quarta-feira, 23 de junho de 2010

..."agora,me sinto uma bolha opaca de sabão, suspensa ali no centro da sala"... (Caio Fernando Abreu)



Quando ela me deixou ...




Quando ela me deixou, fiquei ali no meio da sala com o bilhete dela nas mãos, num fim de tarde de uma sexta-feira, pensando que teria um final de semana inteiro para deglutir sua ausência, tentar esquecer seus cheiros, sua voz, suas risadas vinda das salas e quartos, assim como sua imagem regando as flores, seus pés descalços, seu corpo tentando se esquivar de alguma onda nas manhãs de domingo quando fazíamos nossos passeios pela praia, após nossas pedaladas de bike na orla.
Quando ela me deixou, fiquei ali no meio da sala, com os raios dourados do Sol entrando pelas janelas, naquela quase noite de sexta, pensando que precisaria esconder porta-retratos com nossa felicidade estampada, jogá-los ao mar, como flores para Iemanjá. Trocar urgente os lençóis da cama com nossas marcas. Tirar do aparelho de som os cds com as nossas trilhas sonoras, para parar de me doer com tantas lembranças e saudades as quais já sentia, para parar de me doer como as letras vermelhas do seu bilhete nas mãos, que queimavam, dizendo que ela decidiu ir embora.
Por que se decide ir embora? Pensei sentando-me no sofá que assistíamos filmes, televisão e que tantas e tantas vezes namoramos. Achei que decisões como aquela não são tomadas assim, com um bilhete em letras vermelhas, sem brigas, sem discussões, após um ano de cotidiano...ou foi justamente o cotidiano que fez ela tomar a decisão?
Quando ela me deixou, sentado no sofá bege, num canto da sala, com a luz lilás de néon do prédio a piscar, fiquei imaginando que mares ela iria navegar, com quem viveria outras delicadezas, o que faria em tantos outros fins de semana que viriam, com nossa ausência. Fui até o aparelho de som, na sala ecoou um blues na voz de Nina Simone e sem tirar as roupas, cansado, deitei no sofá, naquela sala escura, jogando suas letras vermelhas pela janela, amassadas, ao vento, quando ela me deixou, naquela longínqua sexta-feira. E chorei.
(by, franck)

27 comentários:

  1. Muito bom Franck!
    Montei um filme na minha cabeça com essa sequencia. Vi o bilhetinho cair na calçada e outra pessoa pegou esse bilhete, mas deixou para ler em casa.
    Muito bom, muito bom seu eu lírico!!!! rs

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  2. Oi, Franck! O SE EU FOSSE... está publicado no MEDO DE SUZANA. Ontem, por distração, fiz duas publicações no mesmo Blog, e eu gosto que seja uma por dia em cada um.
    O SE EU FOSSE... é uma brincadeira antiga que gosto de fazer.
    Voltarei mais à noite para ler o texto de hoje, vou sair agora... e gosto de ler com calma.
    Bjs.

    P.S.: eu não sei se você sabe, mas tenho dois Blogs. O endereço está lá em Contos de Lily.

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  3. Visualizei tudo em minha mente...é uma pena que as pessoas se vão, sem se importar, sem se declarar...e nos deixa vaziooos.

    Adoreiii o post...concerteza ela ñ o conhecia o suficiente quando o deixouuu...rs!

    Obrigada pelas visitas...haaa, aquele post: acho que vc ñ viu nada parecido antes...rs!

    Blogbeijooos, Sophia mandou lembranças!

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  4. Como vai, meu amigo?
    Andando pelos sebos da vida, encontrei e comprei "Triângulo das Águas". Agora, é ler!

    Abraços desta terra gelada!

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  5. Querido Franck, fazia algum tempo que não o visitava, mas a cada visita é sempre uma sensação de conforto e bem-estar :)

    Beijinhos*

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  6. Olá menino
    Hoje também postei Caio Fernando. Adoro.
    Bjux

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  7. Wanderley, o texto é meu, só a citação é de Caio, que fique claro! Bj!

