou a luz de uma lua e céu abundantes de uma luz mais discreta. Esta pode ser uma beleza dos astros. Esta é a minha tarde, quando as luzes da noite foram pensadas e assimiladas e podem brilhar com maior intensidade. Meu mundo. Minha janela. Minha beleza. Na noite, as presenças não são tão claras, mais insinuadas. E quem disse que o mundo não é uma grande abóbada, uma grande cúpula? Tudo é uma questão de se atirar as pedras no lugar certo. Para além do encantamento da minha beleza e do meu mundo na minha janela numa tarde luminosa. Essencial.
(by, franck)


segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Para ele


Hoje tenho certeza absoluta ter sido enganado pelo tarô que ele jogou... Hoje escrevo para dizer que sinto por não ter vivido com ele aquela paz de um cair da tarde numa praia, o ócio dos piqueniques numa manhã de domingo, o vento nos nossos cabelos num passeio de jeep pelo litoral maranhense... Gosto das simplicidades e de alguns clichês, porque não? Não queria pedir mais do que ele tinha, assim como não daria mais do que dispunha.
Eu e ele traçamos esboços, tateamos traços e promessas; restaram alguns filmes, alguns livros, algumas músicas, algumas cartas, algumas imagens... As delicadezas que se amontoaram na memória, na alma, no coração; Melhor escapar deixando algumas lembranças? Eu pensei em tudo mais limpo, mais claro, mais blues...
Hoje escrevo para ele e parafraseando Caio Fernando Abreu digo que 'talvez eu só precise de férias, um porre e um novo amor'... Ou não ter nada além deste amplo vazio que poderei deixá-lo assim, sozinho em si mesmo, completo, total...

(by, franck)

sábado, 23 de outubro de 2010

GATOS & BAILARINA...


Manhã nublada. Ouço Tulipa Ruiz, que me interessa mas não anima. Minha casa está um caos, 'sem a dignidade de um castelo', parafraseando Clarice Lispector. Queria aprender a beleza do que é transitório, mas a memória é maior que o homem. Lembrei-me da rampa que dá acesso à garagem do prédio que trabalho e na qual existem muitos gatos, muitos deles muito lânguidos; ficam estendidos à espera de afagos e ontem, olhando-os com um outro olhar, pareceu-me que eles se impregnavam dos afagos que recebiam, como se eles, através de tantas mãos, se transubstanciassem, cada um deles, em pequenas languidez miantes. Pensei em gatos, nesses gatos, pensei na minha casa e na bailarina que ergueu seu braço e, eternizado o que deveria ser somente um gesto, cria musgo sob as axilas...


(by, franck)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Noturno


Mais uma vez anoiteceu. Sinto falta de você, de um efetivo romance, mas existem romances serenos? Pois não gostaria de grandes turbulências, nem das pequenas, acho. Um lago, não um mar, mas onde eu pudesse descobrir, talvez por acaso e absolutamente encantado, a profundez e riqueza de um oceano.
Esse noturno. O noturno das coisas. O noturno da natureza. A terra crua, desnuda do cimento da cidade. Eu desnudo de você.
Não quero ser cético e distante, como um girino que recolhe a cauda somente para adaptarem-se nele as patas traseiras, que lhe serão mais úteis num mundo que não só é de água acolhedora, mas também de terra, terra por vezes anerosa e seca, e, também repleta de predadores.
Mais uma vez anoiteceu. Eu desnudo de você!


(by, franck)

