As cartas envelhecem como as pessoas, ou os vinhos. Tenho várias cartas na minha casa, envelhecidas não sei de que forma, pois já há tempo não as vejo, mas que, eventualmente, reencontro e envio para você decidir se as degusta ou se apieda delas. Ou ambos.
Mas porque esse assunto agora? Porque pensei em te escrever, e pensei: porque se escreve uma carta para alguém? Ou deveria dizer para um determinado alguém, já que alguém dificilmente são iguais? Mas decidi agora: não penso mais nada. Escolho aqui do meu (que em poucos sentidos realmente me pertence) livro do Fernando Pessoa uma citação para estremear esta cartinha. Eis: "O pastor amoroso perdeu o cajado/e as ovelhas tresmelharam-se pela encosta/e, de tanto pensar, nem tocou a flauta que trouxe para tocar/Ninguém lhe apareceu ou desapareceu/nunca mais encontrou o cajado/outros praguejaram contra ele/recolheram-lhe as ovelhas/ninguém o tinha amado, afinal". (O pastor Amoroso)
Não sei porque cargas d'água (bonita expressão) queria esta carta carregada, melhor, recheada de citações. Mas o acaso - ou o destino - encarregou-se de dizer pelas letras de Fernando Pessoa aquilo que eu queria te dizer, ou não? Bem, chega destes brinquedos de decifrar, isso me lembrou aquela pessoa de Recife, lembras? Ele falou uma vez que nós estavámos 'brincando de seduzir'. Nunca mais falei com ele, ele tinha se apaixonado por mim, quase nos encontramos em Pirinópolis, mas ele disse que o telefone estava sempre ocupado (num email desesperado, sem pontuação, num fluxo meio joyceano ou pretensamente tal).
E as coisas aqui, como estão? Em processo, é o melhor que digo. A casa, meus empregos, eu, tudo em processo. Estive doente, quinze dias de licença que foram bons, para mim, ajudar-me a enxergar mais e melhor alguns dos meus processos, e, não é pela dor ou pelo sofrimento, é como se desobstruisse alguma coisa interior. Uma coisa bonita, precisa ver. Eu gostaria mesmo é saber de você, como andam suas coisas, em processo? Ou em estagnação? Quais são suas palavras para mim? São para mim, para quê? Olhos, ouvidos, boca, mente, coração? Sexo? Ele anda fiel a mim, por falar nele, lembrei dos nossos longos beijos de despedidas, onde você quase me engolia, naquele saguão meio às escuras, parece coisa de filme, lembrando assim, hoje.
Mas o que eu quero saber é de você. Diga assim que puder. O teatro? (vi você na tevê). Sua viagem? Seus dias? Suas noites?... Em alto e bom som, diga assim que puder. Beijos.
(by, franck)
..."a lua completa mais de uma volta pelo zodíaco. E o anjo pálido troca o mel pelo sal"... (Caio F. Abreu)
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(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)
Previsões dadas...
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- moça, olha só o que eu te escrevi
- Qual o seu luxo?
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- Uma tigresa, uma noite e Nara Leão...
- Bananeiras, um rio e um cavalo...
- Uma história quase verde
- A V I S O
- (Achados & Perdidos)
- Quem quer um coração?!
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EU...
- Franck
- São Luís, MA, Brazil
- Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...
Franck, me deu vontade de postar sinal fechado aqui, lendo esse texto.
ResponderExcluir– Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E
você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo...
Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das
ruas...
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa,
rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus!
– Adeus!
– Adeus!
Beijoooooooooo, querido do meu coração!!!
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ResponderExcluirPalavras de saudades, de coração doído, mas de quem viveu algo intenso, e foi bom, foi muito bom.
O bem vivido fica eterno na saudade.
... e que a resposta te venha.
Uma encantada semana pra ti.
Beijos
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Franck, amadooooooooooooooooo!
