domingo, 8 de agosto de 2010

(Achados & perdidos nas gavetas)

Chove. Por dois dias as águas das chuvas caem sobre essa Ilha. São Luís como todo o Nordeste, é uma cidade sem baixas temperaturas, quente o ano todo, isso para mim é perfeito por um lado, para trabalhar, por exemplo, pois odeio acordar nas manhãs frias; e acordar para mim é não ter nenhuma atividade particular prevista quando me levantar da cama, talvez escovar primeiro os dentes, talvez resolver fumar um cigarro, ou mesmo ouvir um pouco de música. Às vezes, enfim, espreguiçar-me demoradamente sob os lençóis, pegar o telefone e ligar para alguém , escolhido ao acaso, pode ser quqlquer um, simplesmente para poder ouvir alguma voz lhe dar bom-dia. Por outro lado, se você não tem noites como esta que te escrevo, você perderia a chance de, melaconlicamente, tiritar de frio e esperar, de forma também melancólica, senão quixotesca ou borgeana (só o tempo dirá), a pessoa que viria te abrigar deste frio e que compartilharia contigo o que você tem a oferecer, no meu caso, nesta casa suja, porém dedetizada: torradas com maionese de tomates secos, biscoitos água-e-sal, chá-mate com limão e a sensação de se ser um refugiado na segunda guerra numa casa com jornais, revistas e roupas espalhadas por cama, sofá e chão, ainda que em pleno Brasil, Nordeste, São Luís, Maranhão, Vivendas do Turú, mas longínquo de você...
E eu penso em Satie, Eric Satie, o compositor francês e sua frugalidade: só quando ele morreu seus amigos descobriram onde ele morava, num quarto pequeno com uma cadeira, uma cama, uma escrivaninha e um guarda-roupas com doze ternos, chapéus e sapatos absolutamente iguais entre si. Identifico-me com Modigliani, seu amigo romeno que, com seus quadros sob o braço (não que eu seja artista), percorria as galerias de París em busca de compradores; sou um Modigliani só e por isso muitas vezes definho, muitas vezes anseio por este intermediador entre o mundo e eu, para que eu não estilhace, como o Licenciado Vidreira das 'Novelas Exemplares' de Cervantes, que se julgava de vidro e dormia entre montes de feno no inverno por ser mais seguro; terminei-o de ler estes dias, não sem sentir uma certa solidão, os livros tem sido fiéis companheiros, um pouco mais do que sempre foram.
A tevê ligada sem som e no som a voz de Zeca Baleiro, sua voz grave diz para irmos para 'Babylon', será que 'Babylon' não seja São Luís? Estou tentando ser feliz no meu cotidiano. Lamento profundamente todo o tempo que passei chorando na janela. Tenho ido ao cinema, a bucólica Alcântara, andado nas ladeiras dessa cidade, olhado o bater das ondas... enquanto o sol gira, enquanto Baleiro diz que a vida é um souvenir made-in-Hong Kong.
Você sabia que quando o universo entra em coma, os amantes ficam infelizes? As rosas tem espinhos, o amor também. E o amor são esses olhares, esses gestos, esses odores que enviamos sem poder reprimi-los, para que lembremos um do outro. Há pessoas que se atraem e ao mesmo tempo se temem, elas se percebem rapidamente no meio da multidão. Tenho lido muito sobre feng shui, encantado com as mil possibilidades de se energizar uma casa. Quero aprender tarô. Estou mais centrado. Mais introspectivo. Quero algo zen, manso e sem peso, meio auto-conhecimento.
E continua chovendo nessa cidade, como posso escrever sem o encanto do sol? Meu telefone toca. Nunca serei um escritor profissional. Talvez tenha nova inspiração, talvez os dias permaneçam iguais. Não tem importância. E a chuva parece os andamentos, as intensidades de uma sinfonia de gotas, acho um desrespeito à música das nuvens ficar escrevendo aqui e nem dar ouvidos a isto, talvez por isso a intensidade maior. Quem sabe possamos ouvir juntos esta música, breve? Se não, quando chover aí, numa noite silenciosa, essa será a nossa música, que tocará em alguma parte do mundo, e, quando em quando, para ouvidos gratos como os nossos.
(by, franck)

18 comentários:

  1. Interessante, se assim devo definir! ...

    Gostei do texto, tem paixão pela escrita... pela musica! isso sempre chama minha atenção...

    resolvi aparecer aqui pq acompanho o blog da Leticia Gomes de perto, e acho que voce tambem.

    bom, não foi tempo perdido
    Parabéns..

    e fik a dik, "Como pode o peixe vivo viver fora d'agua fria" é do Guerra Peixe, E la em cima ta fazendo referencia ao Milton...
    spero que seja de alguma ajuda

    obs: mais pessoas deveriam ouvir o que voce escuta!

    um Abraço..

    ResponderExcluir
  2. Me emocionou, seu moço... li muitas vezes para me sentir aí bem perto, ouvir os sons que vc ouve e sentir essa solidão de livro que ninguém folheia... me emocionou muito... quem dera os olhos certos lessem as palavras lindas que vc escreveu... quem dera essa tristeza acabasse em folia de reencontro ansiado.
    Te gosto.
    Que tua semana seja surpreendente bela.
    Beijos.

    ResponderExcluir
  3. Franck.

    Senta aqui. Comigo.

