...-"O que você pensa sobre o luxo, Richard?
-Não anseio por ele, se é o que quer saber.
-Na minha opinião, o luxo é a satisfação total e simultânea dos cinco sentidos. Estou aquecida e, se quiser, posso estender a mão e tocar a sua. Sinto o cheiro do mar e também que, dentro do hotel, alguém está fritando cebolas. Um aroma delicioso. Estou saboreando cerveja gelada e posso ouvir as gaivotas, a água batendo e o motor do barco de pesca fazendo tchuc-tchuc-tchuc, de uma forma extremamente agradável.
-E o que vê?
Ela virou a cabeça para fitá-lo, sentado ali, sentado ali com os cabelos em desalinho, usando a velha suéter e o casaco de tweed, com reforços de couro nos cotovelos e cheiro de turfa.
-Vejo você - Ele sorriu - Agora é a sua vez. Me diga qual é o seu luxo.
Ele ficou calado, penetrando o espírito do jogo, refletindo.
-Acho que talvez seja o contraste -disse-lhe por fim - Montanha e o frio cortante da neve, tudo cintilando sob um céu azul e um sol infernal. Ou estar deitado de costas, em uma rocha quente, sabendo que, a qualquer momento, quando o calor ficar insuportável, o mar profundo e frio está a apenas um metro de distância, esperando que eu mergulhe.
-E o que me diz de voltar para casa em um dia enregelante e chuvoso, sentindo frio até os ossos e poder mergulhar em uma banheira cheia de água morna?
-É uma boa pedida. Ou passar um dia em Silverstone, ensurdecido pelos carros de corridas e então, a caminho de casa, parar em alguma vasta catedral, incrivelmente bela, e entrar, apenas para ouvir o silêncio.
-Que horrível seria, ansiar por casacos de pele, Rolls-Royces e esmeraldas, tão enormes quanto vulgares. Porque de uma coisa tenho certeza: assim que possuíssemos tais artigos, eles se tornariam insignificantes, apenas por serem nossos. Então, não os quereríamos mais, não saberíamos o que fazer com eles.
-Seria uma espécie errada de luxo, sugerir que almocemos aqui?
-Não, seria maravilhoso. Eu me perguntava quando você iria fazer a sugestão. Podemos comer cebolas fritas. Esta última meia hora me deixou com água na boca."
............................................................................................................
(Diálogo de Penelope e Richard em 'Os Catadores de Conchas', Rosamunde Pilcher, Páginas 302, 303- Edt Bertrand Brasil)
PS: Obrigado Suzana, por me apresentar a saga de Penelope!
..."a lua completa mais de uma volta pelo zodíaco. E o anjo pálido troca o mel pelo sal"... (Caio F. Abreu)
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- Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...
Absolutamente perfeito... sem tirar nem pôr.
ResponderExcluirVou procurar o livro amanhã mesmo.
Sabe, Franck, tenho alguns amigos blogueiros que se não aparecem, me fazem sentir que ficou faltando algo no meu dia. Você é um deles. Preciso vir te ver e é muito importante pra mim que vc também vá lá. Afinidades... sei lá...
Beijos.
É isso mesmo meu amigo, desejamos muito só até o momento que temos, depois perde a graça. Vai entender o ser humana.
ResponderExcluirBjux
Valeu a sua visita!
ResponderExcluirUm abraço e boa semana.
Hoje sme palavras e sme olhos tambem.
ResponderExcluirMas passo pra deixar um bj.
gostei do texto, mas sobre o título... meu luxo é viver ;)
ResponderExcluirbjo
Cebolas fritas! Delicia! Lindo texto!
ResponderExcluirBeijos
Delícia reler este trecho do livro, Franck!
ResponderExcluirUm dos livros mais belos que li! Belo porque não há luxo na confecção dele. Histórias contadas de forma simples, despretensiosa, igual à vida. Tolos os que acreditam que a felicidade está nas riquezas materiais, em tudo aquilo que se pode "ter" apenas. A autora foi extremamente feliz ao contar a história da Penélope, uma mulher tão simples que você passa a pensar que a conhece, que é a sua prima, a amiga de infância.
Não me agradeça! O mérito é dela e seu, que comprou o livro recomendado.
Um abraço!
Suzana
Uau, adorei...que diálogo interessante.
ResponderExcluirFiquei curiosa para ler o restante.
Beijos
Franck,
ResponderExcluirMe abriu tb o apetite, por 2 vzs, pelas cebolas e pela vida.
bjs
Olha, eu gostei muito do trecho, não conheço o livro (bem fiquei curiosa rs), mas adoro 'conversa poética' entre você a a Suzana! Acho o máximo!
ResponderExcluirBeijo grande!
A grande disputa do Ter ou Ser.
ResponderExcluirPena que levemos quase a metade da vida para percebemos a importancia do Ser
O livro é lindo, me deu vontade de rele-lo.
Ja estou vasculhando a casa a sua procura.
Um grande abraço.
Meu luxo particular: chegar em casa cansada, apagar todas as luzes e deitar em minha poltrona reclinável, ouvindo a respiração do tempo passar...
ResponderExcluirObrigada por me pôr em sua balança. Beijos.
Luxo para mim,é estar com o coração inteiro,estar
ResponderExcluirfeliz.
:)
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ResponderExcluirQue delícia estar nessa banheira! Adorei os sentidos desse trecho, mas não consigo pensar em algo para ser meu luxo... me contento com as coisas simples e não tão naturais, como música ou perfumes... bjaooo!
ResponderExcluirMeu LUXO é VIVERRRRRRRR tbm!!
ResponderExcluirQuanto as palavras da Mariana, faço as minhas tbm.
Beijoooooooo meu queridãooooooo!!!
Foi retirado de um livro? Agora me deu vontade de ler rsrs Que sensacional isso! Que descriçao mais "fragil" e ousada e completa sobre o Luxo! Amei mesmo =) Belo post Franck, belo post ;*
ResponderExcluirÓtima ideia de postar um trecho do livro, eu já li Os Catadores de Conchas, mas foi um prazer reler tal trecho.
ResponderExcluirBeijooO*
Um dos luxos q não abro mão: ser eu mesma... ir e vir. Vir aqui, inclusive. rs
ResponderExcluirah! Franck, realmente não tenho postado mto no blog. Tenho me dedicado mais ao projeto de um livro q pretendo lançar. Mas sempre q posso, venho aqui. Gosto mto!
bjo
da
LizA