Naquela tarde que fui visitá-lo, disseram que ele tinha enlouquecido. Que ele desceu para o porão desde a manhã, que recortava figuras coloridas das revistas e as colava nas paredes. Quis vê-lo, mas não deixaram, fiquei no jardim, tomando chá, tinha atravessado a cidade, como num ritual, numa tarde de chuva, para vê-lo. Fiquei ali ouvindo o burburinho daquela casa ao cair da noite e aquela angústia crescendo no peito por causa dele, lá no porão. Fiquei ali pensando que ele disse sempre o acharem estranho com aquele olhar para o vazio; aqueles livros existencialistas; aquelas conversas sobre o cosmo e astrologia e astronomia; aqueles filmes em branco e preto, antigos; aqueles sons de oboé e cítara e harpa que varavam suas noites insones e os portões, e, aquela solidão de quem nunca será amado; até aquele nosso encontro, em frente a sua casa. Ele estava no jardim, tomando café e dando sobras de biscoitos aos pássaros, quando parei para ouvir a música, desconhecida, vindo da sua casa, que invadia aquele início de manhã. Ele se aproximou, convidou-me para entrar, tomar café com ele, ouvi músicas como aquela, e, nossa solidão de quem tinha perdido as esperanças, foi preenchida por manhãs e tardes e noites e madrugadas de nós dois, naquela casa antiga, na qual ele dizia que os fantasmas espreitavam nosso amor, na qual os sons de pássaros se confundiam com as músicas tocando, na qual os raios dourados do sol ou o luar nos encontravam perambulando por salas, quartos e naquele porão que ele agora estava.
Naquela tarde que fui visitá-lo, disseram que ele tinha enlouquecido, como alguém enlouquece? Será que ele começou ao dizer-me que nos meus cabelos tinha borboletas todas as manhãs? Quando começou a ser visitado nas madrugadas por seres de outros planetas, que cúmplices, segundo ele, falavam de nossa paixão? Ou naquela tarde que disse ser um rei, até disse qual era o rei, vestiu-se como tal, e, que a casa era um castelo e lá fora tinha inimigos, que precisávamos nos proteger no porão?
Naquela tarde que fui visitá-lo, como todas as tardes, como um ritual, fiquei olhando o jardim, os pássaros, as coisas acontecendo após a chuva, como as luzes da rua e das casas sendo acesas, as pessoas voltando ou indo com seus guarda-chuvas e chorei por nós dois, porque ele estava no porão e eu que deveria estar lá, desde a manhã, recortando e colando figuras coloridas pelas paredes.
(by, franck)
Naquela tarde que fui visitá-lo, disseram que ele tinha enlouquecido, como alguém enlouquece? Será que ele começou ao dizer-me que nos meus cabelos tinha borboletas todas as manhãs? Quando começou a ser visitado nas madrugadas por seres de outros planetas, que cúmplices, segundo ele, falavam de nossa paixão? Ou naquela tarde que disse ser um rei, até disse qual era o rei, vestiu-se como tal, e, que a casa era um castelo e lá fora tinha inimigos, que precisávamos nos proteger no porão?
Naquela tarde que fui visitá-lo, como todas as tardes, como um ritual, fiquei olhando o jardim, os pássaros, as coisas acontecendo após a chuva, como as luzes da rua e das casas sendo acesas, as pessoas voltando ou indo com seus guarda-chuvas e chorei por nós dois, porque ele estava no porão e eu que deveria estar lá, desde a manhã, recortando e colando figuras coloridas pelas paredes.
(by, franck)
Acho que é só boato, ele não enlouqueceu, é que ninguém entendeu,ele só queria um pouco mais de cores.
ResponderExcluirbjO
" e, nossa solidão de quem tinha perdido as esperanças, foi preenchida por manhãs e tardes e noites e madrugadas de nós dois" é bom se preenchido ... todos os dias, todas as horas.
ResponderExcluirlindo
beijinhos
Talvez a loucura dos dias ou da mesmice, o saturou, e ele encontrou paz no porão de sua imaginação.
ResponderExcluirbj, Franck!
.
LizA
..e chorei por nós dois, porque ele estava no porão e eu que deveria estar lá, desde a manhã, recortando e colando figuras coloridas pelas paredes.
ResponderExcluirMas tudo é o que deve ser !
Amei o post !
Como alguém enlouquece? Vendo borboletas no cabelo, vendo seres de outros planetas nos visitarem, vendo as cores do céu em nossos olhos, vendo o sol da primeira manhã bater só em nossa janela, vendo estrelas cair do chuveiro ou água plantar do chão... Isso é mesmo loucura? Ou os loucos são aqueles que não conseguem ver?
