sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A moça da casa à beira mar


A moça, ali, no meio da sala, sentada numa cadeira de balanço, na quase manhã. Tem os pés descalços, ela andava descalça, não se preocupava com detalhes como sapatos, gostava do prazer de sentir e estar em contato com o solo desde criança, e, agora, naquela casa, de frente para o mar, na qual morava não sabia desde quando, saia ao amanhecer e anoitecer, sentindo a água salgada nos pés, a areia, os seixos, as ondas... A moça usava um vestido vaporoso, florido; ela também gostava de roupas leves, coloridas, com flores; flores nas roupas, nos cabelos, nos vasos enfeitando a casa, no jardim que cultivava, sua pequena botânica; na qual se perdia com os cheiros, cores, sons e as visões de pássaros, borboletas, lagartas e outros desconhecidos da fauna que a visitava. A moça, na quase manhã, estava sentada naquela casa, ouvindo o barulho das ondas do mar, naquela sala aos poucos invadida pelos raios do sol, sem saber em que ano estava, ou o mês ou o dia. Olhava a parede à sua frente pintada de vermelho, nem sabia quando aquela parede mudara de cor, lembrava apenas de um azul pálido; como que música era aquela que tocava como uma cantilena, um mantra, desde sempre, naquela casa; que objetos eram aqueles espalhados por poltronas e mesas e cadeiras: lenços de seda, um guia de viagem, uma mala entreaberta, moedas estrangeiras antigas, cartas manuscritas em envelopes com bordas verde e amarelo, diários, livros, um mapa de alguma cidade desconhecida, fotos, muitas fotos, e, em todas elas, a moça sempre sorridente, mas não lembrava quando e nem onde foram tiradas, nem quem era o homem que aparecia em todas elas; não lembrava ter cruzado além das pontes da cidade que morava, se é que sempre morou, tudo era bruma para a moça. Naquela quase manhã, pensou em olhar-se no espelho, maquiar-se, trocar o vestido florido por outro, calçar sapatos; ela, que não se preocupava com esses detalhes, mas sentiu uma súbita vontade e necessidade de fazer essas coisas, como se alguém fosse adentrar a casa para tirá-la daquela letargia na qual estava inserida. Buscou as horas, mas os relógios pararam naquela sala, naquela casa; ao longe cães latiam, no jardim pássaros cantavam, o mar a chamava. Aquela quase manhã para a moça parecia sonho, livro, filme, coisas assim, por isso, ela não sabia se ainda existia.

(by, franck)

40 comentários:

  1. Que linda crônica, Franck! Quem de nós poderá dizer que nunca viveu um momento assim? Momento de inquietação ou de paz profunda da alma, ou de fuga, ou de incertezas,ou de abandono ou de solidão.Eu já fui essa moça um dia.
    Beijinhos

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  2. A narrativa é tão envolvente , que deu para visualizar cada cena.Parabéns.
    Bjux

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  3. Querido, Frankc, Tão melancólico qnt o tempo aqui nesse meu Rio, mas lindo.

    Essa sensação de não esixtência é a própria solidão.

    Bjs e boa sexta

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  4. Não consigo definir a perfeição desse texto...
    acho que envolvente não é palavra.
    É pouco. Fique tranquilo minha tristeza
    é passageira e fruto de minha insistência
    em continuar errando...
    Bom final de semana Franck.
    Beijos

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  5. Franck ,

    Confesso que fiquei entre o sonho e o real .
    Tão melancolicamente romântico e doce que
    viajei ...

    Olha que tive um dia agitado , mas te lendo, relaxei .

    Tô lá , naquela cadeira de balaço , suave , suave ...


    BjO Grandeeeee ....... :)

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  6. ERRATA:
    Relaxei tanto que comi letra , ...Rs

    Balanço*

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  7. Franck!
    Belo seu escrito... senti-me a moça... sem saber se ainda existia... ou se já chegou a existir... a atmosfera que vc criou no conto é envolvente!
    ;* Álly

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  8. é... mandou bem, hein? gostei!!

    bom fim de semana!

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  9. bonito demais esse clima de "quase-manhã"...

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  10. Adélia e vc direto no meu coração hein?
    Lindo,cabe perfeitamente no meu momento.
    Obrigada.
    Beijos

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  11. Franck, amado!

    Vi sua atualização logo que postou, corri pra ler, mas na hora H chegou gente em casa.
    E eu gosto de ler seus textos com calma, com a alma relaxada.
    Tá parecendo eu, quando vou pro mar rs.

    Sabe, que essa sensação melancólica não é tão ruim assim?
    E quando vou ao mar, vou assim:

    Descalça.
    De pés, de sentimentos, de mim mesma.

    As vezes a gente precisa tanto dessa cadeira de balanço.

    Beijo meu querido!!!

    Saudade de falar contigo!

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  12. Um conto melancólico, porém belíssimo! Existe muito dessa moça em mim, e creio que em muitas de suas leitoras... Aplausos amigo!!! Saudades... Carinhos a ti... Bjsss

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  13. Boa noite,
    li e reli o seu texto, cada palavra transporta-nos a esse lugar com minuciosidade e rigor, muito bom!


