domingo, 25 de abril de 2010

O ALBATROZ


O albatroz solitário fez ninho sobre o convês abandonado do navio

e pôs um ovo.

Na cidade, um menino estudava trompete

a príncipio uma música descozida e qualquer

mas o albatroz, sensível, tomou para si este canto sem dono e inútil

e disse: será o canto do seu primeiro entardecer, filho,

quando as aves estiram longamente suas asas

limpam suas penas e adormecem sem dessassosego.

Mas os dias se passaram e o ovo não vingava sobre o casco

progressivamente mais longe do céu

e o albatroz não procurou mais uma canção

inaugurando os momentos de seu pequenino como o natal e seus presentes

um a um.

O albatroz ficou em silêncio e as minhocas e insetos ressequiram-se

ou desapareceram do convés.

A lua ia alta no céu quando a água umedeceu-lhes as patas

como num doce aviso ignorado.

O ninho se desfez ao nascer do dia.

O menino não tocou mais trompete

nem nenhum instrumento

cresceu.

Tornou-se um grande financista e dedicou-se à caça aos pombos.

4 comentários:

  1. Quem disse que a vida é uma história de final feliz? Os irmãos Grümm? Talvez, Andersen? Ou, ainda, Glória Perez? rsrs

    Adorei,
    Abraços

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  2. Muito bom... Lembrei-me Baudelaire em As Flores do Mal, especificamente na última estrofe do poema O Albatroz:

    "Le Poëte est semblable au prince dans Nuées
    Qui hante la tempête et se rit de l’archer;
    Exilé sur le sol au milieu des huées,
    Ses ailes de géant empêchent de marcher".

    Um grande abraço. Bom início de semana.

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  3. Obg Richard e Jacson pelas visitas...e, uma boa semana pra vcs! Abçs!

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  4. Lindos versos...
    lembrei de Castro Alves
    em Navio Negreiro, onde
    o poeta menciona o Albatroz
    em alto e bom som.
    Mas sabe...me chamou atenção
    o será que o menino não
    tocou mesmo mais nunca mais?
    Tenho um querido poeta
    estudando gestão empresarial, cada dia se afasta
    um pouco das palavra e se achega aos numero....
    Linda semana!
    Bjins entre sonhos e delírios

    "Mas o abraço era tão apertado,
    tão apertado
    que os corpos eram quase mais que colados.
    Poderia dizer que eram um só."

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(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

Previsões dadas...

EU...

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Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...