ResponderExcluirAhhhh, ontem o dia foi dedicado a familia.
Foi maravilhosoooo!
Ganhei presentes, rosas vermelhas, e muitoooooooo, mas muitooooooooooo carinho de tanta gente.
Eu sabia que eu era querida SIM, mas me emocionei esse ano.
Pelos novos amigos que fiz aqui, como você.
Presente maior, não tem.
Tá tudo bem? Saudade!
Beijooooo
O valioso processo da introspecção nos mostra a importância na reorganização dos “guardados”.
ResponderExcluirAlgumas memórias organizamos, outras descartamos, mas as mais profundas, as mais profundas mesmo, só o tempo se encarrega de ajeitar...
Enquanto isso, as vezes nos pegamos mendigando coisas que talvez já sejam só sonhos.
Sonhos sonhados, sonhos vividos...
abço
Pena que já não se escrevem cartas. Os amores eram tão mais românticos, que as vezes escrevíamos para pessoa que morava na mesma cidade, só para fazer uma surpresa. E eu que não tenho mais, nenhuma carta amarelada, as rasguei junto com minhas recordações.
ResponderExcluirObs: quem canta lindamente a música, é a Beth Carvalho.
Bjux
As cartas ou e-mails, tanto faz, me confortam, me alegram, sustentam estruturas internas que ora balançam, ora não.
ResponderExcluirUma carta pode elucidar, acalmar, fazer pensar, mesmo que de poucas palavras.
Se eu pudesse teria guardado todas e todos (e-mails), mas nem a mim mesma, eu consegui guardar com a devida forma, imagina as cartas?
As cartas de papel não ficaram, se foram. Alguns e-mails permanecem. Graças a Deus, o homem inventou o computador. Coisinha eficiente essa...
Um abraço!
eu tenho saudade das cartas...é uma forma de comunicação mais sensível afinal, alguém parou durante um tempo e nos escreveu belas palavras.
ResponderExcluireae, Franck... Existe, como tu sabes, esse lance com selos e tal, então... passa lá no Outono Morto e dá uma olhada... Abraço meu!
ResponderExcluirola, Franck,
ResponderExcluirCheguei por indicação do Faller (Outono Morto) e adorei tudo.
Bom, carta, e-mail ou qualquer sinal de fogo é sempre um carinho pra alma.
Bjinho
Adorei o que escreveu...estou grogue de sono. Por isso me falta inspiração...mas, você é inspirador. Boa semana. Beijos
ResponderExcluirSaudade de quando seu espaço lembrava as canções la no alto do link...
ResponderExcluirOnde Anda Você
Vinicius de Moraes
Composição: Toquinho / Vinicius de Moraes / Hermano Silva
E por falar em saudade onde anda você
Onde andam seus olhos que a gente não vê
Onde anda esse corpo
Que me deixou louco de tanto prazer
E por falar em beleza onde anda a canção
Que se ouvia na noite dos bares de então
Onde a gente ficava,onde a gente se amava
Em total solidão
Hoje eu saio na noite vazia
Numa boemia sem razão de ser
Na rotina dos bares,que apesar dos pesares,
Me trazem você
E por falar em paixão, em razão de viver,
Você bem que podia me aparecer
Nesses mesmos lugares, na noite, nos bares
A onde anda você?
http://www.youtube.com/watch?v=x787IgD-fQA&feature=player_embedded
Linda noite e belo dia hj em silêncio e canções
Franck, vc ultimamente está conseguindo ser misterioso e direto ao mesmo tempo... Tem alguem "na parada" né?! rsrs Adorei o texto! Mandei tantas cartas em minha vida ja e só hoje percebo o encanto que as envolvia, rs. beijao
ResponderExcluir.
ResponderExcluirFranck, gostaria de saber se esse email teu que tem aqui é válido.
Gostaria de falar contigo.
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ResponderExcluir.
Ah, Franck... (suspiros)
Essa música também foi minha trilha sonora por um tempo delicioso.
