segunda-feira, 2 de abril de 2012

Uma carta para D...


Desculpe oferecer minha confusão a você, desculpe por não podermos estar juntos nesse feriado, desculpe pelo melodrama inevitável. Nunca serei capaz de escrever a carta que eu realmente queria escrever a você, esta carta não é a que estive escrevendo para você na minha cabeça nos últimos dias. Eu gostaria de fazer era um desenho para você.
Sinto saudades do que ainda não compartilhamos, parece uma combinação tão surreal de coisas, cafés da manhã, almoços, jantares, ligações telefônicas, mensagens pelo celular, caminhadas... Nossa espécie de mundo que ambos criamos. Sinto saudades, mas queria outras histórias, que o atendente da livraria olhasse para mim de forma diferente, que na fila da padaria alguém silenciosamente me entregasse um bilhete, que no escuro do cinema pegassem na minha mão, sei lá, comecei a inventar, a sonhar, a pensar situações assim, para afastar você dos meus pensamentos, mas o mais estranho é que esses pensamentos de minha imaginação seria você. Não consigo dizer o que quero, espero que você leia as entrelinhas. Tenho tido inveja das certezas dos outros, da segurança de vidas fixas. A vida é mais cruel que os sonhos. Porque o mundo exterior não acompanha meu estado interior? Porque os mesmos carros passam pelas mesmas ruas? As mesmas lojas vendem os mesmos produtos para as mesmas pessoas? Quando eu queira outro cenário, talvez o céu que você diz que agora é azul, a praia que você se encontra, queria ser pássaro alegrando o seu quintal.
Não sei se essa carta me trará alívio ou lembranças de nossos dias que ainda não vivemos. Só sei que o dromedário, que nunca fui, tornou-se mais leve à medida que ando pelo tempo livre, livrando-me de memórias, fotos, músicas, livros... Espalhando pelo deserto e deixando o vento enterrá-los na areia. Desculpe oferecer minha confusão a você, repito, talvez porque fins de tarde dominicais há muito me entristecem, lembra-me morte, negócios inacabados, culpa, perda, solidão... Desculpe meu melodrama, mas eu sinto saudades do castelo que construimos. Às vezes, as coisas mais reais só acontecem na imaginação. Lembrar do que nunca aconteceu.
(by, franck)
(imagem: franck)

13 comentários:

  1. Me disse em tantas linhas.
    Você entende a gente, anjo.

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  2. Nossa, Franck! Que carta!

    Para mim, porém, os sonhos são mais cruéis que a vida. E, esta tua frase "a vida é mais cruel que os sonhos" está me dando desdobramentos... Eu poderia falar sobre isso, colocar pra fora a batata quente entalada na goela.

    "Lembrar do que não aconteceu". P.M.! Isso dói. Outro dia, estive pensando nisso. Tenho história que não teve início, mas teve meio e fim. Outra, que teve início, mas o fim e o meio se enrolaram numa trama horrorosa... tenho história com começo e meio e não sei o que fazer com o fim...

    Lindíssima carta! Algo para se ler mais de uma vez.


    Suzana/LILY

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  4. Realmente tocante... E profunda, a carta.
    Acho q kda um de nós guarda consigo uma carta.
    Tenho um poema q fala sobre isso.
    lindo!
    =)

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  5. Gosto quando você volta a escrever. Gosto de ler e reler, até entender, ou desentender. O que vale é o que se aprende, o que se extrai, o que se sente.

    Grande Abraço!

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  6. Parece até que escreveu meu drama.... mas vou superarrr!!!!

    Bjsssssss meussssssss

    Catita

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  7. Acho que tenho medo das cartas, ainda mantenho duas na gaveta... quanto à saudade, não existem maneiras de se acostumar, mas se não mudar os hábitos o corpo definha.

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  8. Sinto saudade de ti
    sinto saudade de tudo que nunca vivi
    das tuas mãos,
    do meu desassossego,
    quando sinto teu cheiro na minha memória
    horas a fio,
    te desenho no espelho do quarto
    e rodopio nua, cheia de braços,
    a girar, a girar, a sentir
    o teu olhar a me seguir.

    O que não se vive é o que mais vive em nós.
    linda carta! bjs, meu queridão

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  9. Por que não se pode ser feliz ao lado de quem se ama? Simples assim. A vida seria mais simples se não fosse tão múltipla, tão cheia de possibilidades.

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. Lembranças do que nunca aconteceu... aqui, em ti, em todo lugar.

    Sem palavras.
    Bjos.

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