ResponderExcluirGrande abraço, adorei o blog.
nada de ficção , fim de relacionamento.
ResponderExcluir...meu Deus
ResponderExcluircomo você domina as palavras
e as coloca direitinho em
nossas emoções!
enquanto navegava neste 'porão',
continuava a ouvir a música
do meu blog, e então...
então...
chorei...
beijo n'alma, querido!
Franck ,
ResponderExcluirMais um choque em nossos conceitos ,é este teu
belíssimo texto .
Dói de tanta poesia que carrega ...
Porq louco !?
Porq era feliz , porq vivia seus sonhos sem
medo , sem pudores !?
É como a música dos Mutantes :
"dizem que sou louco porq sou feliz
mais louco é quem me diz
que não é feliz , eu sou feliz ..."
BjO , BjO , Mil BjOs ...
Franck, meu doce amigo,
ResponderExcluirQue texto criativo e como vc dança com as palavras, eu gosto tanto disso, que me encanto por aqui, sempre.
Acho que a loucura esta fora do porão.
Um beijo e uma noite de figuras coloridas
Franck ,
ResponderExcluirSei pouco da obras delas , agora que citou , vou até procurar saber mais.
Quem sabe não conseguirei belos posts , ...Rs
Tenho MSN , sim.
Mas estou com problemas , as pessoas não conseguem me adicionar. Não sei porq ...
Mas me passa o seu que te adiciono.
Vai ser ótimo bater papo com você.
A Sil eu já adicionei , ela até comentou de nós
tres batermos um papo qualquer hora dessas.
Se quiser , manda via comentário , eu pego e
excluo.
BjãO.
Franck!!
ResponderExcluirMe deu uma vontadeeeeeeeee de ficar no porão tbm, sabia??
Recortando minhas figurinhas, me encontrando.
Deixa ele lá!!! Ele não esta surtado, nada disso.
Ele só precisa de um pouco de sossego pra se encontrar.
Espera no jardim, ele volta!!!
Lindooooooooooooo texto, meu querido!
Beijo, beijo, beijo!!!
Melancólico. Somos todos loucos, quando imaginamos que podemos amar e sermos amados com a mesma intensidade. Em amor, sempre um ama mais.
ResponderExcluirBjão
Realmente acredito que ele não enlouqueceu. Ele queria conhecer novos horizontes e nova forma de pensamento. Muito lindo e poético o texto. Abraço.
ResponderExcluirOlá Franck, como vai? Muito interessante seu texto,triste... mas com muito lirismo, quando você fala dos recortes e colagens,da ida ao porão. Ir ao "porão" é buscar o nosso interior, nossos fragmentos. E é lá que colocamos pra fora nossas loucuras. Ele não é o único. Adorei!!! Parabéns!!!
ResponderExcluirBeijosss
Se é loucura se recolher ao porão e recortando as figurinhas, construir ou reconstruir o seu mundo de sonhos.....
ResponderExcluirLouco sou....
abços
Maravilhoso, como sempre. Mais uma vez, me perco nos seus textos, me envolvo, entro na história.
ResponderExcluirBeijinhos
Frank...
ResponderExcluirQuero um porão... e ver borboletas no cabelo de alguém...
Passando para deixar beijo... noite linda!
Sil
Há muita razão na loucura...
ResponderExcluirE muita loucura na razão...
Ser diferente é ser um pouco louco Franck...
Vai que foi isso.Um dia de fúria talvez.
Deconfio que ele fugiu para o seu mundo interior.
Beijos
Infelicidade é não elouquecer por vezes... É não se por em delírios existencias, infelicidade não existe para o louco. é a consiência que nos põe em cismas...
ResponderExcluirMas recortar figuras coloridas, havia de ter graça e felicidade!
Foi isso que pensei ao ler! *-*
mais uma vez, adorando o que vc escreve !
bju
Oi querido amigo da ilha do amor!
ResponderExcluirÉ, estive sumida, mas foi por um bom motivo.
Enfim atravessei o pais e fui visitar meu amado.
Sampa me acolheu perfeitamente desta vez.
E ainda que possa parecer ficção as minhas linhas, nada mais são do que o retrato de quem parece ter finalmente se encontrado em meio a tantos outros seres.
p.s: indo p sp fiz um breve pit stop na Ilha. E que frio estava, contrariando toda idéia que tinha de sua terra.
bjs,
Mônica
Olá primeira vez por aqui... gostei muito!
