Trago correntes nos tornozelos, por isso não atravessarei desertos como o beduino que quero ser. Mas beberei toda a água de um rio, dromedário que sou. Esse rio seria meu istmo naverrante, mas estou prisioneiro nesta ilha de algum continente.
Trago correntes na alma e sou um elefante, aquele que se isola dos seus com a iminencia de sua morte. A solidão chega nos olhos tristes desse elefante e em alguma tarde azul, e, eu choraria para a lua se a olhasse no pedaço de céu que vejo da minha janela. Mas nem o azul da tarde e nem o prata da lua invadem o branco mais branco que habito.
Trago correntes nos pulsos, por isso não cavo tunéis. Não darei abraços. Não colherei girassois na noite que se aproxima. E essa mordaça na boca? Sou um cão longe de sua matilha, uivando para a lua que não vi e nem sei se apareceu. Queria gritar. Cantar. Chamar por você, que nem sei se existe.
Não sei se é sonho. Alucinação. Realidade. Só sei que é outro dia. Um dia cinzento. Talvez chova por todo o planeta e as águas, os raios e os trovões desse dilúvio arrebentem correntes, mordaça, lavem minha alma e me levem para algum deserto. Para a lua. Para algum caos urbano. Assim me salvaria beduino. Dromedário. Elefante. Cão. Ou o humano que não sei se ainda sou.
(by, franck //imagem: internet)