..."a lua completa mais de uma volta pelo zodíaco. E o anjo pálido troca o mel pelo sal"... (Caio F. Abreu)
quarta-feira, 30 de janeiro de 2013
Qual era a senha?
Houve um dia que você me disse que as suas tardes ficavam tão vagas, lembrei hoje de convidá-la, passa aqui qualquer tardinha dessas, estou sempre em casa. Vamos dar risadas e é bem capaz
que choremos um pouco também. Não me diga que o convite chegou tarde demais, mas as manhãs são para leite morno com chocolate, vasculhar armários, dormir mais um pouco, às vezes acordo pensando que um abraço apertado poderia me salvar, mas olho para o lado e não vejo ninguém, resignado, fecho os olhos e volto a dormir afogado em sonhos e neblinas. Mas hoje eu sonhei que havia um encontro combinado, a senha era um navio de brinquedo,mas nem estávamos numa cidade à beira mar, estávamos numa cidade ao Sul, entre montanhas, escombros, fumaça, céu cinza... Somos sobreviventes buscando signos, indícios, uma canção, mas o silêncio será a melhor das melodias.
Agora de novo é verão aqui dentro e não sinto mais frio. Mas o meu peito e as estradas ficaram saturadas de uma sensação de extemporaneidade, de atraso, e, restou meu sonho, nosso sonho, um vento lá fora no qual voam desespero, saudade, teu diário que um dia foi tão nosso poema e outras coisas inevitáveis que se encontra em todo lugar. Sou tudo o que tens entre eles e o caos. Espero-a, o céu abaixo deslizando e a distância se desfazendo num campo de girassóis, ervas, um alto castelo, numa lágrima de fogo nos olhos expostos ao sol, e, ainda não cheguei, esqueci a senha, o coração na boca, atravessando a cidade entre ferrugens, latas vazias, multidão, apitos, sirenes, morte e vida, vida e mortem solidão... As estradas saturadas... Tateio, mas quero voar, chegar antes que anoiteça, um coração de pedra e de silêncio... Encontrar você no jardim, ou um tigre, um cão, um beija-flor, o ideograma da morte. Uma flor na areia. O sabor das cinzas. Musgo. O silêncio de dois insetos. O esquecimento com flores inúteis... Mas esqueci a senha, nossas tardes vagas, mas somos sobreviventes e persistentes...
(by, franck)
(imagem: Net)
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(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)
EU...
- Franck
- São Luís, MA, Brazil
- Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...
Porra amigo vivemos esquecendo essa maldita senha e estamos perdendo todas as nossas conexões, referências, nosso amor.
ResponderExcluirAbraços.
Frank, tu se supera a cada texto!
ResponderExcluirCara, eu leio e viajo, me transporto pra longe e no fim sou trazido pra perto, pra realidade, e tudo acaba fazendo sentido, cada palavra, cada signo que me fez viajar encontra seu lugar no poema. Muito bom mesmo!
abraço
Que lindo. Gosto tantos dos seus encontros desfeitos e dessas existências que beiram a loucura.
ResponderExcluirBeijo, Franck!
ResponderExcluirFranck,
O que sinto: em tua prosa penso no tanto que poderíamos ser felizes, todos nós, cada um à sua maneira... você é muito bom nas narrativas rápidas, cenários múltiplos, igual à vida, não é? Ela parece escorrer inútil e não aproveitada por nossos dedos. Gosto de tua forma solta de escrever, gosto de todo o teu sentimento.
Beijos,
Suzana Guimarães, a Lily