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Uma história quase azul

A primeira vez que se viram estavam no estacionamento do prédio. Ela vagamente familiar para ele. Ele totalmente desconhecido para ela. Madrugada. Olharam-se desconfiados, e, se perderam ali mesmo. Uma semana depois, numa tarde de sábado, se reencontraram esperando o elevador, ela com compras; novamente a sensação que a conhecia, mas de onde? Ele, vindo da praia, ela lembrou que o já vira, mas onde? Desceram no mesmo andar, apenas os dois, silenciosos; mas ela não conseguia carregar todas as compras, no que ele ajudou. Moravam de frente um para o outro, como não tinham se cruzado outras vezes? Ela agradeceu a ajuda, sorriram, e, cada um foi viver o que restava daquele sábado, coincidentemente, dentro de seus apartamentos. Mas naquela noite ele soube de onde a conhecia, quando ligou a tevê, ela estava lá, na novela, e, no apartamento do outro lado do corredor.
Apartir daí, se reencontraram sempre, como se tivessem combinando horários. Os sorrisos, os acenos, foram fluindo. Ela era a atriz do momento, mas sempre sozinha? Ele se indagava. Ela cada vez mais querendo saber daquele homem tão bonito e aparentemente tão sozinho. Não se sabe quem tomou a iniciativa, se foi ele que perguntou com quem ela ficaria no final da novela, se ela que bateu na porta dele num domingo à tarde, pedindo que ele trocasse uma lâmpada no apartamento dela. Sabe-se que o destino, o acaso, ou qualquer outra denominação que seja, conspirou, e, quando viram estavam naquele fim de tarde de domingo,tomando vinho, contando suas histórias, suas vidas: Ela recém-chegada de outro estado, era a atriz revelação, a descobriram num teatro, sentia-se perdida e sozinha naquela cidade, mesmo com o ritmo intenso das gravações. Ele, saindo de uma relação, ainda com algumas cicatrizes, trabalhava com publicidade, por isso, seus horários de trabalho variavam tanto.
Na semana seguinte, se telefonaram. Se viram num café, rapidamente, numa folga dela: Ela tomou água com gás, ele dois cafés com leite; ela fumou três cigarros sabor menta, ele a convidou para jantar. Ele cozinhou para ela, enquanto ela falava de seus pais, da cidade serrana no sul do país que passou a infância, que trabalhar na tevê era uma profissão como as outras; ele contou que tinha ido a cidade da infância dela passar umas férias quando adolescente, que tinha passado um ano em Barcelona, que teve cinco cães quando criança.
Os encontros se tornaram uma constante, passavam fins de semana entre lençóis, ouvindo rádio na madrugada. Na pousada onde se refugiavam, ele leu poemas para ela, ela chorou, disse que chorava mais de alegria do que de tristeza. E vieram os cinemas, os teatros, descobertas de ambos, as primeiras brigas, as reconciliações, a viagem dela para o exterior com a gravação do final da novela.
Naquela noite chuvosa, quando ela retornou da viagem ao exterior, quando ele foi buscá-la no aeroporto, quase não conseguiu chegar perto dela, com os flashs e jornalistas a sua volta; com ela distribuindo sorrisos e falando ao ouvido do ator que contracenava com ela na novela. Na volta para casa, um silêncio interrogativo, uma possibilidade remota da felicidade deles, tinha quase acontecido, ele soube que não eram mais um casal, havia ocorrido o que ele temia.

(by, franck)

domingo, 17 de outubro de 2010

Se você tivesse chegado...


Se você tivesse chegado teríamos ido assistir 'Comer Rezar Amar'. Teríamos tomado sundae de maracujá na saida do cinema. Veríamos um céu seda-blues ao cair da tarde, antes de brotarem as estrelas. Teríamos jantado naquele restaurante à beira-mar no qual tocam músicas francesas. No digital do relógio 02.35h. Recolho minhas emoções. Minha insônia. Meu dia sem você. Ah, se você tivesse chegado...


(by, franck)

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A carta


Recebi tua carta, queria responder com urgência, mas não sei o que dizer. Essa loucura me faz tão bem. Pura magia. Tenho uma urgência de quem procura ser infinito numa estrada finita e tenho visões de pássaros. Formigas. Gigantes. De nós dois. Minhas mãos tremem. Não quero pensar em nada. Como fazer para não pensar naquilo que se está pensando? Quero te dá um beijo doce, ou agridoce...


(by, franck)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A felicidade é doce!


Receber de presente 'A misteriosa chama da Rainha Loana' de Umberto Eco + provável sorvete de tangerina + cartinha acompanhando o livro + falar e te vê no skype + telefonar-te ao meio-dia + mistérios que há de sempre pintar + eu e você = Felicidade completa!


(by, franck)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Aniversário!


