
Você disse-me que voltaria num dezembro, espero-a capatultando avenidas, olhando dentro dos olhos dos peixes e grávida de estrelas. Estarei no jardim reiventando asas para o sol e escrevendo poemas e dando aulas e dirigindo carro e lendo Homero e Pessoa e Adélia e cartas reencontradas em gavetas e baús. Traga seus mapas e dores e bússolas e as coisas recolhidas pelo caminho nesta sua volta como aquela placenta, guirlanda, crepons, serpentinas, guelras e conchas. Me encontrarás camuflado, neste dezembro, cheirando a mirra, pintando aquarelas e fazendo preces ajoelhado e consultando oráculo e orando pela felicidade do mundo e transformando orvalho em anêmona e anêmona em girassol para enfeitar sua chegada. Que venhas chorando em tardes de chuva, se dezembro for, que ainda pertença a templos e seja a alquimista de outrora que da ágata faça nave e da nave faça borboletas e das borboletas faça orvalho, para que eu transforme em anêmona. A abrigarei dentro da minha jaqueta marron como abrigaria o mar e seguraria a chama de um isqueiro com a língua e ouviria o sussurro das árvores no azul das tardes só para vê-la sorrir, porque neste mês podemos tudo e por isso, como mágica, evaporaríamos, entre nuvens e cinza e anjos e blues e algas e estrume e porcelana e sonhos até janeiro nos encontrar humanos e mortais, outra vez.
(by, franck)