segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Não colherei girassois na noite que se aproxima



Trago correntes nos tornozelos, por isso não atravessarei desertos como o beduino que quero ser. Mas beberei toda a água de um rio, dromedário que sou. Esse rio seria meu istmo naverrante, mas estou prisioneiro nesta ilha de algum continente.

Trago correntes na alma e sou um elefante, aquele que se isola dos seus com a iminencia de sua morte. A solidão chega nos olhos tristes desse elefante e em alguma tarde azul, e, eu choraria para a lua se a olhasse no pedaço de céu que vejo da minha janela. Mas nem o azul da tarde e nem o prata da lua invadem o branco mais branco que habito.

Trago correntes nos pulsos, por isso não cavo tunéis. Não darei abraços. Não colherei girassois na noite que se aproxima. E essa mordaça na boca? Sou um cão longe de sua matilha, uivando para a lua que não vi e nem sei se apareceu. Queria gritar. Cantar. Chamar por você, que nem sei se existe.

Não sei se é sonho. Alucinação. Realidade. Só sei que é outro dia. Um dia cinzento. Talvez chova por todo o planeta e as águas, os raios e os trovões desse dilúvio arrebentem correntes, mordaça, lavem minha alma e me levem para algum deserto. Para a lua. Para algum caos urbano. Assim me salvaria beduino. Dromedário. Elefante. Cão. Ou o humano que não sei se ainda sou.



(by, franck //imagem: internet)

10 comentários:

  1. E assim permanecemos perante esta unica realidade que é o mistério, poeta. Forte abraço.

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  2. Incrivel como tudo que tu escreve começa loucura e no fim faz sentido, se encaixa, se acha. Quem sabe num vai ser a sim a tua história, como as histórias que aqui tu conta.

    Abraço

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  3. Ei Frank!
    Que bom que está de volta com seus maravilhosos textos!
    Boa semana para você.
    Gdbeijo

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  4. E não sabemos por que e nem por onde e nem como. Só sabemos que sim e com força.

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  5. fazia tempo que nao tinha deixado essa historia de blog de lado, dai meu comecei a sentir falta de estar aqui... e vim especialmente aqui me inspirar.. gosto dessa forma que vc escreve que nos deixa interpretar, sentir... parabens!

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  6. Eu estava cadastrando a capa do teu livro no Skoob e acabei encontrando o seu perfil ( acho que você nem usa, rsrs). De qualquer forma te adicionei. Abraço

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  7. Correntes são frágeis...
    ...vem a liberdade

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  8. Alucinação e realidade geralmente coexistem!

    Primoroso!

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  9. Gosto desses texto denso, forte como um bom café no inverno!

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(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

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