Não gosto muito de aniversários, nem os meus e nem os dos outros, mas esse meu aniversário tem um gostinho especial, como disse Adélia Prado: "Quarenta anos, não quero a faca nem o queijo, quero a fome". E, quero a fome, sempre, do olhar e do sentir e do coração e da alma e do viver...
Sei que sou limitado, sim, mas não importa, ao quarenta quero entrar para a política, agarrar a história pelo pescoço e sacudi-la até ela gritar. Quero comprar uma ilha e construir barcos. Quero casar com quatro homens, três grandes e um pequeno e quero um alfarrábio em Marte e beber um bar até secá-lo e acordar na manhã seguinte e descobrir que sou membro da Família Real. Quero ter meu próprio programa de televisão-uma hora todas as noites à meia-noite, fazendo exatamente o que quero fazer. Quero muitas rosas e muito vinho. Quero que as pessoas parem de cuspir pelas ruas como se tentassem cuspir a poluição, seus medos, suas angústias e tristezas. Quero me acostumar com o verão, quando adoro os dias e noites chuvosos e frios. Quero tomar decisões românticas, como mandar poemas, acender velas, telefonar dizendo que estou com saudades. Quero percorrer o Brasil e o mundo de carona com um amigo(a), só de caminhão. Caminhão de verduras, de frangos, de colchão de molas. Quero viver um duradouro agora, um 'modus vivendi' em seu torvelinho de drogas leves, trabalho por sobrevivência e ócio, mas quero saber tocar também um instrumento. Sou limitado, eu sei, mas quero o sacrifício de tentar a vida toda para conseguir a garantia da monotonia. Quero ser feliz, apenas, e, vou dizer-te o que eu quero, quero ser meu próprio guarda-costas...
A gente é o que a gente gosta: nossa comida preferida, os filmes que a gente curte, os amigos que escolhemos, as roupas que a gente veste, a estação do ano preferida, nossos esportes, as cidades que nos encantam... Eu sou outono, disparado, e, ligeiramente primavera. Estações transitórias. Sou Almodovar. Sou Caetano Veloso. Sou Martha Medeiros. Sou Clarice Lispector. Sou Caio Fernando Abreu. Sou pães, queijos e vinho, os três alimentos que eu levaria para uma ilha deserta, mas não sou ilha deserta: sou urbano. Sou bala azedinha. Sou coca-cola. Sou camarão com quiabo. Sou filé com fritas. Sou sorvete de jaca. Sou bacalhau ao forno. Do churrasco, sou o pão com alho. Sou livros. Discos. Dicionário. Sou guia de viagem. Revistas. Sou mapas. Sou internet. Já fui mais tevê, hoje sou mais rádio. Mpb. Loung. Cinema. Cinema. Cinema... Sou azul. Sou cabelo enrolado. Reggae. Sou jeans. Sou balaio de saldos. Sou ventilador de teto. Sou jeep. Bicicleta. Sou a pé. Sou tapetes e panos. Sou abajur. Bloqueador. Não sou de academia, mas de capoeira. Sou mar, mas não sou areia. Sou Londres. Pirinópolis. São Luís do Maranhão. Sou mais cama que mesa. Mais dia que noite. Mais fruta que flor. Mais doce que salgado. Mais música e um pouco de silêncio e solidão. Mais pizza que banquete. Mais caipirosca que champanhe. Sou delírio. Sou eu mesmo.

(by, franck)

sábado, 9 de outubro de 2010

Amor, mais nada!


Não quero o amor como uma entidade. Quero o amor como um milhão de coisas, pequeninas ou não, mas que venham e cheguem e sejam amor, mais nada. O amor é um olhar castanho distante. Um peso de papel que reproduz o globo terrestre. As flores de um ipê branco caindo numa manhã. Cheiro de pão assando às cinco e meia da tarde na padaria da esquina. Um telefonema a meia-noite para dizerem que estão com saudades. A voz de Nina Simone cantando Angel. As folhas secas que o vento varreu para dentro de casa. Um poema de Ira Buscacio. Um tênis all star amarelo numa fotografia. Uma cama desfeita ao meio-dia e um copo d'água pela metade. Um livro de Tati Bernardi aberto na página 49. Um girassol solitário murchando na cozinha. Uma máscara mexicana na parede vermelha. Uma rede na varanda numa tarde de sábado. Um gatinho branco andando no muro como um equilibrista. Uma frase de Caio Fernando Abreu deixada no orkut por Sil. Dirigir ouvindo poemas de Manuel de Barros. O escurinho do cinema numa sessão as duas da tarde. O silêncio da casa num dia de domingo. O azul do céu nas manhãs de outubro. A espuma do mar ao cair da tarde molhando seus pés. Um beija-flor no jardim. Um choro de criança na madrugada. O amor é isso, é muito mais, ou mais nada...


