..."a lua completa mais de uma volta pelo zodíaco. E o anjo pálido troca o mel pelo sal"... (Caio F. Abreu)
sábado, 18 de agosto de 2018
Sobre bichos e coração
Estive ocupado rastreando pistas/
Nos cabelos do filósofo de olhos tristes /
No verde-claro do dorso de um louva-deus /
No canto onipresente de grilos e cigarras/
Em envelopes fechados que não chegaram aos seus destinos/
Nos fios dos postes recobertos de sal e pássaros./
Rastreei pistas/
Escrevendo sobre um viajante que não viajava/
Esperando saber de onde viriam seus vagalumes /
Cultivando cogumelos vermelhos que vieram em caixas hermeticamente lacradas./
Descobri/
Que podemos gostar de objetos inanimados /
Como é fácil se apaixonar por algum animal /
Que mil garças de papel conectados por fios se chama senbazuru /
Que jóias, frases e amores não podem ser replicados./
Rastreando pistas e meus movimentos /o próprio coração.
No dorso do esqueleto de uma baleia
A roupa do ambientalista gruda de sal e algas
seu relicário virou pátina
enquanto faz o inventário de peixes e da fauna marinha e objetos flutuantes nos oceanos
e descobre que no dorso do esqueleto de uma baleia
há o declínio das calotas polares
uma caixa de metáforas
e um maremoto se aproxima.
Acendo uma duzia de velas vermelhas para os orixás
acalmar os mares
e os homens.
sábado, 2 de junho de 2018
A delicadeza da morte
A delicadeza da morte
ronda os gatos que choram o mundo
nos olhos da mãe.
Etéreos, flutuam,
e a luz do Sol fura as cortinas
cospe fogo nas paredes
nos cantos da casa.
A noite explode na delicadeza da vida
um instante, abre a boca
na geografia dos felinos
e suas ausências.
Tulipas
Iansã
Nagô
Pássaros
dão as boas vindas
enquanto eles viram chorume
húmus
pó.
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(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)
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