terça-feira, 19 de maio de 2015

Quando atravessei uma cidade



Atravessava a cidade para encontrar você à beira da praia. Tinha uma luz suave aquelas tardes e a praia estava sempre vazia.
Ficava em suspensão as manhãs inteiras até nossos encontros, que adentravam as noites, nas quais me contava da sua vida de viajante e eu tentava explicar a geografia da ilha, a ordem das praias, os lugares que não poderia deixar de conhecer.
Atravessava a cidade de volta para casa - tinha fôlego naqueles dias - após vermos o sol se pôr, os plânctons que cintilavam no mar e as águas-vivas. Ainda ouço sua voz me dizendo que as estrelas brilhavam mesmo depois de morrerem.
Queria ser poeta aquela época. Trancava a porta do quarto e rabiscava uns poemas para você e também algumas angústias. Meu corpo se tornou salitre e Malbec e os sons do mar continuavam durante a noite nos travesseiros como se fossem conchas coladas aos ouvidos.
Atravessava a cidade para encontrar ou deixar você naqueles dias que o céu da boca, os olhos, o corpo eram vestígios de contentamentos.

Daquele verão, apenas aquela praia, rastros de melancolia e saudades.

2 comentários:

  1. E o cheiro inesquecível que só o Mar tem...

    Saudades, Franck.

    bjo de luz

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  2. Nostalgia, saudosismo e belas palavras.
    Será isso o que sempre restará para os escritores, sonhadores?

    Espero que sim, mestre!

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(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

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Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...