(by, franck)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Desejei matá-lo por dentro e por fora de mim


Quando desci as escadas daquele prédio antigo, por isso sem elevador, no centro da cidade, quase dez horas da noite de uma sexta-feira chuvosa, desejei matá-lo por dentro e por fora de mim. Fui andando na chuva até a minha casa, esquecendo o meu carro e minha auto-estima; mas o seu sorriso, seu cheiro, seus cabelos caindo nos olhos azuis, não conseguia esquecer, nem ele me dizendo que estava apaixonado por outro, e, deixando escapar o nome dele: Beto. Para o inferno se ias me deixar daquele jeito, eu precisava de motivos e cheiros e profissão e signo...e Beto virou minha obsessão, passei a noite escrevendo Beto no orkut, google, facebook, badoo, radar, e, todas as mídias de relacionamentos disponíveis e que ainda iriam inventar, mas precisava saber quem era esse tal de Beto. E Beto poderia ser o paranaense de trinta anos, artista plástico que fazia umas aquarelas sem cor; Beto era um gogoboy paulista, musculoso, que dizia topar todas; Beto, no google, era um ator carioca, gostava de rave e se dizia bi; Beto, dezoito anos, maconheiro e morava no mesmo prédio dele; Beto, meio hippie, baiano, num blog com posts sobre paz e amor; Beto, estudante de Letras, do interior de Minas, deixou como depoimento no orkut para sua amiga um poema do Neruda; Beto, brasileiro em Portugal, com seu namorado gringo; Beto, era alguém que dormia, enquanto minha dor e raiva e desespero me consumiam como o sono, os cafés e os cigarros, todos, naquela noite. Beto, como todos que fantasiamos merecer um amor, tinha o amor que eu quis e queria, e, provavelmente iria continuar indo com ele ao cinema, praia, rindo de suas piadas, passeios na orla ao cair da noite e viagens nos fins de semana. Provavelmente, também, iria encontrá-los qualquer dia numa rua, num bar, num teatro, e, então, saberia quem era Beto, o que ele tinha; só esperava que quando isso acontecesse minha vontade de matá-lo por fora e por dentro tivesse sido concretizada e que outro fosse ele na minha vida, e, que o Beto não fosse mais essa obsessão.


(by, franck)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Convite para um alguém em Fortaleza


De Fortaleza, nesta noite, venha voando,
sobrevoando os acidentes. Injustiças. Carros. Florestas.
Navios. Misérias. Mas venha voando.
Aqui, nesta cidade, mais ao norte,
tem sol, céu azul, ruas estreitas.
Podemos chorar. Nos amarmos. Nos queixarmos.
Ou jogar o jogo de estarmos sempre equivocados.
Venha voando
feito um cometa à luz das outras estrelas.
Aqui, te conduzirei com cuidado pelos meus sonhos abstratos
praias, ladeiras, igrejas, escadas, torres, quartos.
Venha voando
porque há um abismo em cada olhar. O seu é porto seguro.
Venha voando
para que tenhamos um estado sólido de amor e paixão.

(by, franck)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Uma casa, um porão e nós dois...


Naquela tarde que fui visitá-lo, disseram que ele tinha enlouquecido. Que ele desceu para o porão desde a manhã, que recortava figuras coloridas das revistas e as colava nas paredes. Quis vê-lo, mas não deixaram, fiquei no jardim, tomando chá, tinha atravessado a cidade, como num ritual, numa tarde de chuva, para vê-lo. Fiquei ali ouvindo o burburinho daquela casa ao cair da noite e aquela angústia crescendo no peito por causa dele, lá no porão. Fiquei ali pensando que ele disse sempre o acharem estranho com aquele olhar para o vazio; aqueles livros existencialistas; aquelas conversas sobre o cosmo e astrologia e astronomia; aqueles filmes em branco e preto, antigos; aqueles sons de oboé e cítara e harpa que varavam suas noites insones e os portões, e, aquela solidão de quem nunca será amado; até aquele nosso encontro, em frente a sua casa. Ele estava no jardim, tomando café e dando sobras de biscoitos aos pássaros, quando parei para ouvir a música, desconhecida, vindo da sua casa, que invadia aquele início de manhã. Ele se aproximou, convidou-me para entrar, tomar café com ele, ouvi músicas como aquela, e, nossa solidão de quem tinha perdido as esperanças, foi preenchida por manhãs e tardes e noites e madrugadas de nós dois, naquela casa antiga, na qual ele dizia que os fantasmas espreitavam nosso amor, na qual os sons de pássaros se confundiam com as músicas tocando, na qual os raios dourados do sol ou o luar nos encontravam perambulando por salas, quartos e naquele porão que ele agora estava.
Naquela tarde que fui visitá-lo, disseram que ele tinha enlouquecido, como alguém enlouquece? Será que ele começou ao dizer-me que nos meus cabelos tinha borboletas todas as manhãs? Quando começou a ser visitado nas madrugadas por seres de outros planetas, que cúmplices, segundo ele, falavam de nossa paixão? Ou naquela tarde que disse ser um rei, até disse qual era o rei, vestiu-se como tal, e, que a casa era um castelo e lá fora tinha inimigos, que precisávamos nos proteger no porão?
Naquela tarde que fui visitá-lo, como todas as tardes, como um ritual, fiquei olhando o jardim, os pássaros, as coisas acontecendo após a chuva, como as luzes da rua e das casas sendo acesas, as pessoas voltando ou indo com seus guarda-chuvas e chorei por nós dois, porque ele estava no porão e eu que deveria estar lá, desde a manhã, recortando e colando figuras coloridas pelas paredes.

