terça-feira, 27 de abril de 2010

Canção de Adeus


No dia, de manhã bem cedinho, ele chegou com seu peito arfante
e um pequeno silêncio de cão
recostou-se em meu colo, abraçou minhas almofadas
recitou alguns versos que eu julgava desconhecer.
De súbito, lançou as almofadas contra as paredes da casa
olhou-me com piedade
e partiu antes que eu pudesse acenar-lhe um lenço.
À tarde ele retornou e daí o reconheci
tentei impedir que ele passasse por minhas portas
mas não pude
mais uma vez ele pousou suas asas em meu leito
se disse cansado de seus vôos
cantou-me uma ou duas canções de ninar suavemente
no que adormeci.
Então, vendo-me tão desprotegido, de olhos cerrados
em um sono profundo
abriu as venezianas e voou alto, atravessando uma nuvem branca e úmida
roubando as palavras que outrora eu tinha nos lábios.
Cai a noite e fecho portas, janelas e frestas pelas quais
ele poderia se inserir.
Tolo que sou!
Descubro-o dentro de um cinzeiro
entre cinzas de sonhos que ele mesmo queimou.
Tolo que sou!
Aninho-me entre suas asas quentes
respiro seu ar frio
enquanto ele não se vai.
Tolo que sou, desta vez, canto com ele,
sua canção de adeus
enquanto sumimos como um ponto no horizonte.

Um comentário:

  1. Frank...
    lembrou-me tantas historias
    tantas verdades
    tantas solidões.
    Parece uma cantiga
    sobretudo nessa noite
    que tantos de meus mortos
    vieram me visitar.
    Me fez um bem esse seus versos.
    Bjins entre sonhos e delírios

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