..."a lua completa mais de uma volta pelo zodíaco. E o anjo pálido troca o mel pelo sal"... (Caio F. Abreu)
sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
Último verão
A última vez que estiveste aqui foi num verão
quando redescobrimos a cidade nos dias mais longos
e abacaxis apodreciam no calor do Hemisfério Sul
por toda a Ilha
enquanto lia poemas para você que sempre gostou mais de números e jogos.
O verão tatuou-se nas nossas peles naqueles dias e
um silêncio se instalou e deixava à vista a palavra amor
nos nossos olhos
dentro da varanda, na janela, nos lençóis
nas nossas roupas brancas
no pandemônio que a casa se tornou.
A última vez que estiveste aqui
o som parece ter ficado dentro das fotografias
nos cigarros que fumamos em cafés
nos poemas que não foram lidos
no telefonema que você não deu.
(by, franck)
(imagem:Ruy Barros)
segunda-feira, 26 de setembro de 2016
Estou vivendo no lado escuro da Lua
Tiraram o Sol do céu e estou vivendo no lado escuro da Lua. Tomo um drinque até ver o sol desaparecer além mar.
Mas as estrelas podem ser brilhantes nessa cidade também, mesmo que não seja tempos felizes para ninguém. Talvez para o dono daquele cachorro indo acrobaticamente atrás de um disco de plástico, para as crianças que se satisfazem com piruetas em suas bicicletas, patins e skates.
Drinques me deixam silencioso. Não confundam silêncio com força. Mas gosto do último gole, aquele que marca a fronteira entre a coerência e a confusão. Aquele que me deixa encapsulado da dor e da desordem da cidade cujo coração é um coagulo de vias expressas, avenidas mal iluminadas, subúrbios cheios de janelas exibindo flores de plásticos.
Explodiram um brechó aqui onde estou. Tocava Chopin, a garçonete me disse, como disse que não gosta desse tipo de música, que estraga seus ouvidos nordestinos. Pelos escombros e calçadas se encontra ainda tecidos feito à mão, gravuras rasgadas, jarros de vidros cheios de massas orgânicas...
Estou vivendo no lado escuro da Lua. Se a noite se estender muito ou a manhã começar antes da hora, poderei ver além dos escombros que tudo parou no horizonte. Que o dia desaparece atrás do viaduto. Que a primavera que não veio ainda espera na esquina para avançar entre ipês amarelos, rapazes usando sungas de praia, batons vermelho, camisetas manchadas e sandálias de dedo... Mas nada disso poderá salopar nossa masculinidade.
(by, franck)
(imagem, net)
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(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)
EU...
- Franck
- São Luís, MA, Brazil
- Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...