(by, franck)

domingo, 3 de outubro de 2010

Qual carta do tarô é a do encontro?


Ontem sonhei que você jogou tarô e que as previsões foram nosso encontro. Por isso, espero-o aqui em São Luís, mas poderia ser em Fortaleza, Lençóis Maranhenses, París, Jericoacoara; que importa a paisagem geográfica se a paisagem humana estiver ao nosso lado? Ou você me espera aí para banhos de chuva, pudim de leite, poemas e cigarros na madrugada, piqueniques aos domingos? O espero aqui lendo Bandeira, Adélia Prado, Pessoa; mas eu poderia ser aquele porquinho da Índia, equilibrista ou um mágico, só para você, aí, ou na China, Pirinópolis, Belo Horizonte, Barcelona. Você me espera ouvindo Arnaldo Antunes, numa manhã ou tarde qualquer, e, eu aqui, o espero ouvindo Bob Dylan, Chico Buarque, Nina Simone, Elis Regina... Pensando em fogueiras, gaitas, luar, nenhuma solidão, uma viagem de jipe pelo litoral nordestino. O espero aqui, ou você aí, para festejar nossos aniversários, passeios de barco e de bicicleta, boca na boca, dois olhos castanhos perdidos em dois olhos castanhos... O espero aqui, ou você me espera ai? Antes ou depois do pôr do sol?
(by, franck)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A moça da casa à beira mar


A moça, ali, no meio da sala, sentada numa cadeira de balanço, na quase manhã. Tem os pés descalços, ela andava descalça, não se preocupava com detalhes como sapatos, gostava do prazer de sentir e estar em contato com o solo desde criança, e, agora, naquela casa, de frente para o mar, na qual morava não sabia desde quando, saia ao amanhecer e anoitecer, sentindo a água salgada nos pés, a areia, os seixos, as ondas... A moça usava um vestido vaporoso, florido; ela também gostava de roupas leves, coloridas, com flores; flores nas roupas, nos cabelos, nos vasos enfeitando a casa, no jardim que cultivava, sua pequena botânica; na qual se perdia com os cheiros, cores, sons e as visões de pássaros, borboletas, lagartas e outros desconhecidos da fauna que a visitava. A moça, na quase manhã, estava sentada naquela casa, ouvindo o barulho das ondas do mar, naquela sala aos poucos invadida pelos raios do sol, sem saber em que ano estava, ou o mês ou o dia. Olhava a parede à sua frente pintada de vermelho, nem sabia quando aquela parede mudara de cor, lembrava apenas de um azul pálido; como que música era aquela que tocava como uma cantilena, um mantra, desde sempre, naquela casa; que objetos eram aqueles espalhados por poltronas e mesas e cadeiras: lenços de seda, um guia de viagem, uma mala entreaberta, moedas estrangeiras antigas, cartas manuscritas em envelopes com bordas verde e amarelo, diários, livros, um mapa de alguma cidade desconhecida, fotos, muitas fotos, e, em todas elas, a moça sempre sorridente, mas não lembrava quando e nem onde foram tiradas, nem quem era o homem que aparecia em todas elas; não lembrava ter cruzado além das pontes da cidade que morava, se é que sempre morou, tudo era bruma para a moça. Naquela quase manhã, pensou em olhar-se no espelho, maquiar-se, trocar o vestido florido por outro, calçar sapatos; ela, que não se preocupava com esses detalhes, mas sentiu uma súbita vontade e necessidade de fazer essas coisas, como se alguém fosse adentrar a casa para tirá-la daquela letargia na qual estava inserida. Buscou as horas, mas os relógios pararam naquela sala, naquela casa; ao longe cães latiam, no jardim pássaros cantavam, o mar a chamava. Aquela quase manhã para a moça parecia sonho, livro, filme, coisas assim, por isso, ela não sabia se ainda existia.

