segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Qual o seu luxo?

...-"O que você pensa sobre o luxo, Richard?
-Não anseio por ele, se é o que quer saber.
-Na minha opinião, o luxo é a satisfação total e simultânea dos cinco sentidos. Estou aquecida e, se quiser, posso estender a mão e tocar a sua. Sinto o cheiro do mar e também que, dentro do hotel, alguém está fritando cebolas. Um aroma delicioso. Estou saboreando cerveja gelada e posso ouvir as gaivotas, a água batendo e o motor do barco de pesca fazendo tchuc-tchuc-tchuc, de uma forma extremamente agradável.
-E o que vê?
Ela virou a cabeça para fitá-lo, sentado ali, sentado ali com os cabelos em desalinho, usando a velha suéter e o casaco de tweed, com reforços de couro nos cotovelos e cheiro de turfa.
-Vejo você - Ele sorriu - Agora é a sua vez. Me diga qual é o seu luxo.
Ele ficou calado, penetrando o espírito do jogo, refletindo.
-Acho que talvez seja o contraste -disse-lhe por fim - Montanha e o frio cortante da neve, tudo cintilando sob um céu azul e um sol infernal. Ou estar deitado de costas, em uma rocha quente, sabendo que, a qualquer momento, quando o calor ficar insuportável, o mar profundo e frio está a apenas um metro de distância, esperando que eu mergulhe.
-E o que me diz de voltar para casa em um dia enregelante e chuvoso, sentindo frio até os ossos e poder mergulhar em uma banheira cheia de água morna?
-É uma boa pedida. Ou passar um dia em Silverstone, ensurdecido pelos carros de corridas e então, a caminho de casa, parar em alguma vasta catedral, incrivelmente bela, e entrar, apenas para ouvir o silêncio.
-Que horrível seria, ansiar por casacos de pele, Rolls-Royces e esmeraldas, tão enormes quanto vulgares. Porque de uma coisa tenho certeza: assim que possuíssemos tais artigos, eles se tornariam insignificantes, apenas por serem nossos. Então, não os quereríamos mais, não saberíamos o que fazer com eles.
-Seria uma espécie errada de luxo, sugerir que almocemos aqui?
-Não, seria maravilhoso. Eu me perguntava quando você iria fazer a sugestão. Podemos comer cebolas fritas. Esta última meia hora me deixou com água na boca."
............................................................................................................
(Diálogo de Penelope e Richard em 'Os Catadores de Conchas', Rosamunde Pilcher, Páginas 302, 303- Edt Bertrand Brasil)

PS: Obrigado Suzana, por me apresentar a saga de Penelope!

19 comentários:

  1. Absolutamente perfeito... sem tirar nem pôr.
    Vou procurar o livro amanhã mesmo.
    Sabe, Franck, tenho alguns amigos blogueiros que se não aparecem, me fazem sentir que ficou faltando algo no meu dia. Você é um deles. Preciso vir te ver e é muito importante pra mim que vc também vá lá. Afinidades... sei lá...
    Beijos.

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  2. É isso mesmo meu amigo, desejamos muito só até o momento que temos, depois perde a graça. Vai entender o ser humana.
    Bjux

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  3. Valeu a sua visita!

    Um abraço e boa semana.

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  4. Hoje sme palavras e sme olhos tambem.
    Mas passo pra deixar um bj.

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  5. gostei do texto, mas sobre o título... meu luxo é viver ;)

    bjo

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  6. Cebolas fritas! Delicia! Lindo texto!

    Beijos

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  7. Delícia reler este trecho do livro, Franck!

    Um dos livros mais belos que li! Belo porque não há luxo na confecção dele. Histórias contadas de forma simples, despretensiosa, igual à vida. Tolos os que acreditam que a felicidade está nas riquezas materiais, em tudo aquilo que se pode "ter" apenas. A autora foi extremamente feliz ao contar a história da Penélope, uma mulher tão simples que você passa a pensar que a conhece, que é a sua prima, a amiga de infância.

    Não me agradeça! O mérito é dela e seu, que comprou o livro recomendado.

    Um abraço!

    Suzana

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  8. Uau, adorei...que diálogo interessante.
    Fiquei curiosa para ler o restante.
    Beijos

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  9. Franck,

    Me abriu tb o apetite, por 2 vzs, pelas cebolas e pela vida.

    bjs

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  10. Olha, eu gostei muito do trecho, não conheço o livro (bem fiquei curiosa rs), mas adoro 'conversa poética' entre você a a Suzana! Acho o máximo!
    Beijo grande!

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  11. A grande disputa do Ter ou Ser.
    Pena que levemos quase a metade da vida para percebemos a importancia do Ser
    O livro é lindo, me deu vontade de rele-lo.
    Ja estou vasculhando a casa a sua procura.
    Um grande abraço.

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  12. Meu luxo particular: chegar em casa cansada, apagar todas as luzes e deitar em minha poltrona reclinável, ouvindo a respiração do tempo passar...

    Obrigada por me pôr em sua balança. Beijos.

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  13. Luxo para mim,é estar com o coração inteiro,estar
    feliz.


    :)

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  14. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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  15. Que delícia estar nessa banheira! Adorei os sentidos desse trecho, mas não consigo pensar em algo para ser meu luxo... me contento com as coisas simples e não tão naturais, como música ou perfumes... bjaooo!

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  16. Meu LUXO é VIVERRRRRRRR tbm!!

    Quanto as palavras da Mariana, faço as minhas tbm.

    Beijoooooooo meu queridãooooooo!!!

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  17. Foi retirado de um livro? Agora me deu vontade de ler rsrs Que sensacional isso! Que descriçao mais "fragil" e ousada e completa sobre o Luxo! Amei mesmo =) Belo post Franck, belo post ;*

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  18. Ótima ideia de postar um trecho do livro, eu já li Os Catadores de Conchas, mas foi um prazer reler tal trecho.

    BeijooO*

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  19. Um dos luxos q não abro mão: ser eu mesma... ir e vir. Vir aqui, inclusive. rs

    ah! Franck, realmente não tenho postado mto no blog. Tenho me dedicado mais ao projeto de um livro q pretendo lançar. Mas sempre q posso, venho aqui. Gosto mto!

    bjo
    da
    LizA

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