quinta-feira, 6 de março de 2014

Uma carta para S.

Querida S.,

Sua carta chegou numa manhã de um domingo nublado. Na casa de paredes amarelo-damasco (vi numa revista de decoração e mandei reproduzir a cor), uma música vibrava do rádio ligado (ouço muito rádio) e o aroma de café e cuscuz de milho exalava. .. Enquanto tomava café e relia sua carta, pensava no que você disse: 'a vida é pouco, escorregadia', por isso, não poderia deixar de respondê-la ainda este ano, hoje, agora, deixando para depois as louças sujas do café da manhã e desligando o rádio e colocando uma Nina Simone. Será que ouves Nina nessa manhã? (Aliás, não sei se ainda é manhã aí).

Não lembro também quando conversamos pela última vez, mas não deixei de saber de você: seu humor, sua poesia, seus dias e noites... No meio do furacão de tudo isso, das nossas vidas, também nossas risadas. Nossas asas. A vida além de pouco e escorregadia também são essas pausas. Mas quero dizer-lhe que continuo acreditando no amor e na poesia, mesmo que eles morram, e, esse ano não deixou de ser uma variação sobre o mesmo tema. Um buraco negro. Todos que amei (ou achei que) eram sempre meio peso-pluma ao passo que eu assumo as pessoas, tenho vítimas que poderiam provar, torturadas e estropiadas, mas assumidas. Por isso as cartas e os poemas e os bilhetes de amor. Por isso os incensos e os lençóis novos na cama e as bebidas e os cigarros e algumas trilhas sonoras. Mas acho que essa busca se tornou finita, agora meu coração é fogo de artificio por dentro, infinitas incógnitas com H, pois para ele empinei meu coração junto com todas as pipas coloridas dessa cidade. Com ele bebemos goles de mar. Não sou mais igual a antes, com uma vida secreta e sombria e perigosa, cheia de encontros românticos desvairados. Agora somos fosforescentes e brilhantes, brilhantes como os lençóis maranhenses, como as dunas de Natal...

Que nos venham os cavalos que você disse que representará o próximo ano, animais da minha infância, mas não se ainda sei cavalgar, isso faz tanto tempo, a infância. Coelho que sou no horóscopo chinês, talvez use a impulsividade que rege esse signo e tentarei me equilibrar nos dorsos dos cavalos que por mim passarem, mesmo sendo de uma timidez extrema, mesmo não sendo dotado de muita energia.

Se o que importa é o coração, vou ouvi-lo, por isso, em janeiro (nos primeiros dias) viajarei pelo nordeste brasileiro e descobrirei outros tons de azuis no céu, escreverei poemas de amor, farei piqueniques com frutas de metal enferrujadas, porque a maresia comeu tudo... Quem sabe, S., não a terei em solo maranhense em 2014? Tomaremos café com cuscuz de milho enquanto Nina Simone cantará embalando esse encontro?

Com carinho e muita paz, sempre,
F.

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