(by, franck)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Será que ouvias Elis Regina na estação?


De manhã, bem cedinho, vi você na estação do metrô, você fumava, deu-me vontade de ir falar com você, dizer-lhe dos males da nicotina, como sempre fazia. Vi você e estavas com os cabelos encarolados e despenteados, como sempre; sorri, porque adorava vê-lo de manhã tentando penteá-los. Você estava com aquela camisa pólo amarela, a qual presentei-o num dos seus aniversários, ou foi num natal? Num ano novo? Ou não teve nenhuma data especial? A comprei porque achei que combinava com seus olhos azuis, aliás, olhos que mudam de cor conforme o dia vai passando. Vi você, nesta manhã, bem cedinho, em pé naquela estação de metrô, sem se importar com a fila interminável, com a aglomeração tão comum do horário, ouvindo músicas, será que ouvias Elis Regina? Lembro-me que ouvias Elis o tempo todo, sempre elogiando sua voz, que não conhecia outra cantora como ela, que sentia não ter sido contemporâneo dela, e, eu tentando fazer você ouvi Nina Simone. Ah, você tinha um livro nas mãos, quem estaria lendo? Não vi o título ou o autor do livro. Ainda mantinha sua paixão por Clarice Lispector, tão introspectiva quanto você? De manhã, bem cedinho, eu quase descia naquela estação, porque você estava lá, parado, como se tivesse todo o tempo do mundo, como se esperasse alguém ou não esperasse nada e ninguém, e, iria dizer-te que não precisarias mais esperar, eu estava ali. Meu trem foi embora e você saiu da minha visão, mas ficou nos meus pensamentos, como agora, ao deitar. Nem sabes quem eu sou, só sei que existes, como nos meus sonhos. Amanhã, de manhã, bem cedinho, quero voltar a vê-lo naquela estação e saber que também existe, além dos sonhos, outra vez.

(by, franck)

domingo, 26 de setembro de 2010

Para que escurecer o que já anoiteceu?


Para que escurecer o que já anoiteceu? Mesmo que a lua brilhe lá fora, a noite aqui dentro invade cada poro meu, depois que percebi que no mundo há você, não consigo imaginar a felicidade longe de você. Como não estou do teu lado, choro. Sempre. Ontem experimentei uma alegria sem sentido, coloquei a mão sobre o ombro de um amigo e sorri. Só para experimentar a sensação do estado de estar alegre. Percebi a alegria dele ao me ver alegre. Ele então começou a me chamar à atenção para crianças e pássaros e gatos e lagos. Brincamos com um cão vira-lata que passava por ali. Andamos de roda-gigante. Rimos juntos da cara do velho surpreso com nosso beijo. Chutamos lata na calçada suja. No final da tarde, ele me mostrou uma estrela que surgia no céu, talvez a primeira a surgir, mas eu contemplava era os raios do sol que morriam no horizonte. Depois quando a noite finalmente chegou e o gosto de vinho substituiu o gosto de pipocas e algodão doce, concluir que a alegria é muito frágil. É tudo ilusão. Naqueles momentos de risos e brincadeiras da tarde, eu estava num pranto só. Eu chorava por dentro. Eu estava distante de tudo aquilo. Eu estava triste. Eu gritava de dor. Então, o que é felicidade? E o que é infelicidade? Não sei de nada. Não sei de nada. O sentido da vida é não ter sentido. É tudo questão de momento. É tudo um grande teatro. É tudo fantasia. Miragens. A vida é uma grande farsa. Me iludo que não consigo viver sem você porque essa ilusão é necessária para minha sobrevivência. Se teu fantasma desaparecer de mim, como irei justificar uma vida tão vazia? Meus sensores entraram em pane...