    Vamos ficar vendo a chuva, falando de coisas bucólicas, que a chuva traz.
    Eu não suporto dias frios,também.
    Me serve torradas com maionese de tomates secos, biscoitos água-e-sal, chá-mate com limão , até o sono chegar.
    Aliviados de termos colocado pra fora, aquilo que nos deixava com uma certa amargura.
    Senta aqui, Franck.
    E quando você se sentir BEM, e passar essa chuva, o sol se abrir, eu me vou.
    Até te ver Bem.

    Como a gente pode amar assim, em tão poucos dias uma pessoa?
    Como, Deus pode atender nosso chamado, quando a gente pede que apareça um ser humano, que traga todas as cores do mundo pra nossa vida?
    Me diz Franck!
    Pois assim é você.

    Sou a pessoa mais feliz do mundo, em ter encontrado um amigo como você.

    Amo-te!

    ResponderExcluir
  4. Tão bonito, Franck!

    Um texto tão bom de se ler! Leve, manso... me trouxe paz.

    Um abraço!

    ResponderExcluir
  5. Ah, Franck, queria mesmo morar onde tem sol todo dia, sem essa chuva e esse frio que acinzentam a minha alma. Sempre fico assim no inverno. Queria o colorido da paisagem e o calor no corpo... foi isso que senti ao ler seu texto, um aconchego necessário.
    Beijos!

    ResponderExcluir
  6. Franck.. adoro essa propsota de seu blog
    de associar musica ao texto.
    Fica gostoso ler pensando ou ouvindo
    o que sugere.
    E engraçado que amo Zeca Baleiro
    e essa musica é uma das
    minhas preferidas.
    Linda semana pra nós, com sol ou com chuva, com amor ou sem amor
    mas bem como a gente,
    pois é o que importa.
    E bem conosco alimentamos nossa estima e assim seguimos fortes pra enfrentar
    as batalhas da semana,que são muitas.
    Te adoro
    Bjins entre sonhos e delírios

    ResponderExcluir
  7. Bom dia Franck! Ontem, eu estava na cama, á noite e ouvi um barulho estranho.... quando dei conta, era o barulho da chuva! Ainda bem que choveu um pouco por aqui. Mas hoje, está sol outra vez, mas penso que mais fresco. abraço

    ResponderExcluir
  8. Olá meu amigo.
    Prefiro o frio, o calor me cansa e me deixa nervoso. O frio é romântico e sempre convida ao amor.
    Bjux

    ResponderExcluir
  9. Tocante. É impossível não se identificar em nenhuma frase sequer. Mas concordo com o Wanderley, faço das palavras dele as minhas.
    Beijos

    ResponderExcluir
  10. Belo texto Franck! Dias de chuva, dias de sol, dias de calor ou dias de frio...o importante é saber aproveitar cada segundo.


    Bom dia!

    ResponderExcluir
  11. Encantei-mei à primeira vista por seutexto, sua vida e sua alma grande, fico muito feliz por saber existir pessoas como você.

    BeijooO*

    ResponderExcluir
  12. Ohhh meu amigo, suas palavras exercem um efeito interessante sobre mim. Aprecio o clima quente, embora esteja morando numa das cidades mais frias da Bahia, minha cidade natal é relamente quente.Quisera puder lhe visitar, para juntos ouvirmos Baleiro ou Lenine e comermos biscoitos entre um papo e outro.Tenha uma excelente semana.Beijos

    ResponderExcluir
  13. O frio realmente só faz sentido quando estamos acompanhados rs, mas a chuva, as cores, o sol, realmente nos inspiram mais quando estamos sozinhos, adorei o texto, me identifiquei com ele, apesar de procurar por cia, sempre e sempre, mas investir em si mesmo é sempre bom, preciso de cias como a dos livros... Bjoo!!

    ResponderExcluir
  14. Franck, que delicia receber um comentário como o seu.
    Um comentário, um email, um recado no Orkut (Adorooo as coisas que vc manda), e até os papos pelo msn (Ando ausente dali - tempo).

    Não passo dessa vida, sem ter a chance de te conhecer um dia meu amigo, no real.
    Não imagino mais meus dias sem esse seu carinho Franck.
    E vamos tomar chá, ver a lua, o sol, andar na cidade, falar da vida, ouvir Ceumar, Zeca, Bathânia, tudo que tivermos direito.
    Boa aula, meu querido, já que vai pra escola.

    Não esquece Franck:
    Te amo!

    Obrigada por existir assim na minha vida.
    (Benditaaaaaaaaa Suzana rs).

    Beijoooooooooo

    ResponderExcluir
  15. é bom demais passar por aqui, sabia?beijos e ótima semana!

    Bia

    ResponderExcluir
  16. Levante, tome um banho, faça um chá quentinho, sente próximo a janela e ouça a melodia da chuva.
    Curta esse momento de reflexão, de música, imagens e poesia. Abra o coração, sorria, e se necessário, chore também.
    Beijo, meu amigo!

    ResponderExcluir
  17. Seu menino, me deixou boquiaberta com essas linhas tão bem descritas, que texto mágico, li várias vezes acredita?! Queria sentir ele bem perto de mim. Nossa...
    a Chuva, a música, os sentimento, o Zeca, São Luis, tão perfeito!
    Eu não poderia dormir sem ler isso aqui.

    Te abraço forte .

    ResponderExcluir

(Quem dá a volta ao zodíaco comigo...)

Previsões dadas...

EU...

Minha foto
São Luís, MA, Brazil
Um brasileiro-nordestino, um cara comum, qlq um, como diria Caetano Veloso...