    Beijinhos,
    Ana Martins
    Ave Sem Asas

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  14. Ei Frank!
    Você tem o dom de transformar tudo em poesia e beleza!
    gd beijo

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  15. Tempo, tempo, tempo... Sim, ela existe dentro de mim... Lindo. Beijos...

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  16. ...ai, ai...estou sentindo-me um pouco desta moça...com dsaudades do mar....!
    Texto lindoooo!
    bjosssssssss

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  17. Querido Frank...

    Passando para deixar meu carinho... meu beijo... dizer que você é importante para mim.... e que gosto muito de ti!

    Lindo fim de semana...!

    Sil

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  18. Olá, querido.
    Eu dou umas sumidinhas às vezes mesmo, é que o tempo voa e nem sentimos! Mas prometo tentar ser mais presente!

    Se topar o desafio também depois me conta como foi! Eu achei cada coisa guardada, inacreditável essa mania de não se desfazer.

    Beijos!

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  19. .

    Lindo, Frank!

    Sempre um prazer te ler.

    Passagem da melancolia para a esperança... da vida que a chamava.

    Talvez essa moça esteja em mim ... sem saber se ainda existo.

    Te beijo

    .
    .

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  20. Querido Frank...

    Sua amizade e seu carinho tão tranquilo e sereno sempre acalmam meu coração!

    Obrigado pelas palavras, pelo afeto que me estende e pela companhia nesse dia!

    Lindo fim de semana!
    Deixo beijo com carinho
    Sil
    Sempre aqui

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  21. "Aquela quase manhã para a moça parecia sonho, livro, filme, coisas assim, por isso, ela não sabia se ainda existia."

    Bom sabado.
    sou essa Moça tambem,
    dentre tantas outras
    que a são, tambem sou
    essa
    e outras além dessas
    e o interessante
    é que tento,mas nunca me perco
    de mim.
    flores e cores pra ti.

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  22. Sonho ou realidade? Ficarão certamente as pegadas na areia da presença que as ondas apagarão trazendo a ausência e levando o doce viver para junto do salgado mar e assim por lá ou cá, quiçá renascer...

    Bela prosa!

    Beijinho

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  23. Franck...senti e ouvi até o barulho do mar...
    e adorei a viajem!
    Beijossssss e um lindo final de semana.

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  24. Olá sim as imagens são de casa, nada que se compare as suas palavras, obrigada pelo carinho,beijo

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  25. Ah desculpe mas quero dizer outra coisa: aqui só as plantas e eu se calhar sentimos o Outono, porque o céu ainda está azul e parte do dia ameno. Em que ilha está?

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  26. Ei!!
    Passsando pra matar as saudades de comentar.
    Porque ler eu leio...
    Lindo sabado pra nós todos.
    Bjins entre sonhos e delírios

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  27. ela sentiu..se ela continuar assim, de tanto sentir deixa de ser sonho e passa a fazer parte da vida dela [espero]
    bjos Frank, bom fds!^^

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  28. Bom dia , Franck !

    Bom te ver logo cedo ... :)

    Quantas vezes esquecemos coisas tão simples
    como o saber , o sentir .

    BjO , Carinho e que seu Sábado seja
    de sábios Quereres e céu Azul .

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  29. Bom dia Franck!!!! hoje o sol esta de rachar... ruminei, pensei, pensei.. Li 1, 2, 3 vezes... Sim, é imaginário, tudo é fantasia, tudo é criado por uma cabeça. o que eu quero dizer? Depois eu digo, Beijos!
    Ps: Ei, eu vou passar ai pela tua casa para tomar um café. Rs

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  30. bélissimo texto, narrativa envolvente, como tudo que tu escreves!

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  31. .

    Talvez me contentasse com as uvas...

    "Mas - sei, sabes, sabemos as uvas talvez custem demais a amadurecer.
    E quase não temos tempo." (Caio)

    O tempo foi extirpado ... e com ele vão-se todas as coisas.

    Deixo sorrisos... que se perpetuem eternamente.

    Te beijo

    .
    .

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  32. Nunca somos tão eternos como quando perdemos a noção do tempo...
    Mais um texto arrepiante...
    Te gosto, seu moço, o poeta dos contos maravilhosos.
    Beijokas.

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  33. Oi , Franck !

    Também não podia deixar de vir aqui
    retribuir seu carinho de sempre.

    Te deixo BjO Carinhoso e desejo uma Noite
    de Céu Estrelado ... :)

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  34. Belo conto, acho que já comentei outras vezes o mesmo por aqui...
    Beijo
    Denise

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  35. O privilégio de viver à beira mar. Tenho saudades da minha infância quando morei nas dunas. Seu conto me remeteu a este tempo.
    Boa eleição.

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  36. É sempre um enorme prazer te ler.Adoro sua riqueza de detalhes,imaginei!

    Bjos e muita pz para vc (:

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  37. Um pouco melancólico, mas muito bonito como tudo o que escreves. Um grande beijo.

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  38. Como um filme daqueles que...de tão envolventes, as cenas parecem nos pertencer!

    bj, Franck!
    =)

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