(by, franck)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010


Há dias que saio de dentro de mim

fecho a porta de entrada

espalho-me por aí

feito chuva

feito ventania

feito pensamento

feito tempo...

Não dou espaço à solidão.


(by, franck)

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Você esteve aqui ou sonhei?


O dia chega devagar e nesse despertar com a casa respirando sono, não sei se sonhei ou se você esteve aqui, comigo. Busco-te ao meu lado, mas não o encontro, apesar da cama desfeita e na minha memória você está vestido com uma camisa de flanela, sapatos velhos, cabelos despenteados... Venta. Ameaça chover. Meus olhos vagueiam em busca de sua mochila na poltrona, suas roupas jogadas, mas não as vejo. Lá fora vendedores gritam maçãs e camarões. Ligo o rádio e o locutor diz que tocará canções de amor nessa manhã de domingo. E em nenhum lugar do mundo pode haver uma manhã tão estranha, pelo menos para mim, apesar de ser setembro, apesar da primavera, entre esse real e divagações. Isso é você, tão secreto e tão silencioso? Ou é apenas o outrora que se acabou? Mas ainda sinto amor na sua ausência, nesta nostalgia dolorosa, como sua última imagem sob um poste iluminando-o com sua mochila nas costas, como se dentro dela você levasse a vida a todo custo, ou nas mãos, com delicadeza, como o violão. Você esteve aqui ou sonhei? Será que os espinhos no peito tem tendência para virarem flores? Que o amor é tanto relembrar seus sapatos velhos como ouvir uma música que insiste fazer lembrar-me você? Desligo o rádio. O amor está nas coisas lógicas como nas mais disparatadas? Levanto-me e olho a chuva. Procuro seu cheiro pela casa já desperta, sinto-o no ar. Não sei se sonhei ou se você, como um fantasma, foi antes dos raios do sol, que não vieram.


(by, franck)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010


O animal que quase domino

é a minha necessidade

de não dominá-lo.


(by, franck)

domingo, 19 de setembro de 2010

Num fim de tarde, quase noite...


Relendo Caio, num fim de tarde, quase noite. Depois da chuva. Do sol. De arrumar os livros. De adiar as férias. De fazer um chá. De fumar um cigarro. De sentir falta. De pensar em Buenos Aíres. De sorrir comigo. De pensar em você. De ouvir músicas. De fumar outro cigarro. De pensar em nós.


(by, franck)

sábado, 18 de setembro de 2010

Água & Sal


Conte-me de sua outra cidade, que te contarei dessa coisa estranha e solitária que é viver nesta Ilha sem você. Conte-me de sua nova casa, na qual, você disse-me, há mais salas para receber do que quartos para dormir, que te direi do gosto de metal na boca todas as manhãs. Conte-me de sua paixão, mas não ultrapasse mais a fronteira da intimidade, que te darei alguns truques, pequeninos, que inventei, para te esquecer. Conte-me dos ipês amarelos da sua rua, que te mandarei o perfume das flores do jardim que foi nosso. O jardim que me deste. Conte-me da estação nessa cidade acima da linha do equador, que te mandarei a sensação que meu corpo ultimamente é água e sal, um mar. Não quero o simples ou o complicado, a vida não imita o cinema, mas queria estrelas cintilantes. Plumas. Xerez. Xadrez. Com você, de novo. Um dia. Agora.


(by, franck)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Achados & Perdidos


("E atravesso os dias, um pouco opaco, com breves iluminações, como há pouco no portão, olhando o céu"... Caio Fernando Abreu)