ResponderExcluiròtima semana!
Bjs
Uma grande amizade e/ou um grande amor?! Com muita afinidade e cumplicidade e borboletas no cabelo.
ResponderExcluirLindo!
Boa Noite,
Bj
Claro que não esqueci da nossa caipiroska!!!!
ResponderExcluirNa verdade, o pit stop foi só uma escala. nem desci do avião. Mas estaria mentindo se te dissesse que não pensei em ti naquele breve tempo em que fiquei em SL.Comentei até com o meu namorado, qdo cheguei em sp.
Beijos!!!!
.
ResponderExcluirNossa!
É o meu Caio ressucitado.
Que profundidade de sentimentos.
Uma mistura melancólica de angústia, amor, loucura e dor.
Creio que também me encontro nesse porão,
preciso me proteger do mundo, falta-me ver borboletas para enlouquecer total ou vislumbrar um mundo melhor.
Mais uma vez você me lembra um conto do Caio.
'Uma história de borboletas'
Beijos
.
.
Estou aqui, aqui me sinto notado, visto, eu quero estar aqui. Quero me chocar, me escandalizar, sofrer, amar.
ResponderExcluirA cada novo texto que você escreve, conheço um novo pedaço de vida, pedaço de luz.
Quando te leio eu morro e renasço.
se te leio mais de uma vez é pra te entender melhor para não perder cada momento único.
Quero te dizer que foi uma das maiores descobertas entro do que é gostar.
Beijo! tulipa ruiz te manda um abraço. Rs.
Franck!
ResponderExcluirDe muita sensibilidade e profundidade este conto, sendo possível vários entendimentos como observados nos comentários.
Vim até aqui agradecer sua visita e encontro
esse escrito carregado de emoções...
Espero voltar muitas vezes.
Elenir
Franck ,
ResponderExcluirSol nascendo e eu , já aqui , te
desejando um Dia de céu Azul !!!
BjO , BjO , BjO ......... :)
Franck,
ResponderExcluirColoquei um tira gosto da Tati pra você .
Ainda não estou lá muito convencida , ... Hehe
Em teste ,... Rsrsrs :)
BjãOoooOO!!!
Oi, Franck, que bom ter podido lembrar a vc a sua infância... Aquilo lembra a minha tbm. Estou muito fliz de voltar aqui sempre. Abraço!!
ResponderExcluirOi frank,
ResponderExcluirEstou assustado... eu recebo visitas de outro planetas todos os dias...ué?!
ser rei, um castelo e ver borboletas nos cabelos dos outros é loucura...então... levem-me ao sanatório!!! rsrsrs
grande abraço amigo!
A loucura guia os nossos corações e controla os nossos sentimentos.
ResponderExcluirBeijos
Um texto "daqueles" que transporta a gente e depois a alma fica vagando, voando pelo porão, pela rua com pessoas indo e vindo com seus guarda-chuvas, preocupada com ele naquela solidão de quem nunca será amado... preocupada com o meu porão, com o porão de cada um de nós. Quantas vezes já me enfiei no "porão" dos meus sentimentos e não queria mais sair? Já me taxaram de louca, já me taxaram de "esquisita". Sou, mas quem não é?
ResponderExcluirFranck, vc me arranca lágrimas e bendigo cada uma delas.
Gosto de vc, muito, por tudo que vc me faz sentir quando te leio.
Beijokas.
Hummm... Tem um selo para você no meu blog... espero que gosto, logo que ganhei pensei em você!
ResponderExcluirPassa lá para pegar.
Beijo!
Franck,
ResponderExcluirObrigada por seu Carinho , Atenção
e Amizade tão Pontuais...
Sim ,hoje estou mais emotiva
que o costumeiro ... RsRs
Eu tinha certeza que Dario te repassaria o Selo.
Também achei Lindo , com uma temática bacana ,
diferente ... :)
Espero que melhore da enxaqueca , sei que é terrível ...
BjOs Imensos carregadinhos de Carinho
nessa pessoa/linda/rara que é Você !
PS:
Depois me conte de sua impressão
do livro da Tati.
Seu texto começa de mancinho, assim quase uma música, mas depois mergulha, fundo, e toca.
ResponderExcluirEra tudo exatamente o que precisava ler hoje!
Adorei...
Bjos
Muito bonito.
ResponderExcluirUm olhar a ver, assistir, presenciar e saber como relatar.
Ah, Franck... tão, tão lindo...
ResponderExcluirQuanta beleza e doçura e uma ponta de dor divina encontro na loucura...
;* Álly