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  8. O que não tira nenhum mérito do texto. O problema é que a citação precedeu ao texto que vc não assina, me confundiu. Ficarei mais atento a isto.
    Bjux

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  9. Franck!
    Que delcia de texto...
    vi,senti, caminhei,
    me senti nele e chorei...
    alias choro ainda.
    Se ficção ou vida real,nunca importa.Porque
    Clarice diz :Ou Toca ou não Toca.
    Me vi tres vezes:
    a que vai embora.
    a que fica .
    E a que assiste a cena.
    Confesso que hj lembrei de alguem que me deixou,
    lembra?
    Hj a saudade quase me fez
    cometer um erro.
    Ainda bem que quase me trouxe de volta pra razão.

    Não lembro de ter lido na seu nessa linha.
    Depois vou perguntar aogo sobre o texto,
    mas no email.
    Que delícia ter vindo aqui nesse fim de noite.
    Te adoro
    Bjins entre sonhos e delírios

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  10. Viajei no texto, tem um grau de realidade como se você tivesse vivido.
    Gostei das mudanças do blog, ficou lindo.
    Abraços Franck

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  11. Se for ficção, pode-se falar que é realidade. Eu queria muito saber descrever abandonos, mas me agarro apenas ao detalhe da perda e me esqueço que havia o cenário, aquele cenário que a gente não esquece, feito "sentado no sofá bege, num canto da sala, com a luz lilás de néon do prédio a piscar..." Quem vai se esquecer da luz piscando?
    Se for ficção, o sofá bege, num canto da sala, diz tudo o que precisa para descrever a perda. Metáforas...adoro! Sofá bege.

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  12. Quando alguém me deixa, me dá o direito de leve convergência, de vento como norte, de recomeço por pura sorte. quando alguém te deixar, não tente fazer nada, seja forte e rejeite, um abraço punhal, um abraço da morte, ou coincidência com isto.

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  13. Este comentário foi removido pelo autor.

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  14. Este comentário foi removido pelo autor.

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  15. "Quando Você me deixou meu bem, disse-me para ser feliz e passar bem, quis morrer de ciúmes, quase enlouqueci, mais depois como era de costume obedeci".

    Ler esse texto escutando Bethânia Olhos nos Olhos

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  16. vim mascar um chiclete com vc, adoro esse teu cantim. bj, xico

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  17. ...a dor nos faz poetas ou filósofos.

    neste teu momento fostes lírico.

    que lindo isso!

    bjbj

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  18. Bom dia.

    Que lindo e triste... viajei no episódio, como se estivesse no cantinho da sala, sentindo de perto a sua dor. Parabéns!

    Um grande abraço.

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  19. Grande texto.Parabens amigo,Franck.
    Solidão e saudade estão fazendo parte da minha rotina.É tão ruim ter a pessoa amada longe da gente.
    Dói,e como dói sentir essa ausência.
    Um abraçooo!

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  20. Imagem perfeita, prefiro sempre viver o hoje... e esquecer os verbos do ontem. Dos sentimentos sublimes, a saudade dói mais, não é?

    BeijooO*

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  21. É mesmo muito difícil entender certas coisas.
    Adorei o texto Franck!

    Abraço!

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  22. uau . muito bom .
    me arrepiou! parabens
    estou seguindo-o, ok?
    =D

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  23. Que bom vir aki :D
    Tava sumida neh?A correria dos estudos.
    Caio Fernando :D E esse teu texto tah maravilhoso,lembrei o meu da rosa.
    Ai esse povo q fik nos deixando neh?
    auhshas
    :*

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  24. Gostei muito do seu texto, Franck. Deverias escrever mais destes. (nossa, como se fosse fácil.) enfim, consegui me identificar no seu texto, e gosto disso.
    Aviso-te que voltei a postar no meu silêncio. Eu, simplesmente, não consigo ficar sem ler e comentar os blogs do pessoal. o seu.
    Muita paz, bom final de semana.

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