Linda mesmo a imagem, assim que vi me veio logo a lembrança dessa música.
Apesar de não ser minha, é toda tua.
Noite de doces encantos e encontros.
Beijos
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Fanck querido, amo as cartas e sempre que posso , uso-as...são mais quentinhas, mais expressivas...o tipo da letra, o tipo de caneta, enfim...este seu texto me lembrou esta música fantásticaa;
ResponderExcluir"Como vai você ?
Eu preciso saber da sua vida
Peça a alguém pra me contar sobre o seu dia
Anoiteceu e eu preciso só saber
Como vai você ?
Que já modificou a minha vida
Razão de minha paz já esquecida
Nem sei se gosto mais de mim ou de você
Vem, que a sede de te amar me faz melhor
Eu quero amanhecer ao seu redor
Preciso tanto me fazer feliz
Vem, que o tempo pode afastar nós dois
Não deixe tanta vida pra depois
Eu só preciso saber
Como vai você
Como vai você ?
Que já modificou a minha vida
Razão da minha paz já esquecida
Nem sei se gosto mais de mim ou de você
Vem, que a sede de te amar me faz melhor
Eu quero amanhecer ao seu redor
Preciso tanto me fazer feliz
Vem, que o tempo pode afastar nós dois
Não deixe tanta vida pra depois
Eu só preciso saber
Como vai você..."
eu adoro a coneção que as suas frases tem com a minha alma....
ResponderExcluir"as cartas envelheceram como as pessoas..."
parece até que elas se passam a ter a mesma idade da pessoa que deveria receber a carta....
lindo, lindo, lindo
adoro ler você.
Lindo Franck!! Adorei!
ResponderExcluirCartas são encantadoras, é mostrar pra pessoa que ela é especial... É surpreender de uma maneira mais íntima os que estão longe...
Há tanta fumaça no vento Franck, que começo a pisar em nuvens de lixívia e carvão...
ResponderExcluirHá tantas cartas que não mando Franck, que se eu juntasse tudo, faria uma canção.
Que belas e bem traçadas linhas escreves!
E a pressão não para de cair. rs
Te entendo.
Me entendes.
Você é um homem muito sensível, te admiro muitíssimo, as vezes ficar sozinho, ou em casa, em licença nos dá tempo para rever, organizar algumas coisas, cuidado com essa escavação toda, mas espero que resolva seu coração, sofrimento é sempre difícil... Adorei a citação, amo FPessoa, e adoro sua forma de escrever! Bjaooo!
ResponderExcluirGrande Fernando Pessoa, que num momento ou noutro acaba sempre por nos servir de inspiração.
ResponderExcluirCartas. Tenho saudades de as receber, ainda guardo algumas antiguinhas com muito carinho e saudosismo.
Bjs.
Engraçado, depois de tanto tempo sem passar por aqui (mais ou menos uma semana), resolver retomar a leitura deste blog justo por um texto que fala de cartas, quando nas últimas horas pensava na necessidade de escrevê-las. Pensei sobre as palavras, pensei sobre os carteiros e pensei principalmente em como será a história das pessoas de minha geração, que guardam em e-mails as palavras que deveriam estar em uma carta e que se assim estivessem, poderiam ficar guardadas por toda a história. Andei pensando que algumas palavras precisam ser ditas em cartas. Em cartas propriamente ditas.
ResponderExcluirE outra coisa que teu texto me fez refletir e até comentar agora há pouco com uma amiga aqui no trabalho, é que gosto desses textos que me deixam com uma dúvida sutil sobre quem é que realmente o escreve. Seria o autor do blog? Seria um personagem criado por esse autor? Ou será que seria uma mescla, um misto, uma junção dos dois e de tantos outros mais? Muito bacana nesse sentido, Frank. É sempre muito bom passar por aqui.
Um abraço e até as próximas palavras.