sábado, 27 de março de 2010

O mar


Acho que estou enlouquecendo. Acordo de manhã e pelas frestas da janela não vejo os raios de sol, mas uma bruma branca e úmida que fere e cega meus olhos. Equívoco. O sol brilha e o céu é azul, as nuvens escuras da noite passada se foram, o vento que bateu furiosamente nas portas e janelas, agora é uma brisa calma e quente que vem do mar. O mar... o mar... Não, isso não é para ser mencionado. estas histórias de mar, de ondas, de espuma branca, devem, definitivamente, ser abafadas.
Toca o telefone. Duas, quatro, seis vezes. Cambaleio ao me levantar, o corredor parece um navio numa tempestade. O aparelho pára de tocar ao me aproximar. Poderia ser você. Ou engano. Um amigo do sudeste do país. Talvez liguem depois. divago. Estou louco ou ainda bêbado, pois desde que você se foi percorro nas noites todos os bares, boates, ruas... saio por revolta, por dor, como quem bebe e se embriaga para fugir de si. Acordo com um gosto de sangue na boca, a cabeça pesada e os olhos pastosos, como agora. E sinto um frio longe do seu colo. E esta manhã nua de você? Choro. Choro por nós. Ando pela casa aos tropeções e nem o café amargo me deixa mais lúcido. Gostaria que a campainha da porta chamasse, o telefone voltasse a tocar, encontrar uma carta sob a porta. Nada disso acontece, para me salvar. Nos canais do televisor as cores e imagens me chegam desbotadas e disformes. No som, as músicas saem com as notas distorcidas. Quero sair, mas minha hora é a noite. É nela que vivo agora. É nela que caminho. É dela que retiro a mais doce e às vezes a mais amarga gota de vida. E é nesse breu, neste escuro-oco d noite que procuro fadas, dragões, moinhos e...amor. Pois você me abandonou. O quer fazer para lembrar que a distãncia física não estanca a tesão? Que a distância física não diminue os sentimentos? Acho que você foi uma fantasia. Uma viagem: uma bruxa em forma de mulher cruzou meu caminho, me enfeitiçou de amor e seguiu caminhando na manhã. Foi num sábado, numa madrugada fria.
Ouço barulhos na rua. Sirenes. Passos. O vento na cara limpa. Os gatos, os cães, os ratos, as mãos que gritam por ajuda. Miséria. meu coração sofre por tudo isso e por amor. fantasio você. Ouço motores de carros e motos. Um desespero? uma saída? Olho e lembro que é carnaval. Lá fora é terça-feira de carnaval, aqui dentro destas salas e quartos que percorro como um minoutauro num labirinto também é terça-feira, mas não é carnaval. Sinto teu cheiro, escuto tua voz,não sei se é loucura ou solidão. Se a lua surgisse agora no pequeno pedaço de céu que avisto, eu choraria. Nenhum som, pertuba a visão que tenho do teu rosto. Beijo teus olhos deixando a marca do meu batom, ou do seu? Toco teu corpo e lacro tua boca com minha língua. Silencio o silêncio. Você me prende pelo olhar. Teu negro olhar, tão escuro como o fundo do poço que navego agora. A visão depende da claridade da mente. A lágrima alaga a visão. O medo ilude a mente. Cavo túneis em minha mente e te procuro em escoderijos dentro de mim. Ontem a tarde, no céu azul da cidade traçaram um risco de giz, na extremidade, uma seta metálica indicava um caminho que atravessa o horizonte. Você estaria lá do outro lado? Uma trilha. Uma luz. Uma porta. Tua voz. teus olhos... como enfrentaria a cor dos teus olhos com os meus tão opacos e cansados de me perder de você? Como me verei refletido nos teus olhos? Como a abraçarei com meu corpo molhado de lágrimas e chuva? E minhas mãos, como acariciarei seu rosto com minhas mãos lanhadas de procura-la na mata suja de outros corpos? Dói. Dói. Como a beijarei com meu hálito de vinho que toda noite inultimente bebo tentando me aquecer e te esquecer? Eu não queria encontrá-la assim...destruido. Me iludo que não consigo viver sem você porque essa ilusão é necessária para minha sobrevivência e se teu fantasma desaparecer de mim, como irei justificar uma vida vazia? Destrua minhas forças ou te devoro. Me conceda um pouco de inspiração para que esta noite possa sonhar com você. Me abraça forte e durma comigo. Alguns grãos sobrevivem e brotam mesmo depois de uma queimada, outros não sobrevivem a um sol forte do meio-dia. E eu não que não sobrevivi ao teu sol forte da meia-noite? Há carros percorrendo as avenidas noturnas. Meia-noite o sol brilhará no teu olho, mas você já não terá forças para ver a dor do meu sorriso. Por favor, troque a minha cabeça. Leva-me para correr na noite deserta de uma praia distante, leva-me até onde nunca chegaremos. Leva-me apenas. Leva-me contigo e me conte histórias antigas. Minha dor de amor se confunde com a dor de fome de um povo. Meu amor, onde está você? Não sei se ainda a amo ou se tudo é uma questão de doença. Por que não enlouqueço de vez? Parar num hospital psiquiátrico, fazer xixi para cima, morder o médico, dar gargalhadas pelos corredores, fazer do meu dedo indicador o cano de uma metralhadora e atirar a esmo, matando fantasmas.
Dormirei outra vez. Sonharei ou terei pesadelos. Mais uma vez anoitecerá e acordarei. Nem sei o que me basta. É o que acontece quando estamos fragilizados: a fragilidade nos deforma como um espelho de parque de diversões, ampliando e reduzindo-nos, fazendo de nós, de nossos sentimentos, caricaturas às vezes divertidas, outras,não. Talvez vá caminhar, jogar vídeo-game, simplesmente respirar o ar quente da noite, entrar em algum bar ou meu louco olhar percorrerá o horizonte do mar. Este você. Ouvirei a voz do mar a me chamar...A me chamar... Você me chamar. As gaivotas. A maresia. O mar...e relembrarei e verei você no mar. Não, isso não é para ser mencionado.

Um comentário:

  1. Quando a gente cria o Blog é tão triste... ninguém aparece para comentar. Veja o sucesso desse texto, agora, com platéia.

    Parabéns, Franck, você é um poeta!

    Enquanto eu estiver off, vou passear por aqui, pois aqui estou bem, estarei bem, estarei só.

    Manteremos contato assim.

    Você é um encanto de pessoa, uma alma espetacular. Graças eu dou a Deus por aquele dia em que você apareceu no meu Blog, comentando INTENSAMENTE.

    Um abraço,

    Lily/Suzana

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(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

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