terça-feira, 19 de maio de 2015

Quando atravessei uma cidade



Atravessava a cidade para encontrar você à beira da praia. Tinha uma luz suave aquelas tardes e a praia estava sempre vazia.
Ficava em suspensão as manhãs inteiras até nossos encontros, que adentravam as noites, nas quais me contava da sua vida de viajante e eu tentava explicar a geografia da ilha, a ordem das praias, os lugares que não poderia deixar de conhecer.
Atravessava a cidade de volta para casa - tinha fôlego naqueles dias - após vermos o sol se pôr, os plânctons que cintilavam no mar e as águas-vivas. Ainda ouço sua voz me dizendo que as estrelas brilhavam mesmo depois de morrerem.
Queria ser poeta aquela época. Trancava a porta do quarto e rabiscava uns poemas para você e também algumas angústias. Meu corpo se tornou salitre e Malbec e os sons do mar continuavam durante a noite nos travesseiros como se fossem conchas coladas aos ouvidos.
Atravessava a cidade para encontrar ou deixar você naqueles dias que o céu da boca, os olhos, o corpo eram vestígios de contentamentos.

Daquele verão, apenas aquela praia, rastros de melancolia e saudades.

sábado, 9 de maio de 2015

Souvenir


Naquele tempo que fomos pontos equidistantes nas linhas retas que deveriam nos aproximar, havia sempre uma escala e uma conexão e uma turbulência e algum aeroporto.
Foi um tempo no qual fomos pontos paralelos e os voos e as rotas e os caminhos se cruzavam e por isso abandonamos os mapas com nossas localizações, nossas latitudes e longitudes e nos tornamos linhas imaginárias em algum meridiano.
Naquele tempo os astrônomos anunciaram novas estrelas, planetas, Luas duplas, alguns eclipses; mas não conseguiram identificar no portão de uma casa numa ilha do hemisfério sul, que fui o ponto mais obscuro do universo com meus cinco centímetros mais baixo que você, no dia que me dizia adeus e sumia num entardecer para algum lugar desconhecido.
Nesse outro tempo,sou um ponto brilhante e talvez os mesmos astrônomos me confundam com as luzes da cidade. De você, lembro de uma cicatriz no seu olho direito e tenho entre os guardados como souvenir a caixa preta que foi nosso amor.
(by, franck)
(imagem: net)
..pássaros exóticos sobrevoam o céu da quase noite, aves migratórias em busca do calor e da luz dos trópicos, o mesmo calor e luminosidade que me faz querer migrar também...
(by, franck)
Uma gata ronronando. Uma lista de coisas para fazer. Alguém ao telefone com frases feitas. Não sou bom com números e nem com moral de qualquer história. Tenho o desassossego dentro do bolso e um par de asas de Ícaro nesta tarde de sábado...
(by, franck)
Uma ilha assediada pelas tempestades.......................................................................................................................

A chaleira


Não sabia que eu tinha uma chaleira que avisava quando a água estava fervendo, até ontem ao resolver fazer um chá. Tenho essa chaleira a um ano, acho que não sabia como usá-la. Me assustei como o seu apito no silêncio e na penumbra da casa. Eu queria apenas um chá e deitar lendo um livro na noite quebrada com um silvo inesperado, que ecoou apenas alguns segundos, mas ficou na minha cabeça a noite inteira.
O apito da chaleira foi como se fosse uma companhia invisível; um trem passando e me chamando para embarcar...
(by, franck)

Aniversário

Sábado: levantaria cedo e veria uma revoada de pássaros, ou seriam nuvens? Escreveria haicais. Compraria bonsais. Iria à praia. Tomaria caipiroscas. Talvez um sorvete. Reclamaria do engarrafamento e das pessoas que esbarrariam em mim. Chegaria em casa. Receberia amigos e mais telefonemas. Tentaria me concentrar em vão. Responderia emails. Entraria no facebook. Comeria bobagens. Alimentaria a gata. Veria televisão. Ouviria músicas. Tomaria banho. Colocaria uma cueca samba-canção. Ligaria o ar-refrigerado. Entraria sob as cobertas. Leria páginas de um livro e pensaria que foi meu aniversário e que você não estaria aqui. Ainda ouviria pássaros antes de dormir... Por quê tem sempre alguma coisa que voa em dias de nostalgia?
(by, franck)

Ele

O perfume que você usa ainda entranhado nos lençóis... No carro, Gal Costa, baby, canta para mim a nossa música... Será que ainda vão inventar um analgésico para a saudade?
(by, franck)

Mar e rio

Ajusto as botas que nos levarão ímpares...
Uma bela vista. Um pier. Um rio preguiçoso como nossos corpos. Uma quase noite de amor e vinho. A cidade e nossos lençóis anoiteceram. Macacos não nos morderam em Vassouras, mas vimos pardais cantarem em Caburé. Não vimos lagoas azuis e sim outra geografia na linha do horizonte das dunas.
Um retorno. Nossa trilha sonora ecoando nos ouvidos e na memória. Corpos febris. Para além dos ventos do mar que não vimos, pérola que fosse, serias uma, como nossos sexos derramando nas areias.
Na impossibilidade de nos determos, queremos janeiro, deixaremos o mar com seus mistérios e buscaremos as águas doces das cachoeiras; por isso, ajusto as botas que nos levarão ímpares...
(by, franck)

terça-feira, 5 de maio de 2015

Sobre Ilhas

-Era uma vez uma ilha...
-Nenhum homem é uma ilha.
-Moro numa ilha.
-Quem você levaria para uma ilha deserta?
-Naquela ilha têm um vulcão em erupção.
-No Brasil, três capitais, são ilhas.
-Há ilhas de calor sobre a cidade.
-Existem búfalos, que acho lindos, na Ilha de Marajó.
-Passarei férias nas Ilhas Phi Phi Lek, na Tailândia, onde foi filmado 'A praia'.
-Vamos acampar na Ilha do Medo?
-A Ilha do Bananal, que fica no Tocantins, é a maior ilha fluvial do mundo.
(by, franck)
(imagem: net)

Ilha submersa

Na noite,um grito, que não coube em mim.
Âncora, suas mãos
Asas, sua voz
me acalmam
e na madrugada seus braços me resgatam do sonho-pesadelo
que na manhã cruzou as fronteiras do quarto
as distâncias, aerodinâmico.
A solidão entra pelas janelas e nossos corpos são paisagens cortando o dia
somos belezas apagadas
um símbolo do vazio.
Na tarde,torno-me uma ilha submersa
e o deserto o chama
enquanto os corvíderos trocam suas penas ao anoitecer.
(by, franck)
(imagem: net)

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

Previsões dadas...

EU...

Minha foto
São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...