Recebi hoje sua carta e gosto tanto de suas cartas que, de modo bem egoísta, fico torcendo para que você desafie sua tendinite e continue escrevendo... Falamos, por telefone, em Caio Fernando Abreu, e suas cartas traem essa benéfica influência, elas têm o 'cheiro' e o 'gosto' da escrita de Caio, esse escritor que vou admirar sempre.
Hoje chove em São Luís, como chovia em Buenos Aíres quando você me telefonou. É impressionante como São Luís fica descaracterizado sem o sol, sem as praias lotadas, sem o colorido típico dos verões. São Luís é, definitivamente, uma cidade solar, nua, exibida. E nós, maranhenses, não gostamos também de sinais fechados e nem de dias nublados, como aquela música da Adriana Calcanhoto. O que não tem a ver com 'estado de espírito', ou seja: não há uma relação direta entre o tempo lá fora e o tempo aqui dentro. Tristes ou alegres, felizes ou infelizes, parece que todos nós, maranhenses, concordamos com uma coisa: o sol, o calor, as praias cheias, as cores ruidosas do verão são imprescindíveis.
Adoro quando vou a São Paulo (ou outra cidade de céu nublado) e me deparo com aquela garoa intermitente e deprê tão típica daquela cidade. Adoro a feiúra excessiva de Sampa, sua gente bem vestida, pouco afeita à exposição dos corpos, sua gente fechada e desconfiada, tão diferente da gente daqui... Por dentro, estou sempre garoando, como São Paulo, estou sempre protegido, 'armado', mas, por favor, sou absolutamente solar, necessito das cores exuberantes, das risadas altas, das alegrias forjadas. É um jeito maranhense de ser e de existir e, não tenha dúvida, a 'culpa' é da topografia: como se o desenho das cidades moldasse o humor de sua gente. E molda mesmo. A beleza natural de São Luís, seu clima quente, o fato de ser uma cidade debruçada sobre o mar faz com que seus moradores sejam pessoas diurnas, no que isso tem de mais amplo. Diurnas, no jeito de ser, isto é: expostas, exibidas, alegres (ainda que profundamente tristes), barulhentas e coloridas, quase sempre artificiais (ainda que possam ser profundamente profundas). Ou como diria Oscar Wilde: só as pessoas absolutamente artificiais é que não julgam pelas aparências. Ou qualquer coisa assim...

PS: Não encontrei a continuação desse 'achados e perdidos')

(by, Franck)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010


(Em 1990 fiquei fascinado com 'O perigo do dragão', livro de poemas de Bruna Lombardi, no qual tem um poema que é a síntese daquele período, das buscas e perdas de Caio Fernando Abreu, Ana Cristina Cesar e outros... O poema é 'Pra Ana C. e caio e todos nós', lendo esse poema, escrevi o poema abaixo):



Para Bruna e Ana Cristina e Caio e todos nós


Talvez chorar ajude muito sim, Bruna
lendo um de seus poemas ou de Ana Cristina
ou um conto de Caio.
Talvez a salvação viesse em naves espaciais
num telefonema vespertino
nas nossas loucuras
ou lucidez
nas nossas taras, angústias e medos.
Talvez estejamos velhos demais para acreditar em amores
ídolos, signos, búzios e tarô
talvez sejamos jovens ainda
para pular da janela
por acreditar nas pessoas
ideologias e seitas
tantas coisas orientais.
Apesar de tudo
ainda tentamos fórmulas
roupas e outros modismos
talvez assim
quem sabe
dará certo.

(by, franck)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Receita da felicidade!


(Para um alguém em Buenos Aíres)


Querido, bonito email, só que no seu lugar eu diria: sei que a solidão é eterna. Seria um grande achado existêncial para sua vida. Para a minha, descobri faz tempos isso. Só que âs vezes me esqueço. Pois é. Mas ando pouco existêncial nesses dias. Ando mais empírico, mais os acontecimentos que as teorias. Mais não totalmente, é claro. Para mim tem sido importante tentar criar certas raízes, mas como é difícil construir alicerces, não achas?
Foi bom falar com você também via fone, os emails podem ser próximos, mas podem ser distantes... E posso estar mais perto de você na inconformidade (?) de ter que me sujeitar a um email linear, que escrevendo, escrevendo e não conseguindo dizer-te nada que me importasse que você ouvisse. Tudo vai depressa, ou é o tempo que já é tanto, ou são ambas as coisas? Como eu disse, os emails às vezes nós fazem tão distantes... E é isso. No mais, dou-lhe a receita da felicidade: felicidade é um pastel de goiabada e queijo comido numa caminhada por ruas vazias, numa noite meio fresca, meio fria. Experimente para você ver. Ou, se preferir, felicidade é ser feliz comendo um pastel 'Romeu & Julieta' numa caminhada noturna. Mas aí já é muito reflexivo para mim. Eu fico com o pastel.
Beijos.

(by, franck)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O voo


Não tentei
Mas sei
Nós, aves, morremos dos voos
que não os demos.
[a serena possibilidade do abismo]

(by, franck)

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

Previsões dadas...

EU...

Minha foto
São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...