quarta-feira, 5 de março de 2014

Uma história quase azul


Íamos nos casar num domingo, não precisaria ser de sol, mas teria que ter lua, teria que ser no jardim da nossa futura casa, entre velas, lanternas e amigos. Você fixava o olhar no seu anel azul-safira, aliás, tudo era azul, me sentia como um marinheiro bêbado, um rebelde, queria com você uma cama grande, uma lua cheia e talvez as muralhas da China.
Seus olhos e seu anel brilhavam na penumbra e me perguntavas do que uma pessoa precisava, não sabia responder, mas lembrava de sedas, azul forte, rosa suave, dourado profundo... O silêncio se quebrava em mil cacos entre nos e nem sei mais se era fim de tarde ou madrugada ou manhã, mas tinha uma penumbra, seus olhos e seu anel azul-safira.
Íamos ter uma lua de mel e queríamos campos de trigo em Nord-Pas-de-Calais, céu da amazônia com estrelas, bicicletas, trens, barcos e aviões, talvez um pouco de álcool, perplexidade, risos e solidão, uma faixa estreita de areia do mar fundindo-se com o horizonte. Mas você me dizia que era do cheiro que nos lembraríamos melhor, que precisava chorar um pouco, e, quando voltavas estava escuro, brilhava apenas o azul-safira do seu anel, acho que seus olhos também brilhavam, você abria as asas do lençol que a envolvia, deslizava e se esticava perto de mim, numa cama que não era grande ainda.
Íamos nos casar. Íamos ter uma lua de mel. Há histórias que é melhor contar a estranhos, talvez por microfone, alto-falante, fios e botões, por isso, memorizei seu rosto, aquele azul, aquela penumbra que ainda envolvem meu presente, num lugar que não é o nosso, porque sou o homem só em sua casa na qual em seu interior uma persiana e uma porta bate ao vento e ainda tem um jardim com lanternas coloridas, e, casamentos, luas-de-mel, campos de trigo, céu da amazônia me fazem sentir dor, sentir falta, andar em linha reta, esquecer, partir em busca de outros roteiros, outros sons, outras cores, mas ainda resta a perplexidade e quando em vez a vontade de chorar um pouco.
(by, franck)

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